BULLYING ESCOLAR: Uma análise social com casos brasileiros

RESUMO:

Este trabalho tem por objetivo refletir sobre pesquisas nacionais que abordam o Bullying escolar, um fenômeno social recente e talvez pouco esclarecido por profissionais que atuam na área da educação. Apresento o tema com base nas pesquisas da monografia da pedagoga Ester Mascarenhas dos Santos da Universidade Federal Fluminense: O Bullying em uma escola filantrópica: as crianças contam suas histórias e da pesquisadora Cléo Fante escritora do livro:

Fenômeno bullying: Como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz” que desejou estudar e aprofundar os estudos sobre Bullying escolar no ano de 2.000 na região de São José do Rio Preto em São Paulo o programa Educar para Paz que durou até o ano de 2003 teve a participação de dois mil alunos. Também através da leitura de estudos e notícias anteriores realizadas sobre o assunto enfocam-se as possíveis causas do fenômeno, que afeta a auto-estima dos alunos e apontam-se as possíveis medidas de prevenção.

PALAVRAS CHAVES:

violência escolar, comportamento agressivo, auto-estima, estudantes, bullying

INTRODUÇÃO:

Antes de conceituar esse fenômeno é importante citar uma pesquisa recente que apresenta: que uma em cada cinco crianças brasileiras sofre algum tipo de constrangimento no ambiente escolar. Segundo reportagem especial “Ação sem reação” divulgada em janeiro pela Rádio Bandeirantes, da cidade de São Paulo, estudantes agredidos e agressores estão em sua maioria na adolescência entre 11 e 15 anos. Verificado ainda mesmo que com menor freqüência entre crianças de 6 e 7 anos de idade.

Os estudos em torno do Fenômeno Bullying começaram na década de 1970 por meio de pesquisas realizadas por Dan Olweus (Pereira, 2002) na Universidade de Bergen. Essas pesquisas começaram a ganhar notoriedade em 1983 quando o Governo Norueguês manifestou apoio a esses estudos devido a constatações de suicídios que envolviam adolescentes vitimizados dentro das escolas. (SANTOS, 2007, p.10 in FANTE, 2005).

De acordo com especialistas, tirar sarro ou fazer chacota com amigos da mesma idade são atitudes consideradas naturais, e fazem parte do meio social escolar, mas apenas até um determinado momento e com limites. Quando a brincadeira provoca humilhação ou menosprezo está configurada a prática de bullying, termo em inglês que em português pode ser lido como “valentão”. No Brasil a pesquisadora Cléo Fante, autora do Livro “Fenômeno bullying: Como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz” estuda e aprofunda os estudos sobre Bullying Escolar praticado no Brasil, alguns dados auferidos durante seu trabalho pioneiro constatou que: 49% dos alunos que participaram da pesquisa estavam envolvidos em casos de Bullying, destes 22% eram vítimas, 15% agressores e 12% vítimas e agressores.

Os indivíduos se tornam seres descartáveis, considera-se uma pessoa importante à medida que ela representa algo favorável, no entanto, se isso não acontece descarta-se e procura-se outro que ofereça maiores vantagens e privilégios. Exclui o diferente para eliminar as diferenças em nosso convívio social e afastar os que não se adaptam a nova ordem, ou seja, todos aqueles que não se encaixam ao padrão de sociedade estabelecido, além de perpetuar às desigualdades existentes na sociedade e garantir privilégios ao grupo hegemônico. (SANTOS, 2007, p.18).

Vivemos numa sociedade moderna com grande influência capitalista, com esse enfoque, percebemos claramente a divisão de classes sociais em que poucos possuem bens e meios de produção enquanto que a maioria da sociedade pertence à classe trabalhadora, e vende sua força de trabalho. Sobretudo, tais mudanças estruturais desta ordem social afetam a sociedade e refletem em nosso cotidiano, devido às manifestações de uma sociedade competitiva, individualista, desigual, segregadora, excludente e preconceituosa. Nesse modelo social, marcado em especial por relações sociais frágeis, superficiais e inseguras. Muitas vezes, percebemos que as pessoas têm medo de se relacionar, preferem rotular e classificar, e com isso bloqueiam o contato direto e natural, rejeita-se e exclui sem ao menos conhecer adequadamente o outro.

O QUE É BULLYING ESCOLAR?

O que ocorre hoje nas escolas públicas e privadas brasileiras atualmente denota a preocupante situação da violência juvenil, intolerância ou da rejeição pelo outro que parece ser diferente do grupo ao qual o(s) “dominador(es) carismático(s)” pertence conforme já teorizava Weber. Na maior parte das vezes, o problema é ocultado pelos demais estudantes que testemunham as agressões, o que agrava e sustenta por demasiado tempo a liderança agressiva desses jovens dominadores. As vítimas passam a sentir razão por ter medo, e então só falta um passo para projetar psicoses mais sérias e condenar a si próprio. A escola tem refletido os comportamentos da sociedade, e por consequência os alunos dessa escola os assimilam e mais uma vez os reproduzem entre seus colegas e não raro até com professores das escolas mais precárias, localizadas nas periferias das principais cidades brasileiras. O que se presencia e vivencia nesse cenário é um contexto social e cultural que reabilita a sensação de violência no ambiente escolar.

