A estrutura da felicidade

Um dos maiores problemas da sociedade é, sem dúvida, a impaciência para com a inconstância do mundo, das pessoas e das coisas que nos cercam. Não estamos acostumados a observar as mudanças no dia a dia e nem a entender as necessidades de mudanças das pessoas do nosso relacionamento. Somos todos movidos, claro que existem poucas exceções, pelo desejo de ser muita coisa (ser autoridade em algum setor da atividade humana, por exemplo; ou viver um grande amor, e, normalmente, o maior amor que alguém já viveu) e de ter muita coisa (para mostrar aos outros o quanto somos mais capacitados que eles), e, para isso, dependemos que o mundo seja sempre o mesmo. Nem percebemos direito que todos nós somos parecidíssimos e vivemos os mesmos sentimentos e sentimentos as mesmas emoções. Sempre achamos que nossa família é melhor que a família dos outros, ou, quando não, achamos que a família dos outros é melhor do que a nossa. Estamos eternamente em fuga do presente e da realidade, em fuga de nós mesmos. Então, imaturamente, experimentamos e acreditamos nas fantasias das nossas concepções erradas, de tal forma que a ansiedade se instala em nossa estrutura psíquica. A realidade do mundo não se encaixa nos nossos raciocínios baseados em fantasias, e sofremos, achando que o mundo é que está errado. Dessa forma, dependemos dos outros para alcançar a felicidade, que nunca vai ser alcançada assim. O mundo não está errado, nós é que não percebemos como ele é continuamente perecível e mutável. Pela lógica, nada e ninguém, no mundo, pode me fazer infeliz! A natureza é perfeita. Quando acusamos a sociedade, dizendo que fulano me magoou, me maltratou, etc., estabelecemos a dependência da felicidade naquilo que os outros pensam de nós ou nos fizeram, então vamos sofrer. Nada que é externo a uma pessoa pode fazê-la infeliz, a não ser que ela o permita. Toda felicidade verdadeira e possível está compactada na própria pessoa. Amar-se a si mesmo é a pedra fundamental da felicidade. Quando você depende de alguém para ser feliz, seja no amor, seja na amizade, estabelece uma lei que não funciona: a petrificação do indivíduo humano. A pessoa que me ama, não é obrigada a me amar para sempre, e quando ela deixar de me amar, eu, que condicionei minha felicidade no amor dela, vou sofrer e me sentir infeliz. Quantas pessoas acusam outras, de todo tipo ruim de qualidade, simplesmente porque elas usaram do direito de ser e deixar de ser, de amar e deixar de amar, e se lamentam: "fulano disse que ia me amar para sempre, e agora não me quer mais"; ou: "sicrano tratava-me bem, e agora nem liga para mim", etc. Ora, não podemos impedir que as pessoas mudem, a todo o momento, e nem podemos nos adequar a todas as mudanças das pessoas. Muitas vezes, nós é que não mudamos junto com a pessoa que estava caminhando conosco, e, verdadeiramente, fomos nós que deixamos de amá-la e de apreciar as mudanças que ela sofreu, pois ela não era mais a pessoa que conhecemos. Então, nós também mudamos, e se a estivéssemos amando, continuaríamos felizes com aquela pessoa. Precisamos entender que o que era, deixa de ser, a todo instante, e se alguém depender da petrificação do amor ou da amizade dos outros para ser feliz, não só vai viver eternamente infeliz, como vai ser injusta querendo negar aos outros a liberdade de ser e deixar de ser, de amar e deixar de amar, de ir e deixar de ir, direito este que não negamos a nós mesmos, e saímos da vida de quem quer que seja, ou de qualquer situação, quando bem entendemos ser a hora, sempre arrumando alguma desculpa de defeito nos outros, quando queremos sair fora. Portanto, nada do que é externo a uma pessoa pode fazê-la infeliz, a não ser que ela não tenha discernimento suficiente para ver que tudo muda e que tudo tem o direito de mudar. Amar-se a si mesmo e encontrar a felicidade em si mesmo, é o máximo do amadurecimento. O egoísmo é o contrário: desejar as coisas e os outros para si mesmo. A egoísta pensa assim: a pessoa que me ama não pode deixar de me amar e nem pode amar mais ninguém. Tem que me amar eternamente! A pessoa que encontrou a felicidade em sua própria existência e em seu próprio corpo deixa uma porta aberta de entrada e uma porta aberta de saída; permite que outras pessoas selecionadas entrem e saiam de sua vida, sem nenhum questionamento, sem nenhuma impaciência, sem nenhuma imposição. E nunca mais vai acusar outrem de tê-la abandonado, de tê-la feito infeliz, porque ela encontrou em si mesma a felicidade verdadeira.

Marco Aurélio Rodrigues Dias
Enviado por Marco Aurélio Rodrigues Dias em 14/05/2011
Reeditado em 27/02/2013
Código do texto: T2969408
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