A DOR

A DOR

Em 1983 corria na Meia Maratona Atlântica Bradesco, em Brasília , sustentando um bom duelo com outro atleta, quando, no Km 17, juntou-se a nós de bicicleta o seu treinador que, vendo o esforço estampado na face do seu pupilo, gritou-lhe:

-”Vamos suportar esta dor, vamos embora!”.

Também vinha no limite e sentia uma leve dor em virtude de um tendinite, mas a dor do meu rival era devido ao esforço excessivo: a dor do corredor de longa distância.

Quando se está no limiar da capacidade, o organismo encontra dificuldade em sintetizar a energia necessária para repor a que está sendo gasta. Então começa o acúmulo de Ácido Lático, substância inibidora da atividade muscular e um sinal do organismo avisando que algo está errado.

Este composto, o Ácido Lático, é o causador de inúmeras derrotas, algumas inesperadas. Ocorre que o corredor entusiasma-se , impõe um ritmo forte demais, gasta seu suprimento de Glicose e de repente seu rendimento cai assustadoramente. Muitas vezes derruba-o próximo da linha de chegada. Assim foi com DORANDO PIETRI na Maratona Olímpica de LONDRES, em 1908, mesmo tendo sido “bombardeado” com uma substãncia hoje proibida e misturada com ovo cozido.

A explicação deve-se a corrida ser uma atividade aeróbica, utilizando o Oxigênio como principal fonte de suprimento de energia para as células musculares. Da decomposição da Glicose e das gorduras pelo Oxigênio forma-se ATP-Trifosfato de Adenosina e uma quantidade de Ácido Lático. O ATP tem a grande propriedade de resintetizar a Glicose e reiniciar o ciclo, através de complexas reações químicas. Porém a Glicose vai se esgotando e se tornando cada vez mais Ácido Lático(este não se forma na presença de Oxigênio).

A dor do atleta, portanto, resulta da incapacidade do seu organismo de reiniciar o ciclo energético e na conseqüente diminuição de Glicose e formação de cada vez mais de Ácido Lático.

Esta incapacidade está relacionada a diversos fatores, dentre os quais o treinamento inadequado e o limite biológico do atleta.

Os maratonistas respeitam o “muro dos 32 Km”, onde teoricamente acabam-se as reservas de gordura e o passa a utilizar-se, nos últimos 10 km, de sua vontade férrea para completar o percurso e lutar contra a dor que vai tomando conta do seu corpo.

É exatamente este fato que faz de cada Maratona, para os apaixonados da prática, um aventura emocionante. É uma luta contra a distância, contra o tempo, enfim, contra ele mesmo querendo vencer seus limites.

É a mente, no final, funcionando em condições precárias, devido ao reduzido suprimento de Oxigênio, lutando para comandar braços, pernas, cabeça, enfim, seu corpo.

É por isto que todo maratonista sente-se um forte e um semi-deus, ao chegar se arrastando e sofrendo na marca dos 42 195,21 m de uma maratona e dizendo feliz:- “EU COMPLETEI”.

E o nosso rival durou apenas 17 km da meia maratona. O seu limite não permitiria chegar siquer ao muro dos 32 km do maratonista.

(foi a minha 1ª Meia Maratona e a completei em 1h 32 min).