TRANSTONO DE ANSIEDADE, COMO VENCER!

 

Ansiedade é uma experiência emocional que nós vivenciamos quando acreditamos que estamos diante da possibilidade de entrarmos em contato com algo, que nós entendemos ser perigoso. É quando estamos em contato com algo que, aparentemente, é maior do que nós mesmos. Isso, é um ponto muito importante por ser o momento em que experimentamos o medo. É, aquele instante quando estamos diante de algo como uma barata, cobra, aranha etc; ou, quando estamos diante de uma prova muito difícil, como no momento em que estamos fazendo o exame de direção para tirar CNH e, aí, nos deparamos com aquela situação que para nós é perigosa; ou, aquelas reações emocionais que experimentamos em outras situações. Chamamos essas reações emocionais de medo; mas, o que sentimos antes de entrarmos em contato com alguma delas, é ansiedade. É por isso que muitas vezes as pessoas não conseguem entender porque que estão ansiosas. Elas não conseguem, conscientemente, vislumbrar o que elas estão esperando e que poderia lhes causar medo, então, a ansiedade vem. A gente pode dizer, para ficar inteligível, é que,  antes do medo, vem a ansiedade; e, que a ansiedade é uma espécie de medo. Medo do antes. Antes de chegar a hora da prova sentimos, ansiedade, no momento da prova, vem o medo. Antes de chegar a hora do teste de direção sentimos ansiedade; Antes de ir para o encontro com uma pessoa que conhecemos sentimos ansiedade. Antes de fazer uma apresentação, sentimos de ansiedade. Ela sempre vem (a priori) antes da experiência, que consideramos, ser perigosa. Existem ansiedades que são facilmente compreensíveis. São da Ordem do bom tempo. Então se você sabe que vai fazer uma trilha, por exemplo, num certo local, e você sabe que naquela trilha existe cobras,  lagartos, você ficará ansioso (a), isso é normal. Você vai fazer uma viagem, e dias antes, brota uma ansiedade, isso, é normal. Todavia, se você disser: tenho várias crises de ansiedade. Chego a ter crises de pânico, descontrole e desconforto; como faço para controlar isso; como posso melhorar esses momentos? Quero explicar para você de maneira bem direta e didática, como é que a psicanálise trabalha com esse tipo de demanda. Muitas pessoas sofrem com a ansiedade excessiva. Essa é uma queixa muito comum nos consultórios terapêuticos do mundo inteiro, e quando uma pessoa sofre dessa condição, ela procura um psiquiatra. A grande maioria dos psiquiatras dirão para essa pessoa que ela precisa tomar alguns medicamentos e vai lhes recomendar sessões de terapia cognitivo comportamental; infelizmente, muitos psiquiatras acreditam, que apenas, a terapia cognitiva comportamental goza de legitimidade científica para ser administrada; ou, para ser colocada como um tratamento para os transtornos de ansiedade e para transtornos mentais; de maneira geral, tem muito psiquiatra por aí que ignora a literatura científica e não sabe que as terapias psicanalíticas de forma geral, e eu coloco, aqui, no plural porque na psicanálise nós temos várias orientações teóricas. As terapias psicanalíticas também são extremamente eficazes contra os transtornos de ansiedade eu vou explicar. A psicanálise aborda o problema da ansiedade excessiva e, como trabalhamos, esses problemas. A primeira coisa que a gente precisa entender, é, o que é a ansiedade? E isso, já sabemos. Vamos falar disse, na prática.  Fazer uma prova de direção, como já citamos acima. Dias antes, começamos a dizer para nós mesmos: não vou conseguir;  não vou conseguir, e repetimos isso, exaustivamente até ao dia da execução. Então surgem as peguntas:  e, se eu for reprovado na prova? Terei que fazer a prova outra vez. Terei que pagar uma nova taxa. E, isso, exacerba mais ainda, quando não somos nós que estamos pagando por todo o processo. A questão é, por que isso gera essa ansiedade tão grande, como se fossemos morrer, por ter que fazer uma nova prova, ou pagar uma taxa novamente? Iremos morrer se não fizermos o teste de direção; isso implicará algum risco à nossa sobrevivência? Não! Não tem sentido. Não há motivo para ficarmos ou nos sentirmos assim, tão ansiosos (as); apenas, por termos