Sinusite e seu tratamento com medicamentos naturais

Publicado originalmente no informativo da Farmácia Lemnis, Belo Horizonte, MG, em 01.05.2010.

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Por Rodolfo Schleier e Silberto Azevedo

Com a chegada do frio, aumentam os casos de rinite, sinusite e demais doenças respiratórias. O tratamento de escolha para estas doenças consiste geralmente de descongestionantes – que podem conter em sua formulação derivados da cortisona.

No entanto, o uso indiscriminado de descongestionantes nasais, especialmente corticóides, tem suas desvantagens. Corticóides são substâncias semelhantes ao cortisol, hormônio produzido pelas glândulas adrenais (as mesmas que produzem a famosa adrenalina). Ele é secretado em situações de estresse, para aumentar a pressão arterial, elevar a glicemia, diminuir a dor e assim facilitar num processo de fuga. Por seu efeito antinflamatório, eles são largamente utilizados na prática clínica desde a década de 1950.

Seus efeitos colaterais são bem conhecidos, dentre eles a Síndrome de Cushing, um desequilíbrio hormonal que leva a aumento de peso, depósito de gordura na face, no tronco e pescoço, além de afilamento dos braços e pernas, diminuição da musculatura e fraqueza. Há diversos relatos na literatura de pessoas que desenvolveram esta doença pelo uso abusivo de descongestionantes nasais e pomadas à base de corticóides.

Como todo medicamento, eles exigem acompanhamento criterioso, mas com um cuidado extra. Mesmo com os derivados mais seguros que existem hoje, é fundamental respeitar a dose e o tempo de uso prescrito pelo médico.

Por conta dos efeitos colaterais dos medicamentos alopáticos, é grande a procura por tratamentos naturais. Mas mesmo neste caso é preciso ter a orientação de um profissional de saúde.

Das muitas plantas usadas popularmente para o tratamento de infecções respiratórias, como a sinusite, uma muito conhecida é o eucalipto. Essa árvore australiana pertence à mesma família botânica da goiaba, pitanga, jabuticaba, cambuci, entre outras frutas brasileiras. Ela foi introduzida no Brasil há mais de um século, para servir de matéria prima à produção de papel, devido ao seu crescimento rápido que permite um alto rendimento em celulose em pouco tempo. O eucalipto também apresenta a capacidade de absorver muita água do solo, e por isso é muito usado em paisagismo urbano para drenar terrenos úmidos.

Das várias espécies de eucalipto, algumas são mais aromáticas, outras nem tanto. Mas praticamente todas elas têm o mesmo odor típico e agradável. Só de chegar perto de uma praça de eucaliptos, já sentimos abrir as narinas. Talvez seja por isso que os bosques de eucaliptos sejam tão procurados para a prática da caminhada.

Há alguns anos, pesquisadores da Universidade Federal do Ceará, em parceria com o Medical College da Geórgia (EUA) testaram várias espécies de eucalipto, dentre elas Eucalyptus citriodora e Eucalyptus globulus. Eles constataram que o óleo essencial extraído das folhas dessa árvore induz a um efeito analgésico ao nível do sistema nervoso central. Ou seja, além da ação descongestionante local, ela também teria um efeito farmacológico, de aliviar dores e outros sintomas físicos comuns nas doenças respiratórias. Isso explicaria o seu uso popular.

Há diversas outras plantas usadas comumente para o tratamento de sinusites e outras doenças respiratórias, dentre as quais podemos citar: a sálvia (Salvia officinalis), planta aromática da mesma família da hortelã e do orégano, possui propriedade antisséptica e descongestionante, e suas folhas são muito usadas para fazer inalações; a calêndula (Calendula officinalis), muito conhecida em pediatria e dermatologia, também é indicada para o mesmo fim (inalação com o chá das flores) e a equinácea (Echinacea purpurea) que já era usada pelos índios norte-americanos, e hoje é conhecida no mundo todo por sua propriedade estimulante do sistema imunológico.

Como já dissemos, mesmo para o uso de plantas é preciso contar com o apoio de um profissional da saúde, e adquiri-las em local confiável. Uma planta tradicional brasileira, a buchinha do norte (Luffa operculata), pode provocar sangramento nasal e aborto se usada incorretamente. Plantas mal armazenadas podem trazer fungos e outros contaminantes que agravam ainda mais o quadro clínico.

Mas, como nem sempre temos à mão os chás e outros materiais para inalação, podemos utilizar medicamentos elaborados a partir de plantas com longa tradição de uso, coletadas ou cultivadas de forma a produzirem princípios ativos seguros e confiáveis. Com base nas matérias médicas homeopáticas, no conhecimento goetheanístico da natureza e do ser humano, e em outras fontes como a Teoria das Assinaturas de Paracelso (segundo a qual uma planta possui indicação terapêutica relacionada ao ambiente onde ela cresce), já foram criados vários medicamentos. Rudolf Steiner resgatou esse conhecimento sob um olhar científico, e foi capaz de explicar fenômenos antes só experimentados na prática, mas sem uma explicação lógica. Exemplos? Dissemos que o eucalipto absorve muita água da terra, certo? Essa mesma propriedade “secativa” está presente no medicamento. E outra árvore que faz esse mesmo processo é o carvalho (Quercus), também indicado na homeopatia.

A Weleda possui em sua linha o Sinudoron, medicamento antroposófico composto por Berberis vulgaris D2, Hydrastis canadensis D4, Argentum nitricum D20, Belladonna D6 e Silicea D20. É uma associação de substâncias minerais e vegetais que auxilia no tratamento da sinusite aguda ou crônica, de maneira segura e eficaz. Disponível em gotas e comprimidos. Fale com seu médico ou farmacêutico antroposófico.

Curiosidade: O Parque do Ibirapuera em São Paulo deve muito ao eucalipto. Ali era um grande brejo e por isto a razão do nome que em Tupi se desmembra em: Ibira quer dizer madeira e Puera que significa podre, ou seja, madeira podre, em alusão aos troncos caídos na água. Até que um funcionário da prefeitura começou a plantar eucaliptos para drenar essa água. Essas árvores estão lá ainda hoje, próximas ao viveiro de plantas que leva o nome do funcionário, o Sr. Manequinho Lopes.

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Bula do medicamento.

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Rodolfo Schleier é farmacêutico-bioquímico (USP) e especialista em fitoterapia (FACIS-IBEHE). Desde 2005 atua no Departamento Médico-Científico do Laboratório Weleda.

Silberto Azevedo é farmacêutico-bioquímico (UFMG), Perito Toxicologista (IML-BH), Mestre em Administração (PUC Minas/FDC) e Diretor da Lemnis Farmácia.