Tempo e morte

O mais feroz dos animais domésticos é o relógio de parede: conheço um que já devorou três gerações da minha família

(Mário Quintana)

Tempo e morte

O tempo... Sonhamos em estender ao máximo nossa permanência neste mundo somente para ver a evolução, ou seria para ver nossos netos, ou somente pelo pavor que a morte nos causa? Há na morte o medo maior: inexistir. Imaginar que a existência foi vã, que após o ultimo fechar de olhos encontremos a treva densa, o vácuo; a consciência da inexistência é tão insana quanto imaginar o universo como algo infinito, eis a angustia da finitude.

Há quem tenha dito que algo sobre só quem lamenta o fim é quem não viveu com plenitude, há quem creia em religião e filosofia que jura lhe proteger de tal ansiedade, mas no fim das contas, até o mais crédulo teme que a passagem lhe cause dor ou perda. Somos como os animais que ao ver um ser morto nos vemos, ali, a carne pútrida, corpo em que não habita mais alma, desejo ou sonhos. Enterros nos fazem querer viver mais, mas uma semana depois caímos na rotina outra vez.

A felicidade é um mito, daqueles que estão todos tentando comprovar, pois viver é estar entre tédio, tristeza e pequenas emoções, é alcançar algo que se quis e ver outros sonhos simplesmente não acontecerem, mas o melhor, é descobrir que isto não é o fim. Algumas dores nos parecem tão profundas que a morte soa mais amena, um descanso, talvez nos falte dor para aceitar a morte, ou fogo para aquecer a vida. O pó que está em suas estantes internas pode ser mais perigoso que a ameaça do caixão, o sorriso que você desaprendeu pode ser seu inferno em vida: o vazio de dias insossos.

Não é preciso viajar para todos os países do mundo, quem coloca seus sonhos em patamares tão altos é quem é covarde demais para ter sonhos possíveis, alcançar e conviver com a realização e esta ser menos do que supunha. É criar um paraíso distante e seguro, imaginário e ideal o suficiente para que não seja preciso lutar pelo hoje.

Sinta seu coração bater dentro do seu peito e se pergunte: será que tenho sentido, observado e sonhado o suficiente? Valorizado esta vida que pulsa em mim, ou vou ficar acuado, temendo a morte, pronto a adiá-la ao máximo enquanto sobrevivo em uma vida sem sabor e som?

A rotina te mata na mesmo proporção que excesso de emoções o fariam, o equilíbrio, que sábios de todos os tempos já diziam, é uma experimentação plena das pequenas coisas, é um viver e sentir sem analisar e refletir ou explicar (na racionalidade exaustiva), é deixar que a vida flua e daí gere frutos e não olhar a superfície e dar nomes, e dizer como funciona, ou tentar adivinhar o desfecho. Assim como olhar para um magnífico céu estrelado pode ser fonte de angustia ao nos sentirmos pequenos, pode ter o poder de nos mostrar como nossos problemas também são ínfimos diante de um tudo que pulsa e permanece, a vida nasce e morre mas a alma flui, é como o rio, não é feita de água, mas de um eterno fluir. E sempre será escolha: como viver este tudo que tenho?!

"O tempo dura bastante para aqueles que sabem aproveitá-lo.

Leonardo da Vinci

T Sophie
Enviado por T Sophie em 27/07/2011
Reeditado em 22/09/2011
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