Coliformes e roedores

Nacib Hetti

De 241 marcas de café comercializadas em Minas Gerais, e analisadas pelo Procon, cerca de 74 continham impurezas. Além de larvas e insetos, foram encontradas cascas, paus, milho e um elemento cancerígeno. A informação do órgão indica que todas as 74 foram consideradas impróprias para o consumo e que cerca de 6% do peso não é café. Alarmante é o fato de que algumas marcas adulteradas possuíam o selo de qualidade da Associação Brasileira da Indústria de Café. Pelo menos foram denunciadas e passarão a ser vigiadas de perto, informa o Procon.

O jornal O Tempo editou matéria, em 29.07, denunciando que cinco conhecidas marcas de extrato e molho de tomate continham pelos de roedores em volumes acima do permitido. No caso, o limite tolerado pela Lei é de até sete fragmentos por 100 gramas de produto. Alguns anos atrás, agentes da Saúde Pública informaram que, em nove marcas de pão de queijo fabricados na Grande BH, foram encontrados coliformes fecais, mas três delas estavam dentro dos limites previstos na legislação. Já na panificação é tolerado o limite de até 25 fragmentos de insetos em cada 225 gramas do produto. Quer dizer: um pouco de titica não faz mal a ninguém.

A dra. Cláudia Darbelly, gerente de fiscalização da Anvisa, informou que neste ano já foram retirados de circulação alimentos industrializados de sete conhecidas marcas. Em todos os casos havia pelos de roedores, larvas e insetos, em proporções que ultrapassaram os limites da Lei. A Associação das Indústrias da Alimentação afirma que a presença de fragmentos macro ou microscópicos nos alimentos processados, advindos da colheita, não representa riscos à saúde humana, partindo da ideia de que, com o processamento, esses fragmentos se tornam inócuos. No entanto, a dra. Darbelly alerta que eles podem trazer microrganismos patogênicos.

A flexibilização admitida nos alimentos poderá ser adotada na justiça. Algumas personalidades influentes trabalham nesse sentido. Até o teólogo Leonardo Boff, em artigo neste jornal, exortou a sociedade brasileira a resgatar princípios cristãos de tolerância, frente à enxurrada de denúncias de corrupção, “reduzindo a níveis compatíveis com a condição humana decaída e corruptível”. O risco de flexibilização nas investigações em andamento, aceitando uma corrupção em níveis compatíveis, como prega o teólogo, serve de alerta para sociedade, que deve se manter mobilizada para evitar a demonização das ações na “lava jato”.

As campanhas comandadas pelo senhor Lula e por outros indiciados, acusam o juiz Sérgio Moro de abuso de poder, querendo dizer que ele deve ser menos rigoroso nas investigações e condenação dos corruptos, insinuando que ele deve dirigir seus trabalhos observando a corrupção em “níveis compatíveis com a condição humana decaída e corruptível”. Esperamos que na Justiça da “Lava Jato” não prevaleça a mesma complacência legal que tolera a ocorrência de coliformes fecais e pelos de ratos nos alimentos, sem qualquer alusão aos roedores da política brasileira.