Uma propaganda institucional eficiente teria salvo muitas vítimas da covid-19

Nos anos 1980 tive por companheiro de estágio, em São Paulo, um uruguaio que destacou duas coisas (bem diferentes) que chamaram sua atenção no Brasil: as filas e o baixo consumo de cigarros.

Até hoje é notório que o brasileiro fuma, proporcionalmente, bem menos do que nos demais países do continente americano e também nos europeus. A causa, no meu conceito, foi uma ação/reação positiva a uma intensa campanha publicitária dos anos 1970/80 sobre os males do tabaco.

Campanhas publicitárias maciças e bem produzidas funcionam muito bem na área da saúde. O subconsciente trabalha no interior da psique humana para manter aceso o interesse pela sobrevivência e pela saúde, seu fator mais essencial.

Escrevi este texto originalmente em julho de 2020, quando o Brasil já dava sinais de que passaria por uma grave crise sanitária durante a pandemia do covid-19 e o governo federal se negava a tomar medidas rígidas de enfrentamento. Verifico agora na internet que foram 32.912 vidas perdidas naquele mês.

Se o governo da época optasse pelo combate científico contra a pandemia, teria pelo menos duas importantes frentes de batalha: o campo da medicina e o campo educacional.

Mas, como prometia na época e como constatamos hoje, não agiu corretamente nem no primeiro nem no segundo. E o campo de batalha foi ocupado pelo inimigo.

Faltou ao governo federal fazer exatamente o que havia sido feito na campanha antitabagismo. Se fizesse uma campanha institucional eficiente, certamente haveria uma resposta positiva e as consequências da crise epidemiológica não teriam alcançado o espantoso número de 704.659 óbitos, conforme dados de hoje do Ministério da Saúde.

Como se comprovou quando ocorreu a redução do tabagismo por medo das suas consequências maléficas, o instinto de sobrevivência ajudaria fortemente na aceitação das medidas necessárias na prevenção da covid-19.

Não foi um caso de omissão oficial. Em alguns momentos percebia-se até um incentivo para que a população ignorasse a orientação médica e boicotasse o isolamento social.

Grupos negacionistas defendiam a teoria desumana de que "a economia é o mais importante para a sobrevivência da sociedade". Para convencer os incautos, disseminavam informações fictícias sobre uma suposta multiplicação do número de mortos realizada por governadores e prefeitos que boicotavam o governo federal.

Foi um episódio vergonhoso da história brasileira.

Sobre o autor:

Márcio de Ávila Rodrigues nasceu em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, Brasil, em 1954. Sua primeira formação universitária foi a medicina-veterinária, tendo se especializado no tratamento e treinamento de cavalos de corrida. Também atuou na área administrativa do turfe, principalmente como diretor de corridas do Jockey Club de Minas Gerais, e posteriormente seu presidente (a partir de 2018).

Começou a atuar no jornalismo aos 17 anos, assinando uma coluna sobre turfe no extinto Jornal de Minas (Belo Horizonte), onde também foi editor de esportes (exceto futebol). Também trabalhou na sucursal mineira do jornal O Globo.

Possui uma segunda formação universitária, em comunicação social, habilitação para jornalismo, também pela Universidade Federal de Minas Gerais, e atuou no setor de assessoria de imprensa.