Ser pai no “Exílio do Esquecimento"

As mães que me desculpem, mas ser pai também é um fato e um ato de AMOR !

Por isso, direi aqui tão somente o que se refere à Dádiva de “ser” pai.

Não se trata de uma disputa sobre a importância de cada um, pois mãe sofre pelos filhos com muita freqüência e intensidade, mesmo antes de dar à luz, enquanto o pai, na maioria das vezes observa calado, fazendo calar também as suas emoções, para dar lugar e condições à razão, que aliada à serenidade e à sensatez necessárias, consiga identificar com clareza as reais situações conflitantes, nas quais os filhos se encontram, na medida em que avançam nas suas descobertas sobre o mundo que habitam, principal origem das suas dúvidas, incertezas e inseguranças.

O desconhecido assusta ! Tudo aquilo que foge à nossa compreensão, causa medo. E para amenizar tais sentimentos, esclarecer as dúvidas desconfortáveis, tranqüilizar as inquietudes, proporcionar a segurança, existem a experiência e a sabedoria, armazenadas em lugar especial, mais precisamente na bagagem de vida daquela pessoa que se propôs, incondicionalmente, a garantir as orientações eficazes, verdadeiras e confiáveis no momento certo e da forma mais adequada, conforme a necessidade dos filhos, e que mesmo dentro das suas limitações e imperfeições, essa pessoa se apresente num perfil popularmente conhecido como “pai”.

E por maiores e numerosas limitações e imperfeições que um pai possa ter, antes de tudo, ele ama seus filhos, quer protegê-los e orientá-los no decorrer das suas existências, com afeto, compreensão, cautela e satisfação, para alcançar o seu objetivo maior, que é tão somente “ser” pai, em toda a sua plenitude e para a sua maior felicidade, durante a sua breve estada no plano terreno, enquanto ser vivente.

Entretanto, a tendência natural inerente ao desenvolvimento dos filhos, é alcançar a independência, tanto intelectual quanto material, o que se traduz na escolha, preparo e formação de uma profissão, promovendo a satisfação de suas aptidões para o trabalho, e, conseqüentemente o provimento do seu próprio sustento e de sua futura família, se assim o quiser. É a pura e simples repetição de um ciclo, originado em um passado longínquo e que pode se repetir até um futuro muito distante.

Contudo, até que isso aconteça, e mesmo após a conquista da auto-suficiência, da liberdade há muito esperada, da condição de tomar as suas próprias decisões, existe um longo processo de cognição, sem o qual os objetivos almejados tornam-se muito difíceis, ou até mesmo impossíveis de serem alcançados.

Repito: o presente texto está sendo escrito para os “pais”, aqueles que assumiram em verdadeiro AMOR à fecundação, tamanho desafio e responsabilidade, dispensando aqueles esportistas, tão somente do sexo, os irresponsáveis.

Repito ainda: que as “MÃES” me proporcionem a oportunidade deste “desabafo”, respeitando os sentimentos de um pai que necessita dessa compreensão, uma condição basilar de realização pessoal.

O fato é que, após anos e anos de acompanhamento dos filhos, mesmo que à distância, estes seguirão as suas próprias experiências, descobertas, conquistas e fracassos, enquanto o “pai” sai de cena, e, sem nenhum direito de cobrar o que quer que seja, uma vez que sublimou a sua condição de “pai”, há de exercitar e de se acostumar ao esquecimento, pois agora, o mundo pertence a eles em uma dinâmica muito diferente, e muitas das vezes incompreensível àqueles que participaram de suas origens.

Assim, por mais difícil e penoso que seja, o afastamento é de ordem natural, que dimensiona um espaço, um lugar para uma espécie de exílio, o “Exílio do Esquecimento” !

E, após muito sofrimento, consigo compreender, hoje, que as lamúrias de ontem não procediam, pois o livre arbítrio é essencialmente personalíssimo.

À todos os pais, o meu respeito.

Por Alexandre Boechat,

Em 28 de Setembro de 2009.

Alexandre Boechat
Enviado por Alexandre Boechat em 28/09/2010
Reeditado em 29/09/2010
Código do texto: T2526668
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