Movidos a álcool

No final da década de 70 o governo instituiu o Proálcool, um projeto ambicioso que tinha como objetivo convencer o brasileiro a utilizar o etanol. Com o slogan “Carro a álcool: você ainda vai ter um”, o governo estimulava o uso do combustível renovável por conta da crise na matriz energética mundial. De lá para cá consumo aumentou significativamente, não somente pelos veículos, mas principalmente aquele ofertado nos balcões de bares, lanchonetes, restaurantes, clubes e similares. As vendas cresceram em função da estabilidade dos sucessivos planos econômicos, influenciadas pela elevação gradual do poder aquisitivo das pessoas.

O brasileiro nunca consumiu tanta bebida alcoólica como na última década. Um levantamento divulgado pelo Ministério da Saúde mostra que o consumo abusivo de álcool (ingestão em uma mesma ocasião de quatro ou cinco doses para mulheres e de cinco ou mais doses para homens) é maior entre pessoas com mais de 12 anos de estudo do que entre os que estudaram até oito anos. Em relação à idade, a frequência de consumo abusivo de bebida alcoólica é maior entre os jovens de 18 a 24 anos (20,5%). Na população com idade igual ou superior a 65 anos, o índice cai para 4,3%. O percentual de consumo entre homens com idade de 18 a 24 anos chega a 30,3% e entre as mulheres na mesma faixa etária, a 11,5%.

No Brasil, o segmento de bebidas teve um crescimento de 69,7% no período de 1990 a 2005. Em 1998, o consumo por pessoa havia sido de 328 litros. Na última década, o país ocupou a sexta posição entre os maiores produtores mundiais de cerveja. Não é por acaso que o jovem inicia o consumo de bebida alcoólica cada vez mais cedo. A pressão exercida por um comportamento consumista sobre a formação do caráter das crianças e adolescentes acaba induzindo-os ao consumo excessivo, até mesmo para que sejam aceitos em seu meio social. Os comerciais de cerveja são extremamente bem elaborados, evidenciando deliberadamente o lado romântico de uma vida sem limites quando o assunto é o consumo de álcool. As imagens do homem bem sucedido rodeado de mulheres em poses sensuais, exibindo com prazer o líquido anunciado procuram dissimular os verdadeiros malefícios do álcool. Os números comprovam: os casos de violência que culminam em agressões são motivados em sua grande maioria pela ingestão excessiva de bebida alcoólica, notadamente por pessoas mais jovens.

Num passado recente, um evento promovido nas dependências de uma instituição pública de ensino superior foi regado a muito álcool. Foi denominado pelos próprios organizadores como “sarau”, que no dicionário é qualificado como uma “reunião festiva, em que se passa a noite dançando, jogando, tocando, etc.”. O ambiente festivo em horário noturno sugere uma série de atividades reconhecidamente pouco puritanas, indo muito além do consumo exagerado de álcool (fato este não ignorado pelos diretores daquela entidade). Ainda mais quando ocorrido em estabelecimento de ensino de tamanha relevância, que em tese deveria reprimir quaisquer práticas que viessem a destoar dos objetivos primordiais a que se propõe.

Os fatos ocorridos no malquisto evento comprovam a inquietação da sociedade, enquanto defensora dos verdadeiros propósitos de um estabelecimento de formação profissional. As imagens do diversificado vasilhame que compunha o “arsenal etílico” dos participantes não deixam dúvidas quanto à verdadeira finalidade do “sarau”, que teve comprovadamente a participação de pessoas estranhas à instituição. Quem ali se fez presente não tinha obviamente a intenção de participar de qualquer movimento para a divulgação da cultura de nosso país.

É necessária a conscientização do jovem buscando a redução no consumo de bebida alcoólica. Que deveria vir em forma de iniciativa governamental visando minimizar esse grave problema social, que afeta sobremaneira as futuras gerações. Melhor mesmo seria diminuir os “levantamentos de copo”, preservando a saúde e aproveitando os bons momentos que a vida nos oferece. Ou radicalizar de vez, aderindo àquele velho e bom conselho colado no vidro traseiro: “Álcool? Só no tanque...”.