MÁRTIRES MARANHENSES

“Nosso mundo continua marcado pela violência, especialmente contra os discípulos de Cristo” Bento XVI (Angelus de 26 de dezembro de 2010)

Caminhamos para os 400 anos de História da igreja no Maranhão. Sei que devemos fazer leitura do passado olhando o presente e projetando o futuro, como dizia o filósofo Karl Marx: “quem não conhece a história pode repeti-la como comédia ou como tragédia”. Já da chegada da igreja em nossas terras houve inúmeros batismos de sangue, que se deram pela dizimação dos índios e pelo forte martírio dos negros.

Temos grandes vitórias na história de nossa igreja, mas também vejo que as derrotas ás vezes escondem nossas vitórias. Nossa terra maranhense é banhada pelo sangue dos mártires que clamam sem cessar por justiça. Quero lembrar que no Maranhão, na segunda metade do século XX, vários mártires deram seu sangue sem que soubéssemos. Fala-se muito em Padre Josimo, mas este é só um entre inúmeros que deram sua vida e não são lembrados, foram esquecidos. Não fizemos justiça a seus nomes.

No começo desse ano a Agência Fides publicou uma lista dos agentes pastorais que perderam a vida de modo violento ao longo dos últimos 12 meses. De acordo com suas informações foram assassinados 23 agentes pastorais em 2010: 1 bispo, 15 sacerdotes, 1 religioso, 1 religiosa, 2 seminaristas e 3 leigos.

Analisando a lista por continente, com um número extremamente elevado consta em primeiro lugar a AMÉRICA, banhada pelo sangue de 15 agentes pastorais: 10 sacerdotes, 1 religioso, 1 seminarista, 3 leigos. Segue a ÁSIA, com 1 Bispo, 4 sacerdotes e 1 religiosa mortos. Enfim, a ÁFRICA, onde um sacerdote e um seminarista perderam a vida de modo violento.

No Brasil, que registra novamente este ano o maior número de agentes pastorais assassinados, perderam a vida Pe. Dejair Gonçalves de Almeida e o leigo Epaminondas Marques da Silva, agredidos na canônica por bandidos em busca de dinheiro; Pe. Rubens Almeida Gonçalves, assassinado em sua paróquia provavelmente após uma discussão sobre o aluguel da sala paroquial; o seminarista Mário Dayvit Pinheiro Reis, assassinado por ladrões que queriam seu carro e Pe. Bernardo Muniz Rabelo Amaral, morto por um homem a quem havia oferecido carona. Esses dois últimos mártires são maranhenses. Isso me faz pensar que devemos ver nosso jeito de ser igreja. Somos ainda uma igreja tímida. Acredito que o Espírito quer dizer algo para nossa igreja particular. Ou somos profetas ou as pedras falarão.

A conta da Fides não inclui apenas os missionários ad gentes em sentido restrito, mas todos os agentes pastorais mortos pela violência. O termo “mártir” neste texto é utilizado exclusivamente em seu significado etimológico grego de “testemunha”, afim de que não adentrar no mérito do juízo que a Igreja eventualmente dará, e devido também à escassez de dados sobre suas vidas e as circunstâncias de sua morte.

A esta lista devem ser acrescentados os nomes daqueles de que jamais teremos notícia que, em cada canto do planeta, sofrem e pagam com suas vidas sua fé em Cristo. Eles são “uma nuvem de soldados desconhecidos da grande causa de Deus” - segundo a expressão do Papa João Paulo II - a quem olhamos com gratidão e veneração, mesmo sem conhecer suas faces, sem as quais a Igreja e o mundo seriam imensamente mais pobres.

Sobre nossos irmãos mártires dos novos tempos, em especial meus amigos Mário Dayvit e Pe. Bernardo Muniz, os quais tive a graça de conhecer e conviver, comungo com o pensamento do atual Pontífice Bento XVI, que descreve: “o martírio é uma forma de amor total a Deus. Se fundamenta na morte de Jesus, em seu sacrifício supremo de amor, consumado na cruz para que nós pudéssemos ter vida. A força para enfrentá-lo provém da profunda e íntima união com Cristo, porque o martírio e a vocação ao martírio não constituem o resultado de um esforço humano, mas são a resposta a uma iniciativa e a uma chamada de Deus, são um dom da sua graça, que torna capaz de oferecer a própria vida por amor a Cristo e à Igreja, e assim ao mundo.” (Bento XVI, audiência geral 11 de agosto de 2010).

Marcio dos Santos Rabelo
Enviado por Marcio dos Santos Rabelo em 02/06/2011
Código do texto: T3010707
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