Mortes desnecessárias

A tragédia causada pelas enchentes no Rio de Janeiro, além de nos entristecer com o grande número de mortes, leva-nos a perguntar quantas pessoas ainda terão que morrer para que providências concretas sejam tomadas e mortes desnecessárias possam ser evitadas. O Brasil não é o único país sujeito a desastres naturais. Pensemos no Japão. O país vive prevenido contra terremotos e todos os seus habitantes são treinados para como agir quando eles ocorrem. Nos Estados Unidos, onde há uma grande ocorrência de tornados capazes de fazer voar uma caminhonete, os cidadãos têm abrigos subterrâneos e as autoridades e cientistas sabem como agir para evitar o maior número possível de mortes. A Austrália, que teve uma enchente talvez tão devastadora quanto a da região do Rio de Janeiro, sofreu com muito menos mortos. O que isso nos faz ver? Que várias mortes eram evitáveis.

Vidas foram ceifadas em vão, essa é a sensação que fica. Não foi vontade de Deus, nem capricho do destino, mas resultado da negligência, descaso e incompetência das autoridades, que nunca agem enquanto é tempo e parecem só se lembrar que algo deve ser feito depois que essas tragédias ocorrem. Por enquanto, há a comoção. Mas, depois que ela passar, tudo será esquecido e ninguém pensará nos mortos, nos que perderam casas e parentes, ou nos que não têm para onde ir e moram em áreas de risco. Não, não se pensará neles quando eles deixarem de ser assunto para manchetes porque são gente pobre, esquecida pela classe privilegiada e pelo governo, que apenas recorda que eles existem em épocas como essa ou em tempo de eleição.

Essa tragédia, além de tudo, mostra as falhas da nossa Administração, do nosso serviço de segurança e a indiferença com que os desfavorecidos são tratados pelos que com eles deveriam se importar. Os favorecidos deveriam pensar que eles são seres humanos, com sonhos e direito a ser felizes como qualquer outro ser humano. O fato de não pertencerem às elites não os torna menos merecedores de terem seus direitos garantidos. Lembremos disso e não os esqueçamos. Façamos coro a eles. Talvez, se o fizermos, as autoridades façam algo e mais mortes desnecessárias sejam evitadas.