que fazer tudo novamente. Isso prova que o problema não é a prova de direção. A verdade é que não temos medo da prova de direção, objeto da nossa ansiedade. Se não é a prova de direção! Então, por que ficamos sem dormir antes da prova? Porque ela, é apenas um gatilho que vai evocar em nosso inconsciente, determinados conteúdos, que provocam o medo em nós. Esses, sim, estão na raiz da ansiedade excessiva que apresentamos. Deixe-me dar um exemplo do que pode estar acontecendo em um caso como esse. É possível que quando criança tenhamos tido uma relação bem complicada com nosso pai, que era, ou, ainda é, muito agressivo; muito ignorante; muito autoritário, e nós então sofremos, ou tenhamos sofrido na mão de nosso pai ainda quando criança. Evidentemente, como ninguém é santo; ninguém, é anjinho, nós, desde criança, fomos nutrindo em nós um desejo negativo em nós; só que ele é nosso pai. Temos que manter esse desejo negativo, essa raiva, esse ódio, tudo reprimido em nós. Tudo isso, então, ficou em nosso inconsciente. A questão é! Por que nós não reconhecemos esse ódio? Por que nós não olhamos para esse ódio e falamos: eu tenho ódio do meu pai mesmo! Eu o odeio! Meu desejo é matar esse cidadão. Por que não falamos? Por que não fazemos o que sentimos? Porque temos parâmetros, princípios e leis que nos rege; porque temos medo de nosso pai; porque o pai era, ou ainda é, muito autoritário; bruto, agressivo, ignorante e também, porque, o amamos; o veneramos; o admiramos, por mais ignorante que ele fosse, ou seja. Por conta desses fatores mantivemos esse ódio reprimido em nos, com esse ódio reprimido pelo pai, vamos lá fazer o teste de direção para a CNH. É preciso fazer o teste acompanhado de um examinador — isso que digo, é apenas um exemplo. Não estou generalizando — ali do lado ou no caso da moto, ele fica observando no percurso. Pode ser que a esse momento evoquemos à nossa cabeça, aquela relação complicada que tivemos, ou temos, com nosso pai, e o ódio suprimido em nós em relação a ele, seja o gatilho que disparará uma crise de ansiedade ou pânico e, fazer-nos travar. Não saber o que fazer ou, como fazer. Fomos estimulados a fazer contato com o ódio reprimido que temo e não queremos fazer esse contato, temos medo de reconhecer esse ódio e aceitar esse ódio. É preciso saber que essa nossa ansiedade não está relacionada ao teste em si, mas, àquilo que o teste evoca. O ódio que temos por nosso pai. O ódio reprimido, então, o teste, a prova de direção, é apenas um gatilho; porque, o que temos medo fato, é do ódio, que sentimos por nosso pai. Outro exemplo, é que sentimos uma ansiedade enorme na hora de fazer uma aula. Vamos pensar, racionalmente sentimos uma ansiedade acessível porque imaginamos que ao chegarmos lá, alguém irá nos alvejar com uma arma ou o professor (a) irá bater em nós; ou, que iremos sofrer algum risco de vida ao fazer uma simples apresentação de trabalho em classe. Claro, não é racionalmente compreensível que alguém fique tão ansiosa, apenas, por fazer uma simples apresentação de trabalho em sala. Isso prova que a fonte da nossa ansiedade não está relacionada ao simples fato de fazermos uma apresentação. Nada adiantara, se alguém nos disser: olha, ninguém vai rir na sua cara. A professora não vai fazer perguntas muito difíceis. Ninguém vai ficar te olhando. Não adianta. Não adianta porque não é isso que de fato tememos. A nossa ansiedade está vinculada àquilo que é evocado por essa situação de aprendizado. O que pode estar sendo evocado nesse caso? Talvez, na infância, tenhamos sido educado por um desejo exibicionista. Explico: Todos nós quando crianças vivenciamos, naturalmente, gostarmos de nos aparecer. Gostamos de nos mostrar, sobretudo, para os nossos pais; mas, tem algumas crianças que infelizmente acabam sendo podadas excessivamente em sua infância. Existem muitos pais que quando a criança começa a se exibir, como de repente, ficar peladinha diante dos pais, ou diante de visitas. Os pais condenam, brigam, censuram, o comportamento da criança, de forma muito veemente ou, muito violenta. Isso faz com que a criança tenha que reprimir aquele desejo natural que ela tem