IRRITAÇÃO...

Certa feita, em um restaurante estavam dois amigos e o serviço do restaurante estava muito lento; e, desde o momento em que sentaram, um deles começou a se queixar:

– Veja só! Aquele garçom parece uma lesma! Onde é que ele pensa que está? Acho que está nos ignorando de propósito!

Embora nenhum dos dois tivesse qualquer compromisso urgente, as queixas continuaram a aumentar ao longo da refeição e se expandiram numa ladainha de reclamações sobre a comida, a louça, os talheres e qualquer outro detalhe que não fosse do seu agrado. Ao final da refeição, o garçom ofereceu duas sobremesas de cortesia, com uma explicação.

– Peço desculpas pela demora do serviço hoje, disse, em tom sincero, mas estamos com falta de pessoal. Houve um falecimento na família de um dos cozinheiros, e ele não veio hoje. Além disso, um dos auxiliares avisou que estava doente na última hora. Espero que a demora não tenha causado nenhum inconveniente...

- Mesmo assim, nunca mais vou voltar aqui, resmungou entre dentes o sujeito, com irritação, enquanto o garçom se afastava.

Esse é um pequeno exemplo de como contribuímos para nosso próprio sofrimento quando levamos para o lado pessoal cada situação irritante, como se ela tivesse sido intencionalmente dirigida a nós. Nesse caso, o resultado foi apenas uma refeição desagradável, uma hora de aborrecimento. Porém, quando esse tipo de raciocínio passa a ser um modelo geral de relacionamento com o mundo e se estende a cada comentário feito por nossa família ou amigos, ou mesmo a acontecimentos na sociedade como um todo, ele pode se tornar uma fonte importante da nossa infelicidade.

Costumamos aumentar nossa dor e sofrimento sendo excessivamente sensíveis, reagindo com exagero a fatos insignificantes e às vezes levando as coisas para um lado muito pessoal. Nossa tendência é a de levar fatos ínfimos muito a sério e ampliá-los de modo totalmente desproporcional, ao mesmo tempo em que permanecemos indiferentes ao que é realmente importante, àqueles fatos que têm efeitos profundos na nossa vida além de conseqüências e implicações duradouras.

Por isso, o fato de sofrermos ou não, depende em grande parte de como reagimos a uma determinada situação.

Por exemplo, digamos que tenhamos descoberto que alguém está falando mal de nós pelas nossas costas.

Se reagirmos a essa informação, a esse fato negativo, com uma sensação de mágoa ou raiva, somos nós mesmos que estamos destruindo nossa paz de espírito. Nossa dor é nossa própria criação pessoal.

Por outro lado, se nos contivermos para não reagir de modo negativo, se deixarmos que a calúnia se dissipe como um vento silencioso que passa por trás da nossa cabeça, estaremos nos protegendo daquela sensação de mágoa, daquela sensação de agonia. Logo, embora nem sempre sejamos capazes de evitar situações difíceis, podemos modificar a intensidade do nosso sofrimento pela escolha de como reagiremos à situação.

Repetimos: Costumamos aumentar nossa dor e sofrimento sendo excessivamente sensíveis, reagindo com exagero a fatos insignificantes e, às vezes, levando as coisas para um lado muito pessoal...

Há uma anedota, mas que pode ser a expressão da verdade e ilustra bem que os impulsos baseados na irritação do momento podem trazer muito desencanto. Eu já passei por isso...

Um padre seguia à paróquia num ônibus coletivo quando subiu um sujeito que aparentava estar embriagado e com um jornal debaixo do braço. O homem tresandava um cheiro etílico intenso e sentou-se num banco bem à frente do padre. Abriu o jornal e começou a ler. E o padre já foi ficando incomodado com aquele cheiro de pinga e com aquele sujeito na sua frente...

Lá pelas tantas, o bêbado levantou a cabeça e perguntou:

– O que é artrite, seu padre?

O padre já irritado fechou a cara e respondeu:

– Artrite é a pinga, a bebedeira, a mulherada, a boemia, a zona, as bacanais!...

O sujeito fez uma cara de desagrado e continuou a ler o jornal.

Passados alguns instantes, o padre começou a ter problemas de consciência e pensava:

– Puxa! Acho que fui muito rude com este pobre homem, afinal, eu sou um padre, não fica bem eu tratá-lo assim. E voltou a indagar:

– Mas, vem cá, me diga é você ou alguém da sua família, algum conhecido que tem artrite?

O bêbado respondeu:

– Não seu padre, o jornal diz aqui que quem tem artrite é o Papa!...

Sem comentários...

PEDRO CAMPOS
Enviado por PEDRO CAMPOS em 09/06/2011
Reeditado em 16/10/2012
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