Coronavírus: uma vacina natural

Uma proposta de reformulação da estratégia de combate de pandemias através do isolamento exclusivo de pessoas fragilizadas e conexas.

A vacina se originou da constatação popular de que aqueles que ordenhavam vacas imunizavam-se contra a varíola, doença que deixava cicatrizes evidentes nos que dela se curavam. Desde o século X, a inoculação de secreção da varíola bovina em pessoas, com o propósito de imunizá-las contra a doença, já era realizada na China, método redescoberto, no ocidente, 8 séculos depois. Em decorrência de tal origem, cunhou-se a palavra “vacina”, relativo a vaca.

Infectavam-se pessoas com uma doença branda, a varíola bovina, para imunizá-las contra outra muitíssimo mais agressiva.

A pandemia de coronavírus

Estamos vivendo um momento singular no qual o mundo inteiro está tentando se mobilizar contra o resfriado causado pelo coronavírus através da imobilização e confinamento das pessoas em suas casas, suspendendo atividades gerais executadas em outros locais.

Pode-se prever que a imobilidade decorrente do confinamento das pessoas gerará escassez generalizada, problema cuja real dimensão ainda estamos por descobrir, evidenciando haver algo de paradoxal na estratégia imobilista em implementação, no momento.

Dias atrás, foi divulgado o forte argumento de que os problemas causados pelo coronavírus não decorrem de sua letalidade — muito mais baixa do que vinha sendo alardeada anteriormente —, mas da simultaneidade dos casos, congestionando os sistemas de saúde e dificultando enormemente o cuidado dos doentes.

Tal argumento tem agora justificado o confinamento das pessoas e o cessamento generalizado de atividades sociais.

Embora estressante, especialmente para crianças e jovens, e extremamente improdutiva, a imobilidade tem parecido necessária para impedir o fluxo do vírus e o consequente abarrotamento dos sistemas de saúde.

Pudéssemos distinguir e isolar as pessoas pertencentes ao grupo de risco, incentivando as outras a manter sua rotina normal, até mesmo incitando-as a

socializarem-se para que se vacinassem pegando a doença que não os ameaça, conseguiríamos evitar o abarrotamento do sistema de saúde, sem atenuar, ou achatar, a curva da infecção. Teríamos assim, em poucos dias, após a recuperação dos infectados, uma enorme parcela da população naturalmente vacinada e imune à doença. Essa nova situação reduziria a velocidade da disseminação da doença impedindo o abarrotamento subsequente dos sistemas de saúde.

A estratégia me parece promissora, no mínimo, como ponto de partida para a elaboração de variações sobre o tema.

Duas dificuldades, no entanto, me vêm a mente desde já:

A primeira consiste no isolamento seletivo — apenas dos fragilizados —, dificultada, por exemplo, pelo convívio, na mesma casa, de uns e outros. Jovens saudáveis que convivem com pessoas de risco, naturalmente, teriam que se submeter ao isolamento.

Além disso, o retorno seletivo ao trabalho poderia levar patrões inescrupulosos a substituir funcionários do grupo de risco, ação que poderia ser impedida por decreto legal.

Penso que tal estratégia seria mais eficiente que a atual, no combate à doença, e muitíssimo menos onerosa econômica e socialmente que o imobilismo preconizado atualmente.

15 de março de 2020

Gustavo Gollo