UMA MANHÃ EM REALENGO...

A tragédia irrompeu na internet e na tevê. Crianças assassinadas em sala de aula. Desespero dos pais na rua. Realengo em transe. Um pesadelo se tornou realidade. Doze pequenas vítimas. Tiros. Sangue. Sem justificativa. Sem perdão.

À distância, no meio da Região Norte, acompanho as notícias que vêm de longe. Não há parâmetros para entender a angústia daquelas crianças e de seus pais. Jornalistas se acotovelam, capturam depoimentos, lágrimas, desmaios. O horror ao vivo, em cores e em imagem de alta definição. De certo modo, estou lá. Sofro junto. Menos. Mas sofro.

Há diversos elementos que ampliam a dimensão da tragédia. O cenário. As vítimas. Os motivos (ou falta de) do assassino. A impotência de todos diante da carnificina. A carta do assassino, um atentado ao bom senso.

Doze jovens vidas (até o momento em que escrevo) foram roubadas, de maneira brutal, brusca, sem razão. O nada pelo qual morreram aqueles estudantes é apenas o reflexo de uma visão de mundo, que sub-repticiamente toma conta de nossa cultura: a de que nada é absoluto ou sagrado. Depositamos os nossos valores no altar do politicamente correto. Sacrificamos nossas crenças em nome de uma paz de papelão. Trocamos o Deus verdadeiro por um deus de conveniência, deus de autoajuda, sempre disposto a nos dar tudo o que queremos. Aceitamos transformar nossos corpos em esgoto, no qual é despejado toneladas de impurezas. Batemos palmas para quem engana os outros. Maltratamos quem quer apenas viver honestamente.

E tudo isso porque estamos cegos de olhar os nossos próprios umbigos.

O som dos tiros que mataram aquelas crianças nos despertaram.

A cor do sangue derramado nos limpa os olhos da cegueira.

Nossas vidas, o mais precioso dom, não valem um sopro: a qualquer momento, vem a louca sombra da morte e ceifa tudo.

A nossa luta maior tem que ser contra o niilismo de nossos tempos. A vida é o maior dos dons, mas, distantes de Deus, o que fazemos dela?

Ponho-me no lugar de uma das crianças baleadas. O que ela pensou ao ver o cano do revólver apontado em sua direção? O que ela deixou de fazer da vida? O que ela seria se...?

A morte dessas crianças é o sinal de alerta que temos de escutar, pois, sem a necessidade de um psicopata, caminhamos solenemente para a cova, distantes do princípio de tudo, de Deus.

Aplaudimos os ateus que mentem sobre a fé e a religião.

Apoiamos com nossos votos quem quer matar crianças no ventre da mãe, transformar a família em "parideira de monstros", igualar os vícios à virtude. Permitimos que o dinheiro de nossos impostos sejam usados para promover o mal e fingimos que não é conosco.

Não podíamos fazer nada para impedir o que aquele louco fez. Um psicopata é imprevisível: não fosse na escola, seria em outro lugar o seu gesto mortal.

As vidas das vítimas estão perdidas para o mundo (mas, creio, estão na glória agora...).

Mas ainda podemos dar sentido às nossas vidas. E lutar para que a morte, essa inevitável presença, não nos surpreenda dessa forma.