Medicina Popular Brasileira (5)


        "A medicina é a arte de imitar os processos curativos da Natureza"
                                         HIPÓCRATES (460 a.C - 380 a.C.)

     Para que se possa entender, de maneira menos preconceituosa, a prática médica popular exercida profissionalmente pelo curandeiro e, eventualmente, pelas pessoas em geral, que também, se apropriam dos seus conhecimentos e que passam a difundi-los, tratando de parentes e amigos, ensinando aqui e ali, consolidando enfim uma medicina legítima do ponto de vista social, devemos analisá-la de um ponto de vista científico.
     Ainda que esteja permeada de riscos e erros, às vezes grosseiros, devido principalmente à falta de auxílio dos próprios cientistas e dos médicos em particular, que se negam terminantemente a aceitar qualquer validade científica em tal prática, a medicina popular constitui o resultado de uma preocupação de cunho humanista, de aliviar o sofrimento humano, isto é, a atividade do curandeiro e de seus usuários, decorre de uma vocação médica de uma constante observação da ação farmaco-dinâmica das infusões de plantas e de outras substâncias naturais do corpo humano. E isso não se obtém misticamente ou espiritualmente, como se pensa. Tal conhecimento decorre de uma real experimentação através dos séculos realizadas anonimamente por médicos em potencial, que nunca almejaram vaidosamente o reconhecimento acadêmico, comportamento típico dos profissionais liberais.
     Pode-se, portanto, encontrar no discurso de um curandeiro conhecimentos preciosos a respeito de plantas de efeitos medicinais maravilhosos, que em certos casos suplantam os medicamentos de farmácia, perigosos e às vezes causadores de efeitos colaterais danosos ao paciente.
     Assim, é necessário mais do que nunca respeitar tal medicina, estudá-la detidamente, para que possamos desenvolvê-la no sentido de uma fitoterapia científica, que poderia educar o curandeiro e ajudá-lo no sentido de aumentar a eficácia de sua terapêutica, ensinando-lhe a ser mais rigoroso na classificação das plantas e na compreensão mais profunda da ação dos vegetais no corpo humano.

                                 Terapêutica Popular

     * Diabetes Melitus - o diabetes é uma moléstia da nutrição, ou seja, um distúrbio do metabolismo dos açúcares.
     Causa: ingestão excessiva e assimilação insuficiente de hidratos de carbono, condição esta que acarreta o esgotamento das glândulas secretoras de insulina, do pâncreas, encarregada da combustão do açúcar no organismo. A vida sedentária e o alcoolismo favorecem o aparecimento da enfermidade. 
     Sintomas: Açúcar no sangue, com ou sem apresentação de açúcar na urina, fome excessiva, muita sede, urinação freqüente, emagrecimento, fraqueza, pruridos, furúnculos em série.
     Medicação: Existem algumas plantas que as pessoas consideram como curativas do diabetes melitus ou que reduzem a quantidade de açúcar no sangue, principalmente se a moléstia estiver no início:

     - pata de vaca (Bauhinia forficata): árvore de 6 a 9 metros de altura, dotada de espinhos recurvados e folhas profundamente fendidas. Flores brancas. Vagens grandes e acuminadas. Uso interno: as folhas em infusão. Tomar várias vezes ao dia.
     - jambolão ou jamelão (Syzygium jambolanum): árvore grande, folhas inteiras e brilhantes. Frutos roxo-negros alongados, semelhantes à azeitona. Frutifica em fevereiro. Uso interno: toma- se 1g das sementes, pulverizadas, duas ou três vezes ao dia.
     - Conselhos: evitar os alimentos açucarados ou à base de amiláceos. Adotar alimentação à base de hortaliças e frutas cruas.

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1) Publicado no Correio do Sul de Varginha (MG) em 01/02/1990.
2) Publicado no jornal Folha de Magé de Magé (RJ), em 23/11/1979.