ABORTO E MASSACRE EM REALENGO: SIMILARIDADES

Nas narrativas feitas por sobreviventes da chacina de Realengo, sabe-se que o assassino chegou a escolher quem devia ou não viver. Muitas das vítimas imploraram para não morrer, mas o psicopata, sem a mínima misericórdia, não desistiu de seu intento.

Entenda o que eu digo: algumas vítimas pediram, falaram, imploraram. Em seus olhos, com certeza, ficou estampado o horror de quem se vê diante da morte iminente.

No aborto, a vítima não tem direito a implorar pela vida. Seu assassinato, quase sempre, conta com a aquiescência de seus pais. E, para muitos, é plenamente justificado.

Matar uma criança no ventre de sua mãe, pensam alguns, é um direito humano. No caso de Realengo, muitas crianças conseguiram fugir do massacre. No caso dos abortamentos, não há fuga: a criança fica à mercê da morte, e quem deveria protegê-lo não pensa nele, apenas em si mesmo. Vítima de um egoísmo, sua morte é a mais silenciosa, a mais covarde, a mais imperdoável. E, por ser invisível aos olhos do mundo, não choca, não aturde, não desperta a indignação.

A grande mídia não se detém diante desse crime.

Não há manifestações populares.

As ONGs não se rebelam exigindo justiça.

Os deputados não se pronunciam no Congresso, pensando em leis que impeçam que essa chacina silenciosa permaneça acontecendo.

Muitos até que se comoveram às lágrimas no caso de Realengo até apoiam o direito que uma mulher tem de matar seu próprio filho.

Na visão utilitarista das coisas, uns dizem: é preferível que não venha à luz aquele que na vida será abandonado.

Morte é morte. Seja de que forma for.

As vítimas de Realengo viveram doze, treze, quinze anos.

As vítimas do abortamento, nem isso.

Se queremos tanto bem à vida, que seja protegida a mais indefesa.

Do contrário, a nossa dor pelas vítimas de Realengo será apenas hipocrisia.