Dois heróis ridículos

Todos nós gostamos de heróis. Quem nunca passou horas assistindo às aventuras de algum? Dois, inclusive, têm povoado há muito tempo a imaginação dos telespectadores: Superman e He-Man. Meninos, há gerações, fantasiam ter suas habilidades inigualáveis. Falando nesses dois, há aspectos a discutir sobre eles, que talvez não agradem a seus fãs.

O Superman não usa máscara. A única coisa que muda quando Clark Kent se despe de sua roupa comum e assume a personalidade do herói é que ele tira os óculos. Fora isso, continua com a mesma cara. qualquer pessoa, sendo um pouco observadora, veria que o apagado repórter do Planeta Diário e o Homem de Aço têm o mesmo porte físico, voz e altura. Como a curiosa Lois Lane, sendo tão esperta e tão íntima tanto de um como do outro, não o notava? Vale acrescentar que, quando um sumia, o outro aparecia. Tudo tão óbvio e ninguém o percebia. Assistindo ao filme Superman, com o inesquecível Christopher Reeve, um bocado de gente deve ter se perguntado o que ele viu na Lois Lane.

A mulher era chata, arrogante, só pensava no seu trabalho e tratava o coitado com indiferença, dando a impressão que o via como um serviçal, sempre à disposição dela. Não parecia estranho que um homem tão cheio de qualidades fosse sozinho e não chamasse a atenção? Sim, porque reunia uma lista inumerável delas: força, inteligência, beleza, caráter. Mas, na pele de Clark Kent, ele não chamava a atenção. Tomavam-no por um desenxabido, sem graça. Só quando usava aquele colante bem revelador é que se tornava brilhante e Lois lhe dava importância.

Em He-Man, além do já conhecido fato de ninguém reparar que, sumindo o príncipe Adam, surgia He-Man, há mais coisas a avaliar: a roupa esquisita do príncipe, que é cor-de-rosa e lilás (cores bem suspeitas), muda para uma minúscula e ridícula tanga. Acrescente-se que ele fica com uma cor de dar inveja a quem faz bronzeamento artificial. O seu visual é bem estranho. O cabelo louro é um Chanel sem fio fora do lugar, que chega ao fim de cada episódio sem estar assanhado. Como ele anda por pântanos, florestas, escala montanhas com as mãos nuas, enfrenta monstros e vilões sem sofrer um arranhão, suar ou se sujar, estando quase nu? As roupas dos personagens do desenho não os protegem, porém, eles não se ferem. São reveladoras, é a verdade. Porém, não há o menor sinal de sexualidade ou interesse romântico.

Heróis e vilões não trocavam sopapos. He-Man se limitava a arrumar a bagunça feita pelo Esqueleto. Isso é risível hoje em dia.O protagonista, apesar de sua aparência viril, dá a impressão de ser um anjo. É perfeito demais, nunca erra, sempre sabe o que dizer ou fazer. Nem emoção ele parece ter. Some-se a isso que ele dá a impressão de ser assexuado.

Hoje, muita coisa mudou. Em toda história de herói eles se machucam, têm dúvidas e dilemas de consciência, podendo ter ódio inclusive. superman e He-Man em nada parecem com o selvagem Wolverine, que luta esbravejando e não é um modelo de beleza, simpatia ou cavalheirismo. Não dá conselhos nem quer faz questão de ser exemplo para os outros ou modelo de virtudes. Ele tem vícios, desejo de vingança, diz o que pensa. Quem gostar dele, que goste. Quem não gostar, que aguente. Ele não mudará para agradar.

Hoje, ser herói não é ser perfeito. Herói pode ser vulnerável, ter defeitos e errar. Enfim, tirando seus poderes fantásticos e os trajes, são tão falhos como nós.