Transtorno de Pânico

Publicado originalmente no Jornal Lotus Bem Estar (Brasília – DF), Nº. 275, Dez. 2011, pg. 20.

Taquicardia, respiração curta, mãos geladas, tontura, confusão mental - são alguns dos sintomas de um ataque de pânico. A pessoa sente-se dominada, sem forças para reverter a situação. Muitas vezes o indivíduo não consegue identificar a causa, e passa a se isolar ainda mais. O nome pânico vem do grego e significa susto ou pavor repetitivo. Na mitologia grega, Pã era o deus dos pastores e dos rebanhos, que se divertia assustando os viajantes solitários.

No final do século XIX e início do século XX Freud cria sua teoria da Psicanálise, onde ele postula a existência de três níveis psíquicos: Consciente - Pré-Consciente – Inconsciente; e afirma que ansiedade e pânico teriam raízes na repressão sexual. Mais tarde, Carl G. Jung, discípulo de Freud, desenvolveu uma linha terapêutica baseada em mitos e arquétipos - imagens presentes em todas as culturas, e que se manifestam por exemplo nos sonhos. Para ele, o mito de Pã representa a natureza, o corpo, a sexualidade, a agressividade, inquietação, enfim, nosso lado menos racional, mais passional. O mito remete ao conflito existente na psique do portador de pânico: o embate entre os instintos compulsivos da natureza animal (inconsciente) e o padrão adquirido (consciência moral). Representa a parte que não aceitamos em nós mesmos.

Um dos motivos do crescimento do transtorno do pânico na atualidade deve-se ao aumento das exigências da vida cotidiana. As necessidades de adaptação à vida moderna têm sido maiores do que a capacidade adaptativa das pessoas. Além disso, o ser humano hoje é conduzido a viver sob condições impostas pela mídia e pelo contexto cultural em que vive. A marca do carro, o bairro onde moramos, a escola dos filhos, a roupa, tudo é determinado pelos outros e não por nós mesmos. Assim, somos levados a ignorar nossos próprios desejos.

Outro fator, é que o trabalho tornou-se cada vez mais mental e difícil de mensurar. Antigamente o trabalhador olhava para a sua oficina e conseguia visualizar facilmente o resultado de um dia de trabalho. Hoje não. É difícil mensurar o resultado de um dia de trabalho à frente do computador, ou um relatório de vendas, um discurso, uma apresentação. Mesmo nas profissões tradicionalmente “braçais”, como mecânica, ferramentaria, construção civil, é cada vez maior a presença de robôs e máquinas de precisão. O fato é que nosso trabalho exige cada vez mais do sistema neurossensorial, e menos do metabólico-locomotor.

Desta forma a ansiedade se acumula, desenvolvendo sintomas físicos e mentais. Vivemos continuamente “quase” realizando as coisas – quase terminei a tarefa do dia, quase fui promovido, quase atingi a meta de vendas, quase fui eleito. Aliado a isso, temos o constante clima de competitividade que impera nas empresas e organizações.

Por incrível que pareça, é justamente ao deparar-nos com nossos próprios medos, angústias e fragilidades, que nos é dada a chance de perceber que algo está errado em nossa vida. E aí então, podemos propor mudanças de hábitos, atitudes e valores. Ou seja, o transtorno de pânico pode ser uma oportunidade para reintegrar os diferentes níveis de consciência. Não apenas reprimir, mas sim transformar os impulsos inconscientes em energia criativa.

Uma dica para quem exerce trabalho intelectual é criar técnicas de visualização. Por exemplo, ao final do dia, olhar para o seu trabalho e tentar traduzir em resultados palpáveis: escrevi X páginas, digitei X planilhas, vendi X produtos, tive X de lucro. Outra dica, é contrabalançar com atividades que tragam resultados perceptíveis aos sentidos, além de proporcionar satisfação pessoal: música, artesanato, culinária.

A medicina antroposófica, com sua visão holística do ser humano, é capaz de integrar os diferentes níveis da organização humana. Por exemplo, por meio da arte (pintura, canto, música), e de medicamentos que reintegram os vários sistemas orgânicos. Procure um médico antroposófico.