A Brucelose e a Desativação do Complexo Laboratorial do Maracanã - LANAGRO

    A brucelose é uma zoonose que em determinadas condições pode transmitir ao homem.
    Os animais domésticos originalmente afetados são os bovinos, os caprinos e os suínos; mas os ovinos adquiriram, dos caprinos, a infecção que se estabeleceu permanentemente, sendo, por sua vez, fonte de contágio para o homem.
    A brucelose humana, conhecida também com os nomes de Febre de Malta, Febre Mediterrânea, Febre Ondulante, etc, foi relacionada à infecção da cabra pela Comissão Inglesa encabeçada por Bruce (1886), e à que provoca o aborto contagioso nas vacas, graças aos estudos de Miss Evans (1918). Assim, o micróbio causador do aborto contagioso nos suínos, isolado por Traum (1914), constituiu-se no terceiro membro do grupo causador da enfermidade transmissível ao homem.
    A brucelose tem sido diagnosticada em toda parte do planeta, especialmente nas regiões onde se criam ovelhas, cabras, vacas e porcos. No final do século XIX pertencia apenas à chamada Patologia do Mediterrâneo.
    É considerada problema mundial, por dois aspectos: o da repercussão na saúde dos seres humanos e os dos interesses econômicos, como zoonose caracterizada por acarretar o emagrecimento, a infertilidade, os abortos e a diminuição da secreção Láctea dos animais.
    Com referência à brucelose animal, Kaplan (1950) calculou que no continente europeu, excluídos os países escandinavos, de 15 a 30% do gado leiteiro está infectado. No Brasil, a proporção é de 10 a 20% abrangendo gado leiteiro e gado de corte.
    Com referência à brucelose humana no Brasil, os inquéritos efetuados atestam a sua grande difusão. Em 1952, Genésio Pacheco, no Rio de Janeiro, examinando 385 amostras de sangue recebidas pelo laboratório do HSE e 832 de doadores de sangue, deparou com incidência de 5,23% de reagentes.
    Cumpre salientar que as cifras de brucelose, observadas em alguns países, podem não corresponder à realidade e que provavelmente poderiam ser mais elevadas, tendo-se em vista as dificuldades diagnósticas.
    A transmissão pode ser direta ou indireta. É direta quando existe o contágio com o animal doente ou com suas secreções ou excreções. Constitui este o modo de transmissão própria das zonas rurais e de quantos, por dever profissional, tem obrigação de contatos demorados com os animais, tais como, veterinários, os pastores, os granjeiros, os ordenhadores, os cozinheiros, os magarefes e mais funcionários de matadouros e frigoríficos.
    A transmissão indireta se processa nas cidades pelo consumo de produtos e subprodutos tais como o leite e derivados, carnes pouco cozidas e outros alimentos contaminados.
    Entre os animais, a brucelose constitui verdadeira doença venérea, visto que o macho sofre de orquiepidimite brucélica e a fêmea, de exsudatos uterovaginais infectantes.
    O contágio humano se pode dar pela pele, mesmo íntegra, as mucosas e a via digestiva. Inúmeros tem sido os médicos, os bacteriologistas e os veterinários que se infectaram em laboratórios pelo contato com material contaminante.
    Os chouriços, os salames e outros enlatados preparados sem as devidas precauções tem sido veículos de brucelas. Os legumes ingeridos crus, irrigados com águas contaminadas ou fertilizadas com material proveniente de estábulos, podem transmitir a doença.
    No útero materno poderá também ser contaminado o filho, através da placenta.
A doença começa devagar com cansaço, dor de cabeça e dor nos ossos. A febre e o suor são mais freqüentes à noite e desaparecem por alguns dias para depois voltar. Isto pode continuar durante meses ou anos.
    A brucelose, após um período de incubação difícil de precisar, se instala de modo diverso segundo a modalidade clínica evolutiva. Será súbito e febril nas formas agudas; sorrateiro e e apirético nas crônicas. A sintomatologia dominante, nas formas agudas, consta de calafrios, febre, suores, dores, inapetência, palidez, emagrecimento e mais: perda de memória, insônia noturna e sonolência diurna, emotividade exagerada, ansiedade, loquacidade, fobias, apatia, hipoacusia, hipotensão arterial, frigidez sexual, choro fácil, constipação, hemorróidas, adenopatias, nodosidades, hemorragias, anemia, dismenorréia, extrema sensibilidade ao frio, hipersensibilidade das mamas e dos testículos, suscetibilidade às mudanças atmosféricas, tremores, etc.
    O sintoma térmico da forma aguda é caracterizado pela sucessão de acessos que evoluem como ondas, daí a designação de febre ondulante. O suor do bruceloso recende odor comparável ao da palha putrefata ou ao da urina do rato. Tamanha, às vezes, é a intensidade do suor que impede o sono ou o repouso do paciente, obrigando-o a trocar de roupa repetidamente durante a noite.
    Os sintomas relacionados com a dor são de espantosa tenacidade em qualquer das formas clínicas da doença. Dores súbitas, intensas, espontâneas, surgem sob a forma de artralgias, ostealgias, neuralgias, mialgias, dores abdominais simulando abdômen agudo e dores testiculares, mamárias ou ovarianas.
    Sem tratamento, a brucelose pode durar vários anos. Como o diagnóstico é difícil, já que a doença pode se confundir com outras, é necessário acompanhamento médico e exames laboratoriais para confirmação da doença.
    A hepatite é uma das mais freqüentes manifestações da brucelose, sendo a cirrose hepática o quadro final dos casos gravemente atingidos.
    A base da profilaxia da brucelose humana reside na eliminação dessa doença nos animais e na esterilização do material alimentar.
    O sacrifício dos animais infectados seria a providência radical, acompanhada da interdição da entrada no País de animais contaminados.
    O combate à brucelose animal deve firmar-se em medidas gerais de limpeza, no saneamento higiênico do ambiente rural, com a desinfecção de locais contaminados, destruição de todo o material infectado, tais como, fetos, placenta, estrume, no isolamento dos animais em trabalho de parto, na identificação dos animais infectados para separa-los dos demais e na comprovação de que os animais à venda esteja livres da doença.
    A fundação, em cada País, de centros técnicos-científicos supervisores e deliberativos, destinados à pesquisa e ao controle da brucelose (semelhante aos laboratórios do LANAGRO, agora desativados) tem sido considerada unanimemente como medida indispensável na campanha para sua erradicação.
    Aconselha-se também à população não beber leite de vaca ou de cabra cru, especialmente em regiões onde a brucelose é um problema. É melhor também não comer queijo leite de leite cru.
    É necessário também ter cuidado ao lidar com o gado, cabras e porcos, principalmente se você tem algum corte ou arranhão na pele.
    Nos países avançados recomenda-se que os serviços de inspeção fiscalizam os animais para ter certeza de que seu gado está sadio. No Brasil este serviço era realizado no Rio de Janeiro através dos Laboratórios do LANAGRO que no momento se encontra em processo de desmonte.

Fonte:
VERONESI, Ricardo:
1969 – Doenças Infecciosas e Parasitárias - Ed. Guanabara Koogan – 4a. Ed. - Rio de Janeiro – 1095 p.
WERNER, David (1934- ):
1984 – Onde não há Médico – Ed. Paulinas – 6a. Ed. - São Paulo – 416 p.

Ver matéria do Jornal do Brasil:
http://www.jb.com.br/informe-jb/noticias/2013/01/23/reforma-do-maracana-desativa-laboratorio-e-gera-risco-a-saude/