O SOM DA "GALERA"

Musica urbana... que saudade deste termo, música urbana, ouvíamos música de boa qualidade irradiada em sua maioria do sul do país, gritavam nas emissoras e até na rádio cipó Lô Borges, Beto Guedes, Cazuza, Legião, Lulu e outros, com a naturalidade de se tocar um brega, mesmo aqui em Belém, com uma pequena dose de boa vontade garimpávamos cultura em pontos isolados ou em shows daqueles renitentes de sempre. Uma luta inglória é verdade, como tudo que "evolui", a música deu seu passo para o infortúnio, é impressionante como evolução na maioria dos casos se tornou sinônimo de deterioração, tornou-se um termo pejorativo, a música é um exemplo clássico dessa tendência. Se bem que classificar o que se tem feito aqui de música é o mesmo que promover trovão a sinfonia, não dá pra ouvir, nem com toda caridade da alma, é que não existe um termo ainda racional para se classificar batidas recursivas, grunhidos em série e patos que cantam.

O que se faz aqui é uma promoção do Pato Donald a astro, Tico e Teco a ídolos das baladas, vozes com rotação alterada para disfarçar a canastrisse de seus interpretes, isso até já foi feito antes pelo comediante Rony Cócegas nos idos de 70, mas era pra ser engraçado, não pra embalar paixões avassaladoras de algumas horas no meio da "galera"... ô palavrinha sem vergonha... "galera" todo brega tem que ter "galera".

Já não bastasse os emergentes com seus carrões na orla da cidade e seus super-ultra-mega-pop som a nos azucrinar as idéias, surge com a "evolução" do celular as caixinhas de som de muito boa qualidade, o som da caixa, porque o que vem de lá não deixa ninguém tirar um cochilo no coletivo, e a cara do Mané... olhando pros lados como quem diz "tô podendo", tenho um vizinho que coloca o som em um volume absurdo, tanto que atravessa a rua com um banquinho e fica do outro lado, olhando pra dentro da casa, é pior do que "pum" que pelo menos o nosso a gente aguenta. No dia que ele foi sair com a família em férias, teve que despachar a bagagem na transportadora por que o som tomava todo o porta-malas, quase o cara deixou as crianças.

É a superestimação dos tímpanos alheios, o culto ao incômodo – “Eu sou o mundo, quem quiser que se adapte ou mude-se”. Cômico se não fosse trágico, engraçado se não fosse ridículo ou apenas rude se não fosse grotesco.

Isso não é preconceito, é conceito mesmo, se me disserem que existe outro termo para definir essa nova forma de expressão, aí talvez eu mude minha interpretação, porém, música não, por favor, não... o que diria o Hendrix? Mozart então? Nunca mais soltaria aquela risada, ou gargalharia até morrer...

Anderson Du Valle
Enviado por Anderson Du Valle em 18/07/2011
Reeditado em 19/07/2011
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