de se mostrar. Aquele desejo natural de se exibir. Então, quando adulto se encontra diante da apresentação — por exemplo — em sala de aula, essa situação de exibição de apresentação evoca no inconsciente dela aquele desejo exibicionista do qual teve que se reprimir, e, o resultado, ela passa a ter medo desse desejo de condenar os pais que a fizeram ter que se reprimir. Ela tem medo desse desejo e como esse desejo está sendo evocado pela situação de apresentação em sala de aula, ela então, fica com ansiedade excessiva. A ansiedade parece estar ligada à situação de apresentação, mas, essa situação é só um gatilho que de fato essa pessoa tem, é o seu desejo, reprimido de se exibir. Nesse sentido então, como é que a psicanálise trata esse tipo de problema. Esse tipo de situação? O que a gente faz na terapia psicanalítica? A gente ajuda a pessoa a identificar que a situação que ele acha está causando a ansiedade, mostrando que é apenas um gatilho. A gente ajuda esse sujeito a compreender a identificar a reconhecer a discernir quais são os elementos que estão no seu inconsciente e que estão sendo evocados por aquela situação. Na prática, como é que acontece isso? Acontece de uma forma não sistemática. Não tem como fazer, ou criar um passo-a-passo. Como: acontece isso primeiro, depois aquilo, depois aquilo outro, etc. Não é assim que funciona a vida. Não tem esse isso de passo a passo no processo terapêutico. É um processo que vai acontecendo, a gente vai discernindo a evolução do processo, mas, não temos como dizer: faça isso, ou faça aquilo. Dizer, faça aquilo, não é procedimental. Não é algo mecânico. O paciente vai falando sobre como ele se sente na hora de fazer apresentação. Ele vai falar de uma lembrança, de repente, de uma apresentação que ele fez quando ele era criança. Daqui a pouco ele estará falando da relação com a mãe, com o pai, até que ele, pouco a pouco, vai juntando as pecinhas do quebra-cabeça. Nesse movimento de associação o paciente fala de uma coisa, depois fala de outra; depois fala de outra, e ele vai percebendo, claro, com ajuda do psicanalista, as conexões entre uma coisa e outra. Então! Ele começou falando da situação de fazer uma prova de direção e daqui a pouco, ele estará falando da relação dele com o pai; e aí, ele vai fazendo as conexões entre uma coisa e outra. O analista, também, ajuda o sujeito a perceber de repente, que ele usa a mesma palavra, para falar da prova de direção, que ele usou para falar da relação com o seu pai. O analista percebe isso e mostra para ao sujeito. Olha, tem uma coincidência aqui. Será que é só coincidência mesmo? Isso vai ajudando o sujeito a perceber as vinculações das conexões. E aí ele vai fazendo esse percurso retroativo e sai da situação imediata, que está em tese, lhe causando ansiedade; mas, na verdade, só está provocando nele a saída dessa situação imediata, fazendo as conexões. Até chegar na verdadeira fonte da ansiedade, e nesse processo, graças a relação que essa pessoa estabelece como psicanalista, ela vai se tornando cada vez mais confiante, cada vez mais seguro (a) de si; cada vez mais forte, para quando chegar na hora de ter que reconhecer o ódio pelo pai, o desejo exibicionista. Na hora de ter que reconhecer isso, essa pessoa já vai estar suficientemente forte para fazer contato com esses elementos reprimidos. E aí na hora que ela topar; na hora que ela conseguir; na hora que tiver segurança suficiente para reconhecer o ódio pelo pai o desejo exibicionista reprimido. Reconhecendo, fazendo contato, assinando embaixo desses elementos reprimidos, ela então vai finalmente não precisar mais se sentir tão ansioso (a), porque ele não vai ter medo mais desses elementos que estavam recalcados. Ela vai perder esse medo e, portanto, não vai precisar ter medo da situação de fazer a prova. Não vai precisar ter medo da situação de apresentação, porque a verdadeiras fontes dessa ansiedade, foram neutralizadas. O sujeito já não tem mais medo do seu inconsciente, logo não precisa mais ficar tão ansioso em relação a situações do lado de fora, é assim que a gente trata a ansiedade na psicanálise.

 

Autor: psi, Jeovan Rangel