Saudade da beleza de Sete Quedas

Quem nunca sentiu saudade de alguma coisa que existiu e que infelizmente jamais terá a oportunidade de ver, pois este objeto do desejo de sua alma já não existe mais?
Pois é, fazem 29 anos que a monotonia do grande lago de Itaipu sepultou para sempre as Sete Quedas do Rio Paraná numa lamentável demonstração que a força do progresso exerce sobre o ser humano e as belezas da natureza.
Embora muitos achem que o grande lago tenha suas belezas pela grandiosidade, e outros que achem que o Parque Nacional de Ilha Grande que foi formado depois do alagamento da região, substitua  Sete Quedas, acho que na alma daqueles que ouviram a vida de Sete Quedas pulsar na maior queda de água em volume em todo o mundo nada vai substituir e o que vier o homem a fazer justificará a morte de Sete Quedas do Rio Paraná, uma beleza ímpar e inesquecível, um presente de Deus aos olhos humanos e que o próprio homem num descaso sem precedentes, sepultou para a eternidade.
Ela rivalizou Com o Niágara, com Zambezi e com as magníficas Cataratas do Iguaçu em beleza e foi maior que todas em volume de água, foi patrimônio natural da humanidade, contemplou milhões de pessoas com sua plural beleza, turistas que sempre e pirncipalmente nos últimos tempos antes do alagamento, cercaram de um carinho emocionado as maravilhosas quedas.
Por volta do dia 14 de Outubro de 1982, começou o represamento da usina de Itaipu e a partir do dia 27 do mesmo mês, Sete Quedas já era saudade, um pedaço de quem amou as Sete Quedas acha-se repousado nas profundezas do Lago de Itaipu.
Esta é uma saudade e um sentimento deste que não conheceu as Sete Quedas, mas que já a conhecia por fotografias estampadas em caixa de fósforos, e que um dia sonhava em conhecê-la, mas que infelizmente não foi possível.
Não há resgate para algo sepultado pelo progresso, que pode ser bendito aos olhos humanos, mas neste caso poderia sentir ser maldito aos olhos de Deus.
Itaipu trouxe progresso no setor da eletricidade, como poderiam ter trazido o mesmo progresso várias usinas ao longo do rio, sem destruir Sete Quedas, mas se isto serve de reflexão eu poderia dizer que o lago, todo ano leva dezenas de vidas em suas águas, serve de caminho para o contrabando que tanto prejudica o produto nacional, e ainda as muitas mortes nos canteiros de obras, que o regime militar escondeu num calamitoso descaso com a vida humana, em favor da construção da usina. E para completar, mais de 30 pessoas morreram nos últimos dias de Sete Quedas, ao superlotarem as passarelas pênseis, e que devido a isso, uma delas desabou sobre a corredeira, que mais parecia ser um protesto veemente e um ultimo grito de dor da magnífica obra da natureza, morta pelas mãos insensíveis do homem.
Passaram as Sete Quedas, sob dor, sob saudade, sob o desejo de vê-la para sempre, passaram as Sete Quedas, e que ao olhar o grande e silencioso lago, os homens que sepultaram esta beleza encontrem paz para suas almas, e mais tarde sintam o quanto dói não ter este presente de Deus para compartilhar com as gerações vindouras, inclusive as suas. 
O que eu desejo é esta interrogação faça parte da alma de cada um, como faz parte da minha alma que não conheceu as Sete Quedas do Rio Paraná, e por ela nestes 29 anos minha saudade e minhas lágrimas.
 



Malgaxe
 
Malgaxe
Enviado por Malgaxe em 02/01/2011
Reeditado em 02/01/2011
Código do texto: T2704741
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