PATRIOTISMO

Posso dizer do clima de ufanismo e de “pise firme que este chão é seu” no qual fui criada. Frequentei escolas muito cônscias do amor à pátria, aprendi hinos desde o Nacional até o do Estado de Sergipe, entre tantos outros; cantei de coluna ereta, mão no peito e olhos grudados nas bandeiras; senti emoções fortíssimas de amor pelo Brasil; desfilei em todas as comemorações ao dia 7 de setembro e outras datas cívicas; “puxei” pelotão de colégios; desfilei como guarda de honra da bandeira nacional e ensinei o amor à pátria aos meus alunos. Portanto, não me sinto devedora.

Gostaria, neste texto, não de me queixar do Brasil, a terra, a beleza, a geografia, a aura, coisa alguma. Eu sou o Brasil com tudo o que ele tem e dá. Mas, alguns fatos que não enumerarei são motivos suficientes para abalar o amor que sinto pela minha nação. Mais exatamente pelos dirigentes e suas atitudes que nem sempre são de amor ao país.

Utilizo este espaço para recordar os tempos de glamour quando pessoas viajavam na qualidade de turistas por várias partes do planeta e não eram taxadas de antipatriotas e nem suspeitas de serem terroristas ou fugitivos de seu país.

Não entendo tantas contradições modernas e vejo em tudo isto um perigo para o setor de turismo e para o respeito à cidadania mundial.

Noto que muitos cidadãos ainda julgam que atitudes de inadmissão a países estrangeiros são direcionadas apenas a brasileiros ou a pessoas de pele morena. Há um engano nisto e quem se der ao trabalho de pesquisar, observará que, essas denegações que vêm ocorrendo, na Espanha e em outros países, atingem duramente todo tipo de seres humanos.

Durante a minha permanência nos alojamentos da Polícia Federal no Aeroporto de Barajas, estive acompanhada de cidadãos de outros países e de todo tipo de cor de pele, incluindo loiros. Havia ali também uma criança cujo aspecto era o de dois anos de idade apenas.

Trata-se de um problema maior e que exige novos estudos e novas leis que se voltem para o cuidado com os viajantes agora ameaçados com os fantasmas da detenção e da denegação. Serviços de melhor qualidade e desempenho poderiam estar funcionando em aeroportos, de tal sorte que não passássemos por situações vexatórias no país que visitamos e menos ainda no nosso, naquele onde nascemos, temos família e amigos.

Voltamos para casa com o “rabinho entre as pernas”, devolvidos para os nossos países. E, com que cara e coragem participamos tal fato aos amigos e familiares, às repartições onde trabalhamos? Não seria eu mesma a sentir vergonha, mas os dois países: o que me denegou e aquele que é meu berço.

Coisa alguma pode impedir que alguém desenvolva simpatias por outras nações, povos, costumes e tradições. Assim não amaríamos Portugal, responsável pelo descobrimento e colonização do Brasil. De tal maneira e lógica, brasileiros, descendentes diretos de povos ocidentais e também de orientais que para aqui vieram, formaram família e se estabeleceram, não teriam o direito de amar a terra de seus pais e avós.

Patriotismo não é um amor cego e irracional ao rincão onde nasci, mas um amor maior e que atinge os mais distintos pontos da Terra. O patriotismo apaixonado e ciumento só leva à destruição e humilhação de seres humanos que sonham com a Paz Universal.

Hoje recebi um comentário de um site estrangeiro que, inclusive se prontificou a publicar a minha CRÔNICA DE VIAGEM À TERRA DE CERVANTES, deixei amigos espanhois indignados e envergonhados pelo que aconteceu a mim e ao meu neto no Aeroporto de Barajas no dia 1 de dezembro de 2010. Por outro lado, tenho espaço, sim, no Brasil, para publicação, como é exemplo o RECANTO DAS LETRAS. Entretanto preciso dizer que, a esta altura e data, apesar de diversos e-mails enviados para órgãos públicos da maior importância, apenas recebi uma resposta, a do Consulado Geral em Madri.

Para concluir eu ouso dizer que quem precisa mesmo ser patriota e demonstrar amor e assistência aos seus filhos é o meu país. Ser detido e denegado é igual ao câncer, só acreditamos quando ele nos acomete.

taniameneses
Enviado por taniameneses em 10/12/2010
Código do texto: T2664365
Classificação de conteúdo: seguro