PRIMEIRO A CARROÇA...

Entramos numa fase de leis impactantes, depois da lei de “cotas”, do racismo, da maior idade eleitoral e outras que agora não lembro, o governo pensa em retirar de circulação os saquinhos plásticos, aquele saquinho de cada dia, até aí tudo bem, concordo que essa medida é importante quando se trata da coisa ambiental, depredação da natureza, qualidade de vida, efeito estufa...enfim, conheço o problema e me engajo a causa, porém a idolatria dos nossos políticos à suas posições de intocabilidade, faz com que ousem em convocar o povo a uma campanha falaciosa, onde ele, o povo, deverá fazer sua parte. Eu procuro fazer a minha, levando sacolas de casa para o supermercado, carrinhos com rodinhas para a feira, não aceitando as embalagens plásticas impostas pelos comerciantes e até me indispondo com alguns deles, mas como é uma orientação governamental, devo seguir as instruções. Noutro momento, já em casa, separo o meu lixo em quatro embalagens diferentes, vidro, plástico, papel e orgânico e com sentimento de dever cumprido o conduzo até a lixeira em frente de minha casa no dia e horários estipulados para a coleta e pronto, passo a “bola” de volta ao poder público, que sem nenhuma cerimônia joga todo meu trabalho, esforço e dedicação literalmente no lixo misturando minha organização a sua letargia administrativa. O gari, sem recursos estruturais, nada pode fazer, apenas joga tudo no moedor de destroços e se vai. A classe dominante não entende, ou entende bem demais, que não se pode moldar um povo sem exemplos, nem promulgar leis sem base de sustentação. Onde está a orientação de coleta seletiva a partir dos coletores, e qual o destino final dessa “bagaça”? O imediatismo das leis em favor de sua demagogia é vergonhoso, para que medidas como essas pudessem ganhar corpo e validação popular, a base, que se iniciou em uma geração, a pelo menos dez anos atrás, deveria ter sido orientada, educada efetivamente, para então hoje convergir em civilidade. Não há interesse em pensar o Estado em longo prazo por questões meramente ligadas a perpetuação do poder. Nossa gente não é ignorante por escolha própria, nem isso eles escolheram, são mantidos assim porque convém a uma classe dominante. Perguntado sobre como era criar uma obra de arte, Michelangelo respondeu: "Dentro da pedra já existe uma obra de arte. Eu apenas tiro o excesso de mármore!". A diferença é que neste caso em Michelangelo havia “boa vontade” em expor a essência contida em cada pedra.

O mesmo ocorre quando na promulgação da lei que trata da criminalização da homofobia. Se a semente tivesse sido plantada antes de arraigar nossa tendência machista, ela seria irrelevante pelo simples sentido de respeito ao próximo, independente de suas preferências. É impressionante como é importante regulamentar com quem você se deita. A verdade é que nos atamos a tudo o que acontece no mundo hiperbolizando sua importância, vivenciando coisas que pouca relevância, ou nenhuma, tem para o nosso cotidiano. Essa alienação gratuita trazida e incentivada pela mídia com anuência do poder público, só os beneficia, a medida que “aluga” a mente popular ocupando um espaço onde poderia germinar a combatividade a esse esquema corrupto, bolorento e sem investimentos direcionados aos mais humildes, que inibe a auto-estima de um povo, principalmente com relação a direitos constitucionais e boa qualidade de vida.

Raros os grupos que se reúnem para uma abordagem ligada a este tema, os que tentam são tachados como idealistas ou de forma mais pejorativa incitadores, acabando por serem subjugados e impelidos ao desterro do ostracismo. Já os assuntos evidenciados como expressão internacional, dominam as rodas de bate-papos, onde todos com ares intelectualizados discutem sobre o casamento do herdeiro inglês, o tramite de santificação do vaticano ou a morte de um terrorista perigoso exaltando inclusive o patriotismo alheio.

É isso aí, acho que o que interessa é o que se apresenta, não o que se esconde, enquanto os senhores saboreiam o vinho das melhores videiras, continuamos torcendo pelos cavaleiros alheios, recolhidos a nossa insignificância vassala, mas continuamos regozijantes, afinal em menos de um mês, casamos um príncipe, beatificamos um papa e matamos um mouro. Bem-vindos a idade média.

Anderson Du Valle
Enviado por Anderson Du Valle em 24/05/2011
Reeditado em 24/05/2011
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