UNIVERSALIDADE

Quando menina lia uma frase na fachada do Palácio Olímpio Campos: DURA LEX, SED LEX. Aquilo me intrigou até o dia em que, durante as aulas de latim do Curso Clássico de Humanidades do Atheneu, o professor pronunciou a frase e incluiu o significado.

Mais para cá no tempo, li em algum lugar algo semelhante a dizer que, se todos bem soubéssemos, faríamos o Curso de Direito, mesmo que não quiséssemos assumir a profissão.

De outra feita, alguém afirmava que, ainda parados e imóveis, sentados em uma cadeira, estaríamos infringindo alguma lei. Depois disto tenho sérias dúvidas sobre meu comportamento e, em alguns momentos tenho a sensação de haver cometido um crime qualquer de que não tenho consciência.

Andei lendo sobre Direito Internacional e conceitos de detenção e denegação. Isto em virtude de haver passado pelas duas situações. Mediante a complexidade da Ciência Jurídica resolvi ser melhor abandonar as leituras, pois sei que mesmo especialistas em ramos dessa área têm dúvidas e precisam consultar diversos compêndios.

Como fazer, então, para ser feliz e ser poeta, em um mundo coberto de legislações e que, de repente, nos fazem sentir culpados, reus, devedores?

A partir da leitura de textos jurídicos sobre a movimentação de cidadãos pelo mundo, fiquei apavorada diante dessa coisa sem nome que temos tão entranhada e que nos faz românticos, sonhadores com o exotismo oriental; as belezas de Paris e da Grécia e tudo o mais que existe pelo mundo.

Quão inocentes somos! Cresceu em mim a sensação de ser mais seguro ficar no quintal de minha casa e sob a mangueira ouvindo o canto dos passarinhos _ o que não é mais que romantismo.

Por outro lado, e agora que em mim se estabeleceram as ideias não assim tão novas com as da aldeia global, de McLuhan, e os princípios de cidadania universal que nos fazem sentir íntimos do mundo inteiro, de todos os povos, de todos os continentes _ não consigo mais me colocar dentro de limites de patriotismo e de querer bem apenas ao que é supostamente meu, nosso.

Talvez esteja pensando errado, ao contrário do que pregava Paulo Freire em sua canção de “leitura de mundo” e de “pensar certo”. E agora? O que é pensar certo?

Seria pensar certo o distanciamento entre teoria e prática? Mas justo isto o mesmo Paulo condenava e propunha o casamento da teoria com a prática! Como seria dizer que somos todos seres humanos de um mesmo planeta e nos desconhecemos pelos limites convencionais de um rio, de uma cordilheira de montanhas, de tantos outros marcadores/cercas?

Para que o Dia da Confraternização Universal? Para que o Natal de Cristo se só significa uma fachada? Para que pensar em língua universal se agora parece que nos desconhecemos uns aos outros, seja pelo tom da pele, pelo volume da conta bancária e por títulos honoríficos?

Acabou a festa, apagam-se as luzes e tudo volta a ser como “d’antes no quartel de Abrantes”.

Não aceito ficar no canto, sem conhecer outros lugares, sem ampliar experiências e sem me aproximar de outros humanos, mesmo sendo por uma amostragem mínima. Não concebo conhecer totalmente a minha casa, desde as suas fundações ao teto, pois moro em uma rua que fica dentro de uma cidade que, por sua vez, pertence a uma região do país onde nasci. Este país é vizinho colado em outros que formam a América do Sul e esta não está sozinha na Terra, mas representa uma construção onde entram as mãos de outros povos de diferentes continentes. Não somos apenas brasileiros. Somos um pouco africanos, um tanto europeus e mais outro tanto indígenas. Não é possível esperar conhecer todo o meu país e todo o continente onde se localiza, pois nem sequer eu me conhecerei um dia totalmente.

Acredito que precisamos sim, estar em contato com indivíduos de todas as partes da Terra para sermos mais amigos, mais solidários, mais compreensivos de que somos irmãos. Essa aproximação cria laços de amor que anulam pensamentos de guerra e de antipatias.

Precisamos fazer do amor algo mesmo universal, verdadeiro e não apenas amor entre indivíduos de uma família isolada, uma ilha; amor pelos animais; amor pela natureza ou amor carnal entre um homem e uma mulher ou ainda qualquer outra manifestação amorosa. Esperemos assim que as mensagens de amigo e de amor não sejam apenas formalidades sociais e prazeres capitalistas.

taniameneses
Enviado por taniameneses em 07/12/2010
Reeditado em 07/12/2010
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