UM CASO DE AMOR NA REVOLUÇÃO DE 30

Anayde Beiriz nasceu em 18 de fevereiro de 1905, em João Pessoa, na época cidade da Paraíba, e teve uma infância normal, brincando pelas ruas do Centro histórico e visitando as praias sempre acompanhada dos pais. Em 1922, Anayde concluiu o Curso Normal e passou a lecionar em uma escola de Cabedelo, ensinado a adultos as primeiras letras. Moça culta era a única mulher a participar dos saraus literários promovidos pelo médico José Maciel, intelectual que promovia esses encontros em sua residência. Num desses saraus, a professora conheceu João Dantas, adversário político de João Pessoa, presidente do Estado da Paraíba.

Anayde era uma moça avançada para a provinciana Paraíba da década de 20 do século passado, escrevia versos amorosos e de denúncia contra a condição em que vivia a mulher que, com o casamento, passava do domínio do pai para o domínio do marido, nunca podendo ter o controle total de sua vida. Ela recitava seus versos nos círculos de intelectuais do qual fazia parte. Nesse circulo a moça ganhou o apelido de a “pantera dos olhos dormente”.

João Pessoa assume o governo do Estado em 1928, e data dessa mesma época o começo do romance de Anayde com o advogado João Dantas, que era ligado ao Partido Republicano Paulista e fazia forte oposição ao governo de João Pessoa.

Em 1930, João Dantas viaja para o Recife fugindo das perseguições de seus inimigos. No período de maio a julho desse ano, Anayde e João Dantas trocam confidências através de correspondência remetidas entre os dois. Eram cartas de amor, algumas em versos, escritas pela professora, onde os dois podiam falar do seu amor livremente e matavam saudades da distância que os separavam. Um dia, a policia a serviço do Estado invade o apartamento de João Dantas à procura de armas e de documentos políticos, mas o que encontraram foi o diário que continha os poemas e relatos da intimidade do casal. Por um ato de vingança do governo do presidente João Pessoa contra João Dantas o diário e alguns bilhetes ficaram expostos na sede do jornal A União, transformando-se logo em objeto de curiosidade da sociedade paraibana. Dessa forma foi tornada pública a relação de João Dantas e Anayde, as confidências, os relatos das tardes que passaram juntos, os poemas eram do conhecimento de todos. Anayde passou a ser evitada por todos e sua cidade se transformou num ambiente hostil onde acusavam a jovem professora de concubinato. As moças de família, suas antigas amigas, viravam os rostos quando ela passava.

No Recife, João Dantas ficou sabendo do arrombamento de seu cofre e da publicidade dada às suas cartas e diários. E para lavar sua honra mata João Pessoa na Confeitaria Glória, na cidade do Recife, em 26 de julho de 1930. A morte de João Pessoa causou grande comoção popular em todo o Brasil e foi usada para apressar a vitória da Revolução de 30. A capital do estado da Parahyba do Norte na noite da morte de João Pessoa se transformou em palco de guerra, as casas e comércio dos aliados políticos de João Dantas foram saqueadas e incendiadas e Anayde teve que fugir para o Recife. Todos se referiam a ela como “a prostituta do homem que matou o presidente”. Em Recife, João Dantas é levado para a Casa de Detenção, onde segundo a história oficial se suicida para escapar da ira dos paraibanos. Anayde, dois dias antes da vitória da Revolução, em 22 de outubro de 1930, também se suicida.

O caso de amor entre João Dantas e Anayde, os dois odiados pelos paraibanos defensores de João Pessoa, recebeu o julgamento da sociedade conservadora e a ira dos revolucionários. O que seria apenas mais uma história de amor passou a ter um significado histórico que precisa ser recuperado da obscuridade a que foi relegado. João Dantas era um político apaixonado pelas suas idéias. Anayde era poeta e defendia em sua sensibilidade artística um mundo diferente, onde a mulher deveria exercer sua importância ao lado do homem, como assim o fez ao lado de João Dantas.

Nadja Claudino
Enviado por Nadja Claudino em 19/06/2011
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