Desarmamento Mental

Imaginar que apenas a proibição da comercialização de armas entre a população civil possa impedir o crescimento da violência urbana é tão ingênuo quanto supor que se possa debelar a inflação por decreto, o analfabetismo por medida provisória, a ignorância com lamentações, a obesidade sem regime, a corrupção com CPI, e por aí afora.

De onde vêm as armas dos criminosos? Não vêm das lojas que têm suas portas abertas ao público e pagam impostos, senão das fronteiras descuidadas, quando não da força policial.

Combater os efeitos faz parte de políticas demagógicas que estão sempre a iludir a população indefesa aos apelos da mídia direcionada às inconfessáveis ânsias de poder e domínio dos que se julgam donos da democracia, quando, na verdade, fazem da política a arte de chegar ao poder e permanecer nele indefinidamente.

Estatísticas mal interpretadas fruto de observações inconsistentes mascaram a realidade num pseudocientificismo no qual o cidadão comum se vê emaranhado e confundido.

A violência não está nas armas, e sim nas mentes, em pensamentos monstruosos que se vêm gestando há séculos, escravizando o ser humano que consuma suas agressões contra seus irmãos, independentemente da arma que fabrique ou que tenha às mãos.

O discurso do desarmamento é demagógico, como oco o dos palanques em campanhas eleitorais.

Embora se venha atribuindo a crescente violência aos problemas sociais, à incompetência dos que têm a seu cargo a manutenção da segurança pública, à morosidade da justiça, aos problemas econômicos, é preciso salientar que as causas reais da violência não têm sido analisadas, identificadas devidamente e combatidas eficazmente.

Onde se gera a violência? Qual a raiz? Estaria apenas nos atos bárbaros da delinqüência e nas agressões incontroladas que nações desferem sobre outras? Não estaria presente em todo o lugar, manifestando-se nas formas mais sutis? Não são os pais que, muitas vezes, repreendem seus filhos com uma manifesta violência impressa nas palavras e gestos e em inomináveis agressões? Não são os meios de comunicação que transmitem uma violência incontida para as crianças que absorvem esses pensamentos através de desenhos animados, filmes, videogames e telenovelas que são um péssimo exemplo para aquelas mentes indefesas, incapazes de desligar a caixa de surpresas desagradáveis. Não estaria presente nos campos de batalha que se transformaram as quadras esportivas onde os times se digladiam raivosamente em nome de uma bandeira que pode não ter significado algum? Ou nas esquinas, nos semáforos, no transito alucinado das grandes cidades?

A violência está em todas as partes porque está em todas as mentes; e ali seria necessário combatê-la. Educar uma criança para a vida, mais do que para o vestibular, seria prepará-la mentalmente; os pensamentos que deveriam habitar e preservar esta mente de agressões externas, evitando ser uma geradora de pensamentos agressivos. A verdadeira educação é a mental, a que permite aos seres humanos conhecer esse ambiente e utilizá-lo na criação de idéias e pensamentos que tenham real utilidade para o semelhante e na técnica de combater os violentos e dissolventes que distanciam o ser humano de seus semelhantes e de Deus.

No clima de grande violência que presenciamos, as autoridades judiciais e policiais devem ser chamadas para as necessárias medidas emergenciais; no entanto, há que convocar os educadores, para que as gerações futuras possam ser preparadas e orientadas no sentido de uma postura mental mais humana e pacífica.

Nagib Anderáos Neto

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