O AUMENTO DOS CASOS DE AIDS E A FROUXA POLÍTICA DE PREVENÇÃO

Surgida em 1981, no EUA, a Síndrome Imunodeficiência Adquirida (AIDS) foi identificada em consequência do aparecimento de um tipo raro de pneumonia acometida em pacientes imunodeprimidos. Os doentes eram predominantemente jovens e homossexuais; o fato chamou atenção da comunidade médica fazendo-a acreditar sobre a possibilidade de um agente infeccioso disseminando o contágio entre esse público. Rapidamente foi verificado que a doença também incidia em pessoas heterossexuais e sua transmissão se dava pelo uso de drogas injetáveis e pela prática de relação sexual desprotegida.

Em poucos meses o vírus HIV se espalhou por vários países e uma pandemia instaurou-se, sobretudo no continente Africano. O indivíduo soropositivo poderia ficar até dez anos sem nenhum sintoma; mas, quando esses apareciam, traziam consigo infecções ininterruptas que definhavam o corpo em pouco tempo. O diagnóstico era uma verdadeira sentença de morte. Somente em 1985 surgiu o primeiro medicamento contra a Aids, o chamado AZT. Seu poder de fogo era baixo e, somado aos inúmeros efeitos colaterais, pouco modificou o cenário trágico daquela época.

A esperança veio com a chegada do coquetel antiaids, em 1995, tendo, de fato, transformado o panorama apresentado. Doentes em fase final conseguiam a recuperação passando a levar uma vida normal. Daquele momento em diante a Aids foi encarada como uma doença crônica controlável. Aqui no Brasil, em uma medida extremamente exitosa, a distribuição dos medicamentos, de forma gratuita, alavancou o tratamento da moléstia e trouxe mais qualidade de vida aos portadores. 

Se por um lado fizemos a lição de casa na terapia contra a Aids, por outro descuidamos da prevenção. "Como não se morre mais de Aids, eu posso relaxar nos cuidados." Especialmente nos mais jovens, é comum esse tipo de pensamento equivocado. Além disso, a aversão ao uso do preservativo e o início da vida sexual cada vez mais cedo são indícios esclarecedores do porquê estamos vendo o número de contaminação aumentar tão severamente. Para exemplificar, na cidade de São Paulo, em um inquérito feito com jovens homossexuais, atestou 25% deles estão infectados. 

Atualmente, segundo o Ministério da Saúde, cerca de 920 mil pessoas vivem com HIV no País. Nos últimos dez anos houve um aumento de 21% na taxa de contaminados provando ser verdade o fracasso no que tange à prevenção. Corroborando para esse desfecho desfilam duas possíveis causas. A primeira vai no sentido da redução de campanhas publicitárias alertando quanto ao perigo da Aids; e aqui a incumbência é dividida, indo desde o Governo Federal até os Entes Federados. Afinal, os estados e os municípios têm a obrigação de se empenharem nessa diligência.

O retraimento dos pais em abordarem temas ligados à sexualidade com seus filhos igualmente contribui para a problemática. E essa postura está diretamente associada com a filosofia do conservadorismo. Se há vinte anos havia resistência por parte da sociedade acerca desse tópico, hoje parece ter piorado drasticamente. As escolas se esquivam em falar a respeito de educação sexual e tampouco distribuem camisinhas como outrora fez. O governo, para manter-se atuante, faz concessões às forças conservadoras e assim aquiesce com a situação estabelecida.

A junção de todos esses fatores concebe o produto o qual estamos lidando; nesse caso, o aumento exponencial na taxa de propagação do vírus HIV. E por mais otimistas que sejamos, é inegável a inexistência, a curto prazo, de previsão de uma vacina ou mesmo um soro capaz de nos livrar de vez da enfermidade. Logo, é salutar o investimento em políticas públicas nessa área visando enfatizar o uso constante da camisinha e demais medidas de segurança preventiva. O movimento deve ser encabeçado pelos poderes representantes se estendendo à sociedade civil, numa espécie de rede colaborativa onde a finalidade seja conscientização a coletiva. 

Essas ações combatem o problema e ao mesmo tempo incutem em nós um senso de responsabilidade, principalmente nos mais novos. Inconcebível é continuarmos assistindo nossa juventude se infectando por pura falta de informação. Cabe-nos, portanto, a tarefa de instruir nossos filhos a esse respeito na idade propícia do desabrochar sexual. Nos furtar desse encargo é o mesmo que delegar ao mundo tal obrigação; e ao fazer isso poderemos colher maus resultados. Sejamos, então, proativos para ajudarmos a levar esclarecimentos a quem amamos em relação a Aids e qualquer outra pauta com importância semelhante.