2. PASSOS CONTRA A DEPRESSÃO - Qual o sentido de trabalhar?

O trabalho é o meio através do qual se adquire os recursos para a manutenção da vida e bem-estar próprios e daqueles por quem se tem afeto. O trabalho também é uma forma de distração, bem como um meio para fazer o bem e produzir a realização pessoal e crescimento. Porém, sua essência é prover meios de sobrevivência a quem o executa, o que jamais se deve esquecer, pois o trabalho não é a razão de ser de si mesmo.

Para que se faça algo é preciso um sentido, um porque fazer, um objetivo, uma razão de ser, uma justificativa – algo que valha a penalidade a ser paga para chegar-se a tal. E, como é com tudo, também é com o trabalho, embora que quando se trabalha para os outros esse benefício em regra seja o salário, ele (o trabalho) tem que produzir felicidade pessoal do início ao fim, não só a felicidade do momento de receber o pagamento resultante, mas também a felicidade decorrente da execução do trabalho. Em primeira mão, o salário e os benefícios que o indivíduo que o produz espera que ele produza redundando em felicidade. Em segunda mão, a própria satisfação de fazer algo denota felicidade, pois os benefícios do trabalho não são apenas o dinheiro, sendo que o trabalho também é uma forma de beneficiar a outros (o que produz satisfação e autoconfiança) e o fazer bem feito e bem dominar a profissão é igualmente uma forma de satisfação e felicidade. Entretanto, se o trabalho em si e a remuneração dele decorrente não resultarem em felicidade, ele perde a razão de ser e já não se vê sentido no fazê-lo, pelo que passa a ser sentido como carga excessiva e desnecessária, tornando-se uma tortura, parecendo um preço muito alto a ser pago sem sentido. Chega-se ao ponto de perder o gosto por determinado trabalho apesar de seus altos rendimentos.

Se alguém executa determinado trabalho mais pelos benefícios que ele produz para os outros, ainda assim o faz por sua felicidade própria, pois só faz-se algo por alguém se o beneficiar esse alguém produzir felicidade para quem o faz, pois a felicidade pessoal sempre é o beneficio final. Porém, não se concorda em praticar o trabalho sem perceber o benefício do salário equivalente em moeda. Quem não recebe tal benefício (ou o benefício que recebe não lhe parece equivalente) e também não vê outro benefício além do salário, sente-se lesado, pois lhe parece que paga um preço muito alto por quase nada ou nada. Tal lesão resulta em frustração. Sendo então que, aos seus olhos, há um prejuízo e por prejuízos a mente comum requer compensação, havendo de quem possa requerer o ressarcimento, o assunto é aparentemente liquidado após o devido reparo. Entretanto, não havendo, ou sendo obrigado a prosseguir o trabalho sem o que entende como devido reconhecimento, o indivíduo pode entrar num sistema de auto-piedade, postando-se dentro de si mesmo como se tudo e todos estivessem em dívida para com ele e querendo que os outros adivinhem seu sentir e reconheçam e reparem essa dívida.

A súmula de tudo é que o trabalho tem que render recurso financeiro com o qual se possam adquirir os subsídios para poder estar com quem se gosta de estar – o cônjuge, os filhos, a família e todos pelos quais se tem afeição. Tal recurso é geralmente entendido como o benefício decorrente do trabalho. A razão humana determina que o preço a ser pago por algo tem que produzir o benefício equivalente. Sendo assim, o salário que se recebe pelo trabalho tem que ser equivalente ao quanto ele vale para quem o presta. Se não é, o indivíduo vê-se lesado pelo tanto esforço que dedica em troca de tão pouco e por isto se entristece, permitindo a seus íntimos perceber e viver a apatia. Age-se assim porque a recompensa que se espera pelo trabalho que se efetua é unicamente o salário; porque se vê apenas ele como benefício. Entretanto, embora o salário possa ser o motivo pelo que se trabalha, ele não é o fim em si mesmo, mas um meio para se chegar ao benefício. Em regra, fica no esquecimento o entender de que o trabalho e o salário são meios, como são tudo que deles deriva. Por isto trabalha-se como se fossem a recompensa e assim, por mais alto que seja o salário de alguns, eles jamais são felizes e seguem trabalhando sempre mais, perseguindo a recompensa que imaginam que esteja guardada num monte maior de dinheiro e bens. Todavia, por mais que consigam ganhar mais, seguem pensando que não recebem a recompensa equivalente. Assim, ambicionam e lutam por salários mais altos, trabalhando sempre mais, mas a cada dia mais insatisfeitos, trabalhando por isto mais, mas produzindo sempre mais insatisfação, pois o que conseguem é sempre mais fadiga, estresse e frustração, olhando por isto cada vez mais para si mesmos e entendendo-se como vítimas das circunstância, do patrão, da família e da sociedade e sentindo cada vez mais pena de si mesmos.

Wilson do Amaral