Influência Homérica na Ética a Nicômaco

A filosofia com Platão já havia alcançado um nível conceitual, pode-se afirmar que Aristóteles pelo rigor de sua metodologia, e seu desempenho em considerar todas as áreas do conhecimento humano. A ética aristotélica continua sendo uma das bases fundamentais do pensamento humano. Dentre os escritos de Aristóteles a Ética à Nicômaco, é considerada como um escrito de Aristóteles maduro, com o seu sistema filosófico próprio e definitivo. A ética, nas obras Aristotélicas, é vista como uma parte ou um capítulo da política, que antecede a própria política. Ela diz respeito ao indivíduo, enquanto a política é relativa ao homem nas questões sociais e suas dimensões.

A primeira pergunta é sobre o que é o bom ou o bem. Se o livro inicia com o questionamento, há também uma afirmação: todo o indivíduo, assim como toda ação e toda escolha, tem em mira um bem e este bem é aquilo a que todas as coisas tendem. O fim de nossas ações é o Sumo Bem, mas, como o conhecimento de tal fim tem grande importância para nossa vida, devemos determiná-lo para saber de qual ciência o Sumo Bem é objeto. Tal ciência é a ciência mestra (que é a Política) e seu estudo caberá à Ética. É objeto da política porque as ações belas e justas admitem grande variedade de opiniões, podendo até ser consideradas como existindo por convenção, e não por natureza. O fim que se tem em vista não é o conhecimento do bem, mas a ação do mesmo; e esse estudo será útil àqueles que desejam e agem de acordo com um princípio racional, por isso não será útil ao jovem que segue suas paixões e não tem experiência dos fatos da vida. Mas, se todo o conhecimento e todo trabalho visam a algum bem, qual será o mais alto de todos os bens? O fim certamente será a felicidade, mas o vulgo não a concebe da mesma forma que o sábio. Para o vulgo, a felicidade é uma coisa óbvia como o prazer, a riqueza ou as honras; aqueles que identificam a felicidade com o prazer vivem a vida dos gozos; a honra é superficial e depende mais daquele que dá do que daquele que recebe; a riqueza não é o sumo bem, é algo de útil e nada mais. Dessa forma, devemos procurar o bem e indagar o que ele é. Ora, se existe uma finalidade para tudo o que fazemos, a finalidade será o bem. A melhor função do homem é a vida ativa que tem um princípio racional. Consideramos bens aquelas atividades da alma, a felicidade identifica-se com a virtude, pois à virtude pertence à atividade virtuosa. No entanto, o Sumo Bem está colocado no ato, porque pode existir um estado de ânimo sem produzir bom resultado: Sendo a felicidade a melhor, a mais nobre e a mais aprazível coisa do mundo e identificando como uma atividade da alma em consonância com as virtudes, propriamente a felicidade a riqueza, a honra ou o prazer, a felicidade necessita igualmente desses bens exteriores, porque é impossível realizar atos nobres sem os meios. Por isso, pergunta-se se a felicidade é adquirida pela aprendizagem, pelo hábito ou adestramento; se é conferida pela providência divina ou se é produto do acaso. Se for a felicidade a melhor dentre as coisas humanas, seguramente é uma dádiva divina, mesmo que venha como um resultado da virtude, pela aprendizagem ou adestramento, ela está entre as coisas mais divinas. Logo, confiar ao acaso o que há de melhor e mais nobre, seria um arranjo muito imperfeito. A felicidade é uma atividade virtuosa da alma; os demais bens são as condições dela, ou são úteis como instrumentos para sua realização.

Na Ética à Nicômaco, Aristóteles afirma que o caráter é resultado de nossos atos que adquirimos uma ou outra disposição ética agindo de tal ou tal maneira. Realizando coisas justas, assumiremos bons hábitos e o caráter torna-se justo, inversamente, agindo de maneira iníqua, adquire-se o hábito de ceder aos desejos e tornamo-nos iníquos. O caráter não é mais o que recebe suas determinações da natureza, da educação, da idade e da condição social é produto da série de atos dos quais sou o autor. Posso ser declarado autor de meu caráter, como o sou de meus atos: do mesmo modo que meus atos podem ser objetos de elogio, meu caráter pode ser objeto de louvor.

Aristóteles utiliza versos homéricos demonstrativos, para contextualizar seus ensinamentos através do seu original método peripátetico . Aristóteles foi o primeiro filósofo a fazer uma separação da ética e política. A ética está concentrada primeira na ação moral e voluntária do individuo. Entre os gregos a moral foi primordial tema para especulação e Homero de forma explicita trata esse tema na Ilíada, e maior maturidade na Odisséia. Aristóteles também como Platão faz diversas citações de Homero, uma em especial tem relação com o comportamento ético, e simplifica a moral dos gregos: Quem, quem visa ao meio termo deve, portanto afastar se, primeiro do lhe é mais contrário, conforme aconselha Calipso: Mantenha-se ao largo, desta ressaca e turbilhão! Homero, Odisséia, XII, 219.

Em outro exemplo da concepção moral dos gregos Aristóteles da uma explicação fazendo uma nova citação de Homero, nesse caso um verso relativo à coragem:

Mas se eu vir algum medroso a tremer longe da batalha, em vão ele espera escapar dos cães. (HOMERO. Ilíada XV, 348-51).

Nestes trechos da Ética a Nicômaco podemos ver a utilidade dos mitos para ajudar na compreensão dos valores na antiga Grécia, neste caso é uma citação homérica que o filósofo utiliza como exemplo:

A amizade ajuda os jovens a evitar o erro; ajuda os mais velhos, amparando-os em suas necessidades e suprimindo as atividades que declinam com o passar dos anos; e os que estão no vigor da idade ela estimula a prática de nobres ações, pois com amigos — dois que andam juntos — as pessoas são mais capazes de agir e de pensar. (Aristóteles, Ética a Nicômaco, 172.).

A democracia é a menos má das três espécies de perversão, pois no seu caso a forma de constituição apresenta apenas um ligeiro desvio.

São estas as mudanças mais freqüentes as quais estão sujeitas as constituições, pois são as transições menores e mais fáceis.

Poder-se-ia encontrar analogias e, por assim dizer, modelos das varias constituições nas próprias famílias. Com efeito, a associação de um pai com seus filhos. Eis por que Homero chama Zeus de o pai ; e o ideal da monarquia é ser um governo paternal. Mas entre os persas, todavia, o governo é dos mais tirânicos, pois ali os pais se servem dos filhos como escravos.

Em Ética a Nicômaco a uma clara definição por parte do filósofo sobre atos justos, injustos, sobre justiça e injustiça, a guerra de Tróia é um exemplo. Como um palco em que diversos personagens presentes nesse evento são quem melhor descreve atos justos e injustos. Avaliando os arquétipos de personalidade e a natureza desses personagens das obras homéricas, Aristóteles utiliza desses versos na extensão de Ética a Nicômaco.