ÉTICA, O DIFÍCIL DESAFIO DUM RESGATE

A semana que se findou já se iniciava na imprensa com a divulgação do "novo" CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA, alíás, amplamente discutido pela sociedade leiga, sob os holofotes da telas hegemônicas que sempre nortearam o rumo do país.

Um assunto deveras sagrado, posto que ética deveria estar presente em tudo e SOBRETUDO, em TODOS.

O referido código, pelo que li, em verdade de "novo" mesmo não tem muita coisa, parece mais velho que andar para frente, mas como a sociedade acredita que também avança, convém que ética alguma caminhe para trás, se é que se possa conceituar ética no tempo e no espaço, aliás, diferentemente da moral e dos costumes, ética é conceitual e filosoficamente algo mais pétreo, que atinge a essência do ser humano naquilo que temos de melhor.

É quase um "sentimento intrínseco", nato, intuitivo e aderido ao ser .

Porém, as acomodações do código se fizeram necessárias frente às mudanças a toque de caixa que a sociedade agregou no seu funcionamento, e que tanto atinge o "funcionamento" ético entre as pessoas, num todo geral.

Aqui pelo nosso país, antes de mais nada, é preciso que se resgate a etmologia da palavra ética, pelos que estão politicamente preocupados com o seu resgate.

Acredito que enquanto "seres cidadãos", pertencentes às comunidades civilmente organizadas, não nos basta que os códigos sejam eles profissionais, sociais, políticos, ou lá quais forem, figurem apenas nas letras e nos papéis.

Costumo dizer que quando se tem que escrever e rever e declamar nos palanques os códigos, estatutos e leis, é porque estamos aquém de nos constituir como sociedade eticamente organizada.

Conceituar ética não é tarefa fácil nos dias de hoje e fazer com que seus códigos sejam cumpridos na íntegra também nem sempre depende apenas de quem tem o dever objetivo de cumprí-los no seu exercício profissional.

Eu explico: a ética é universal, e se persarmos, por exemplo, em ética na política, inclusive por parte dos que organizam, administram e têm o dever de fazer com os sistemas sociais aconteçam, por exemplo, o complexo sistema da saúde, chego a ficar arrepiada.

Vamos falar de saúde pública e não preciso eu falar aqui solitariamente.

Basta se ser brasileiro para saber que a saúde pública atravessa momentos difíceis, talvez "nunca antes vistos nesse país".

Ocorre que colocar a culpa no código de ética médica quando algo não funciona na saúde, ou lançar tal mensagem subliminar à sociedade, me parece simplista demais, e o tiro pode sair pela culatra social...e política.

Em muito serviços públicos faltam médicos e paramédicos, de fato algo mais que público e notório, mas não por falta do médico e profissionais 'em serviço" como se pretende jogar na mídia, mas por falta absoluta dos profissionais, simplesmente por não haver política eficiente que efetive o profissional no serviço com condições mínimas para o trabalho...O QUE INTERFERE DIRETAMENTE NO EXERCÍCIO DA ÉTICA.

Fiz-me entender?

Em muitos locais falta tudo, inclusive o mínimo!

Porém, nessa hora não se fala que a falta dum sistema organizado, que cumpra com sua finalidade, também é antiético.

Não há mais a antiga preocupação com concursos para que se contrate profissionais capacitados para os devidos cargos públicos.

Hoje a saúde pública no Brasil é moeda de troca, claramente utilizada nos palanques dos políticos,aliás, cuja ética ultimamente nenhum dos mais perfeitos códigos resolveria.

O movimento das "Organizações Sociais" espalhadas pelo país, talvez exemplifique a terceirização" MASCARADA DA SAÚDE PÚBLICA, amparada, dizem, por leis escritas. Ético ou antiético?

A essa pergunta a sociedade como um todo deveria estar apta a responder.

Acho que precisaríamos, sim, abrir nossos olhos para alguns movimentos de mídia cujos interesses nem sempre nos são muito claros.

Ampliar a visão para o todo.

Quem acredita que está totalmente amparado com Seguros- Saúde ou com a qualificada "medicina de grupo" oferecida por seus convênios, não tardará a perceber que também sofrerá inúmeras dificuldades, porque se o público está sucateado, o privado também requer mais leitos e serviços.

A exemplo do que ocorre, faltam leitos nas grande capitais, mesmo em hospitais de ponta.

Portanto o resgate da ética na medicina passa por vários segmentos sociais e não apenas pela vontade do médico, muitas vezes desumanamente locado e "largado" a trabalhar aonde as próprias condições são indignas à qualquer pessoa, sejam profissionais ou pacientes.

Ética, antes de tudo, passa por educação, por cidadania, por condições de trabalho e por honestas respostas das atuações políticas para as quais elegemos os nossos representantes.

Um grande desafio de resgate a ser lançado para as próximas gerações.