Jeitinho, público e privado

Wilson Correia

O jeitinho brasileiro é aquele modo de agir que se coloca para além da lei e da norma ética (BARBOSA, 1992). É por esse caminho que há o emaranhado das relações incestuosas entre o público e o privado, as quais confundem o bem comum com o bem particular, como nos informa Marilena Chauí: “Estamos confrontados com o encolhimento do espaço público e o alargamento do espaço privado” (CHAUÍ, 1992, p. 345). E isso não é de agora.

O encolhimento do espaço público e republicano significa o encurtamento do alcance da cidadania e cidadania é o de que mais precisamos para fortalecer nossa democracia republicana. O alargamento do privado significa o agigantamento do individualismo possessivista, à custa, injustamente, do trabalho do conjunto de cidadãos que compõem um grupo, uma comunidade, uma nação, e de individualismo possessivista nós já estamos fartos.

É nessa onda que assistimos, diariamente, ao bem público sendo usado como se privado fosse. E é pensando nesses descalabros e na prevenção ao uso do bem público em proveito egóico, individualista e particular que sou a favor da tese, corriqueira entre nós, funcionários públicos, (sobretudo, professores) de que eventos que envolvam a universidade pública sejam realizados nos espaços públicos dessa universidade.

Nossos espaços públicos, abertos a todos, independentemente de taxa, consumo e ‘couvert’ artístico, justamente por que mantidos com impostos do coletivo de cidadãos, tornam-se os espaços mais democráticos em nossas democracias. É disso, repito, que precisamos para fortalecer a nossa democracia.

Quem não é afeito às regras democráticas, talvez não consiga entender isso. Paciência! Nosso papel de educadores é sempre o de alertar e de denunciar as relações incestuosas entre o público e o privado, essa praga que campeia nossos Brasis.

__________

BARBOSA, L. “O jeitinho brasileiro”. Rio de Janeiro: Campus, 1992.

CHAUÍ, M. ‘Público, privado, despotismo’. In: NOVAES, A. (Org.). “Ética”. São Paulo: Cia. das Letras, 1992, p. 345-390.