5. PASSOS CONTRA A DEPRESSÃO - O que é trauma decorrente da exaustão?

Trauma é tudo que nos deixa ressentidos, em estado de alerta, ressabiados com determinada coisa, como “gato escaldado”, conforme o ditado. Trauma é um dispositivo que aciona nossa guarda toda vez que nos deparamos com o agente de nosso temor. Trauma trata-se de uma âncora ruim aportada em algo que tememos, pois em algum momento esse agente nos causou dor, que podemos definir como o mesmo que sofrimento. E o ditado diz que “gato escaldado com água quente tem medo de água fria”. Então, comumente, um trauma relativo a determinada causa nos torna ressentidos com outras tantas. Todavia, um contraditado circula na internet esclarecendo que “gato escaldado com água quente morre”. E, em comparação, vamos perceber ao longo desse texto que o trauma é o início de um processo de mortificação estando vivo. Para tanto, a fim de conhecer os afluentes e a via principal dessa mortificação, compete sabermos o que é verdadeiramente trauma e qual a verdadeira origem de seu efeito capaz de instalar preconceito generalizado. E perguntaremos também se um trauma em si, por maior que seja, tem poder para nos desabilitar, nos dominar e inutilizar ou se nossa auto-piedade, fundamentada em nosso elevado auto-conceito, é que faz o serviço de nos tornar queixosos, rancorosos, intolerantes, exigentes, ressentidos, irados e em guarda constante, combatendo a tudo como se tudo fosse o inimigo.

Na verdade, nada poderia nos deixar ressentidos, pois vencemos a tudo pelo que passamos, prova é que estamos vivos, do contrário, se tivéssemos sido derrotados, não mais estaríamos vivos e, assim, não teríamos como pensar naquele momento assustador, revivendo a dor e nos ressentindo sempre mais. Portanto, o trauma nada mais é do que uma reação ao medo recordado, decorrente do susto, da dor, da privação ou da humilhação que sentimos num momento que já passou.

Quando somos forçados, como num assalto, estupro ou quando somos forçados pelas circunstâncias, o que segue doendo nos instantes seguintes é a indignação por não termos tido a oportunidade de escolher e decidir sobre o que se passou. Sentimos que nossa soberania foi violada e queremos violar a soberania daquele que não reconheceu a nossa, mas mais como forma de declarar-lhe que somos soberanos e que podemos decidir. Na verdade, isso funciona mais para o nosso próprio convencimento e auto-afirmação de nosso ego. Até mesmo o saber que o agente de nossa dor tomou conhecimento de nossa reação é uma forma de nos convencermos de nossa soberania. Por isto a maioria das pessoas não consegue perdoar mesmo que em sua presença o que lhe lesou reconheça a falta cometida e lhe peça perdão, porque o saber que tal agente reconheceu seu erro é uma boa forma de auto-exaltação e mantê-lo assim parece firmar ainda mais convicção de nossa soberania. Todavia, para ser assim, tem que manter viva a lembrança do ato dolorido e assim essa lembrança e a reverência do ato se firmará sempre, doendo sempre mais.

O trauma, portanto, é a dor do orgulho rebaixado fazendo que o ego se sinta ferido e, dolorido, queira exaltar-se e exaltando-se ao nível anterior, porém, um pouco acima daquele nível para poder rebaixar o sujeito da dor, pelo que a mente permanece a maquinar fórmulas para restituir-se a soberania e a única via que essa mente orgulhosa vê é o vingar-se, pelo que planeja o meio e o planejar a leva a reencenar continuamente o episódio, produzindo vinco de dor sempre mais profundo, o qual redunda em crescente pena de si mesmo, ressentimento maior e estresse decorrente. Por isso essas pessoas definham, adoecem e alguns até perdem a capacidade de ver e andar decorrentes do diabetes altíssimo e muitos outros males, como cálculos, tumores e coisas do gênero.

A forma como se vingará não necessariamente tem que envolver violência física ou privação da liberdade do agente, podendo dar-se através do silêncio, do rompimento, da ausência, do drama de consciência, do ressentimento, do ódio, do suicídio ou de qualquer outra forma perceptível ao sujeito. Para a mente desejosa de cobrar-se, a forma que ela escolher será sempre eficaz. Entretanto, como disse anteriormente, nossa mente nos engana, porque tudo isso serve apenas para nosso auto-convencimento, mas, em contrapartida, produz muitos males no organismo, como melhor explico em meu texto VINGANÇA – A SENTENÇA QUE ERRA O ALVO, publicado em meu espaço no Recanto das Letras, no link http://www.recantodasletras.com.br/artigos/2517199.

A exaustão do trabalho excessivo produz sofrimento. Toda exaustão fragiliza e produz impotência até que se recobrem as forças. Algumas pessoas tentam reinterpretar o sentido de seu esforço para se proteger da decepção. Mentem para si que o que importa é unicamente o dinheiro que se ganha e com ele se pode compra tudo. Vão acumulando, por isso, bens, presenteando muita gente, esbanjando fortunas para ter companhia, mas sem jamais se sentir bem-vindas e queridas em algum lugar. A exaustão do trabalho excessivo nutre-se dos subsequentes fracassos, que é o não obter reconhecimento e jamais sentir-se querido; nutre-se do não ver o resultado prático correspondente a tanto esforço; do não ver a recompensa, o reconhecimento daqueles por quem pensamos que dedicamos nosso sacrifício. Talvez seja o chefe sempre insatisfeito, os colegas a criticar, a esposa reclamando e os filhos exigindo impiedosamente mais. O repetir sistemático desse fracasso produz ressentimento e a medida que segue a repetir-se mais ressentimento produz, até torna-se trauma, quando, por temor de novo fracasso, a pessoa perde o gosto por seu trabalho e pergunta-se ainda na cama porque desacomodar-se novamente se o resultado será o mesmo – fracasso.

Nesse momento, o ânimo, a vontade de lutar, a coragem de enfrentar o dia-a-dia vão se transformando em pressentimentos negativismos. O indivíduo busca respostas a fim de encontrar a origem disso tudo. O que lhe vem a mente é a pressão e repressão de todos. Então o subconsciente começa a processá-los como sanguessugas, injustos, inimigos, contra os quais tem inicio um sistema de compensação (vingança) na forma de impaciência, intolerância e auto-proteção. Logo o indivíduo desenvolve ressentimento contra as pessoas mais próximas, passando depois para as outras, tornando-se extremamente vigilante quanto a todos e suas intenções, em constante estado de defesa. Essa vigília constante produzirá estresse intenso, traduzido-se na forma de angústia, impaciência e ansiedade, uma espécie de sufocamento. E o ver-se tão impiamente injustiçado o levará à auto-piedade extrema, que redundará em depressão sempre mais profunda, pois sua auto-piedade se torna cada vez mais convicta.

Wilson do Amaral