HOTÉIS PARA IDOSOS

Leonardo Lisbôa*

Palavras Chaves: Cidadania – Idoso – Políticas Públicas

A verdade é cultural.

Era verdade que em alguns anos atrás, décadas talvez, internar os velhos em asilos era sinal de crueldade extrema da família e da sociedade.

Isto porque estes lugares eram retratos do abandono, do descaso, do desleixo.

Eram lugares para depositar aqueles que venceram a morte e foram derrotadas pela vida.

Eram lugares para onde iam os desmemoriados e contra quem as novas gerações não queriam como memória. Não queriam como retratos do que o tempo e a vida fazia com os que se atrevessem viver longa vida.

Os tempos mudaram.

A vida se dignificou dentro da realidade brasileira.

A verdade hoje é outra.

Devido a diversos fatores, como melhoria da realidade social, mudanças de hábitos, alimentação, assistência governamental, melhorias nas prestações de serviços e outros. O brasileiro tem vivido mais.

Então o que era raridade está se tornando realidade.

Hoje não há mais “asilos para velhos”. Há verdadeiros ‘hotéis’ para idosos. Estes não são mais pessoas asiladas ou asilares. Eles são hóspedes.

Foi o tempo em que o melhor para os mais idosos era o seio de suas famílias por pior realidade que elas viviam.

Entretanto, conviver com os idosos era difícil.

Eles requerem atenção especial, paciência com suas manias, altruísmo com as doenças da idade, falhas fisiológicas de seus cansados corpos, abnegação de tempo, de lazeres, de descansos pessoais, sobrecarga de afazeres, reconciliação de emprego e estudo com o tempo para o idoso, ouvido para suas queixas e lamúrias, entendimento de seus anacronismos e obsoletismos.

Os asilos eram sim lugares feios, faltava tudo para a dignidade humana. Eram sim maus tratos e indiferença dos que ali deixavam seus velhos, seus cacos. Faltava atendimento adequado, profissionalismos dos que trabalhavam e administravam, faltava acompanhamento governamental.

Enfim, era o lugar onde o deplorável se fazia.

Hoje não há mais velhos. Há idosos. Pessoas que lutaram e souberam viver a vida e não sonharam com a morte.

A cultura é outra.

Quando eu era jovem vi minha avó “envelhecer” no meio de minha família. Eu a vi morrer. Pude conviver com a delícia e a dor de se ver um ente querido somar anos de vida.

Pieguismos à parte, pude ver um exemplo a ser seguido e transtornos comportamentais e a falta de recursos para um melhor atendimento como demandava a sua avançada idade e requeria os parcos recursos financeiros.

À MINHA AVÓ

Seu nome poderia ser

MULHER

FAZENDEIRA

MATRIARCA

MÃE

AVÓ

BISAVÓ

Até DINDINHA já ouvi

.

Não era nenhum destes

.

Era

AUGUSTA.

Divinamente

AUGUSTA

Seu maior feito,

particularmente para mim,

foi,

enquanto morria aos noventa,

ensinava-me,

aos vinte,

a desejar a vida

e esperar dela

o melhor

.

E os sinos repicavam

enquanto o cortejo

descia e subia:

- Quem tem ensina,

Quem não tem aprenda

A ter e a ser, a ser e a ter.

Desta forma se faz o viver.

Os tempos eram outros. Era a década de 1970, as mentalidades eram outras.

Se fossem os dias deste século XXI, a realidade seria diferente e o modo de ver e administrar os convívios e conflitos é outros.

Recentemente vi uma família encaminhar um de seus entes idosos para uma destas novas instituições que abriga estas pessoas mais vividas. Os motivos que levaram a esta ação foram diversos. Entre esta variedade de razões, a que mais se destaca: um melhor bem-estar, conforto e acompanhamento para este idoso.

Parabéns a esta instituição (para a qual o referido idoso foi encaminhado) pelos serviços prestados. E parabéns para a tal família também pela iniciativa. Pois lá se encontra uma realidade que não são todas as famílias que podem oferecer em seu seio, em seu foro íntimo tamanho possibilidades de cuidados. Qual seja atendimento médico três vezes por semana para seus hóspedes idosos, quatro auxiliares de enfermagem diurnos e dois noturnos, convívio social com outros moradores de idade compatível, horário regular de visitações, assistência fisioterapeutica duas vezes por semana, medicação orientada pelos médicos nos horários corretos, serviços de lavanderia, cinco refeições diárias e aposentos individuais.

Que medidas governamentais sejam tomadas para que outras instituições possam se enquadrar nesta realidade. Ofertando assim às famílias seguirem suas atividades laborais e rotineiras e que nossos idosos disponham de lugares adequados que os recolham, assistam e lhes confortem. Para isto façamos valer nossa cidadania para a escolha de políticos que garantam políticas públicas.

Desfaçamos de nossas hipocrisias em achar que podemos fazer mais que instituições especializadas em cuidar de idosos e que possamos despir de preconceitos e de falsos arquétipos.

*O autor foi professor de Arte: História e Cultura na Universidade Para a Melhor Idade na UNIPAC (2002 a 2004).

Barbacena, 12/05/2011.

TEXTO 15

Leonardo Lisbôa
Enviado por Leonardo Lisbôa em 14/05/2011
Reeditado em 22/05/2012
Código do texto: T2969878
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.