MÉDICOS E TAXAS DE SUICÍDIOS (Síndrome de Burnout) - MERALDO ZISMAN

Em toda parte do mundo a taxa de suicídio da população médica é superior à da população em geral. Estima-se que, em média, nos Estados Unidos, suicidam-se 400 médicos por ano. A causa dos suicídios que geram essa grave perda é a mesma de toda a população: quadro de depressão não diagnosticada ou inadequadamente tratada.

Os quadros depressivos são comumente acompanhados de sintomas associados à “comorbidade patogênica”, definida como: “Quando dois ou mais sintomas estão etiologicamente relacionados, síndrome depressiva acompanhada de desordens afetivas, alcoolismo e abuso de substâncias psicoativas” – às quais os médicos têm maior facilidade de acesso…

Dois fatos chamam a atenção: o número de mortes por ingestão de medicamentos ultrapassa o das causadas por arma de fogo, mesmo nos Estados Unidos (e no universo dos médicos), onde há liberdade “mercadológica” para adquirir armas de fogo. O outro é o êxito no consumo de drogas que levam ao autocídio médico, devido aos seus conhecimentos profissionais.

O psicólogo germânico naturalizado americano J. Freudenberger (1926-1999) criou a expressão “Síndrome de Burnout”, ou síndrome do esgotamento profissional (1974) – distúrbio psíquico registrado no Grupo V da CID-10 (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde), como “comoção de caráter depressivo, precedida de esgotamento físico e mental intenso; um estado de esgotamento físico e mental cuja causa está intimamente ligada à vida profissional; consequência do estresse ou do desgaste profissional e avaliação negativa do valor de seu trabalho”.

O termo inglês Burnout é uma composição de burn (queima) e out (exterior) e significa “queima completa” ou “esgotamento total” e, no caso, poderia ser interpretado como um tipo de “estricção” que consome física e emocionalmente o profissional de medicina, mais frequentemente do que os de outras profissões, excetuando os professores profissionais.

Como professor de Medicina, acredito ser de capital importância preparar o estudante de medicina e os jovens residentes para enfrentar as reais condições de seu futuro trabalho e não estimulá-los a utilizar idealizações onipotentes para enfrentar situações de difícil controle durante sua vida profissional…

Mormente no estado atual da nossa Medicina, enquanto não melhoramos esse aspecto da insegurança médica nacional, sugiro um maior treinamento dos responsáveis por nossas Escola Médicas; um incremento de assistência à saúde mental dos jovens estudantes de medicina, médicos residentes e até dos mais calejados e veteranos esculápios.