APARÊNCIAS

APARÊNCIAS

Quanto mais humilde é a casa que serve de moradia para a gente; quanto mais velhinho é o carro que serve de meio de transporte e quanto mais simplório é o modo de a gente se vestir, tanto menos – em tese – desperta nos amigos do alheio o desejo de tirar-nos algo. São as aparências humildes que, normalmente, indicam as posses ou não que temos, se bem que isso se pode aplicar como regra e, quando há regras, também há exceções.

No fim do ano passado recebi um dinheirinho extra do FGTS que não estava contabilizado no meu orçamento doméstico e, de pronto, resolvi melhorar a garagem e a cerca na frente da minha casa. Ambas as pequenas melhorias feitas, a grade alta e o portão de elevação equipararam-se aos dos vizinhos, deixando mais bonita a rua.

Era uma rua tranquila, sem muito movimento, sem barulhos excessivos, num amor de bairro. Aqui dificilmente acontecia alguma coisa diferente do convencional. Não existem na rua bares que pudessem originar brigas. Muito difícil era saber-se que tal ou qual casa fora visitada pelos larápios. E, para culminar, os cachorros da rua são todos guaipecas que não mordem ninguém e, com o barulho que fazem rua acima e rua abaixo, juntos cuidam de todas as residências.

Deve ser o aspecto bonito e residencial que as grades altas dão a entender serem os donos abastados. Fato é que, nestes poucos meses da existência das grades, os danados dão-se ao trabalho de pular a cerca para tirar o pouco que a gente tem. Assim, só aqui em casa, limparam por duas vezes, o varal e... só tiraram roupa aparentemente nova. Não foi prejuízo de grande monta, mas, para uma família de seis membros, qual seja a do meu genro de quem sumiu a roupa porque sua casa é no mesmo terreno, tirar duas vezes a mesma quantia do seu orçamento doméstico para pagar três vezes o que aproveitou uma só, muitas vezes sai fora dos parâmetros dos gastos domésticos traçados para aquele mês ou parte do ano.

Essas coisas fazem a gente pensar que já se faz necessária uma reestruturação dos moldes com que a briosa brigada militar cuida dos direitos e deveres de cada cidadão. A meu ver é preciso que uma patrulha deveria ser encarregada de perambular pelos bairros (todos eles) para um patrulhamento mais ostensivo. Ainda que essa ronda fosse só algumas vezes após a meia noite – quando essas coisas soem acontecer – poria em fuga possíveis candidatos ao xadrez.

Afonso Martini
Enviado por Afonso Martini em 04/05/2010
Reeditado em 06/05/2010
Código do texto: T2236190
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