Isso também pode ser fruto da formação do estudante: meio social, a família, igreja e o grupo de amigos no qual convive. No Brasil os registros de bullying estão vinculados a ameaças, maus tratos, roubos, agressões, isolamento, intimidações, provocações, furtos, quebra de pertences, ofensas, humilhação, rejeição e exclusão.

Entretanto em outros países que inciaram seus estudos como na Noruega e na Dinamarca esse fenômeno é conhecido como “Mobbing” que significa tumultuar, na Suécia e Finlândia é empregado como “Mobbning”. Na Itália foi conceituado como “prepotenza”, na Espanha

“intimidación” e no Japão é utilizado o termo “yjime”. (Fante,2005)

Em suma, formas de agressão ou comportamentos agressivos feitos a uma determinada vítima sem provocação aparente, com a intenção de machucar fisicamente ou emocionalmente. Por ser um fenômeno individual ou grupal invariavelmente ocorre de forma repetitiva e pode ser caracterizado pela existência de uma relação de poder constituída entre um ou mais grupos de alunos.

DIFERENCIAÇÕES – O BULLYING ENTRE MENINOS E MENINAS

Bullying praticado por meninos geralmente envolverá agressões físicas, de um menino que pode ter dificuldades de convivência em sua própria família ou ainda quando deseja buscar auto afirmação num determinado grupo de colegas.

Ao agir socialmente tendo em vista a validez de uma determinada ordem cujo sentido é compartilhado por aqueles que dela participam, ele o faz de acordo com os padrões que são específicos de tal ordem e, assim, articula em sua ação sentidos referenciados a esferas distintas. (WEBER. Economia e Sociedade, p. 27)

É comum verificar registros da imprensa, ou dos próprios estudantes por meio das câmeras de seus celulares, condicionando vitimas com chutes, tapas, empurrões, brigas, ofensas, zombarias, perseguições, intimidações, apelidos, xingamentos, exclusão e roubos. O Bullying masculino pode ser considerado mais perceptível se comparado às práticas que envolvem as meninas. No entanto, as meninas praticam

o Bullying de forma sutil, e muitas vezes quem está de fora não percebe que existem práticas de intimidação, isolamento, difamação, intrigas, fofocas, risos, mentiras, furtos, agressões psicológicas, ameaças que acontecem com freqüência durante o ano inteiro.

Se observarmos não notaremos que existem conflitos presentes naquele grupo, pois elas são íntimas e de um momento para o outro por diversos motivos como ciúmes ou inveja, começam a provocar outros indivíduos, através de um relacionamento falso, de aparências, onde friamente as agressoras atingem os sentimentos da vítima, sufocando-a.

Consequentemente ela vai se entristecendo, questionando os motivos da provocação, sentindo-se insegura com relação às amizades, à aparência, no entanto, a vítima não sabe a quem expor tais fatos. (SANTOS, 2007, pg.36)

Normalmente são grupinhos de meninas que dominam e ameaçam uma ou mais vítimas. As meninas agem em busca de popularidade e poder, excluem meninas gordinhas ou muito magras as quais, não usam as roupas, acessórios, esmaltes e penteados da moda ou meninas inteligentes, bonitas, esnobando-as, impedindo-as de manter e fazer amizades dentro e fora da escola. As provocações feitas por meninas ocorrem discretamente, através de cochichos, risos, olhares, manifestam uma outra visão de Bullying presente nas escolas. Isso ocorre com grupos de amigas.

MEIOS DE PREVENÇÃO

A pesquisadora Cleo Fante dirige o Centro Multidisciplinar de Estudos e Orientação sobre o Bullying Escolar (CEMEOBES) em Brasília. Atualmente o mais atualizado e capacitado centro de estudos e pesquisas sobre Bullying escolar do Brasil.

Fante em suas pesquisas compilou problemas de agressão e violência extremada em diversos países, que já vinham sendo estudado antes do nosso: Estados Unidos, Espanha, Itália, Japão, Alemanha entre outros. Em Portugal os estudos sobre Bullying estão ocorrendo de forma alcançar sua prevenção.

Um dos programas que vem sendo desenvolvido é o “Scan Bullying”, onde os próprios alunos analisam desenhos animados e detectam situações de exclusão, isolamento, discriminação, agressão física e verbal, assim, os alunos compreendem as possíveis causas do Bullying e suas múltiplas consequências. (Fante,2005)

Na Finlândia o Bullying é abordado com o apoio do Ministério da Educação, cuja preocupação inicial é o bem estar dos alunos, utilizando recursos didáticos que identificam vítimas e agressores e detectam as diferentes formas de Bullying entre meninos e meninas. Os Projetos fornecem informações básicas e soluções necessárias à prevenção do Bullying nas escolas. (Pereira,2002)

Os estudantes estão a caminho da escola com o propósito de aprender, estudar e fazer novas amizades, porém o que lá encontram são situações de fofocas, exclusão, rejeição, roubo, isolamento, o que lhes tem causado dor e sofrimento. Em casos mais extremos geram depressão e suicídio nas vítimas. Independente de estar matriculado em escola pública ou privada o problema se repete e se agrava nas cidades do interior e também nas metrópoles brasileiras. Segundo a ABRAPIA – Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência, a violência pode ser dividida nos seguintes tipos: violência física, violência psicológica, negligência familiar, violência sexual e Bullying.

A violência física pode ser caracterizada quando ocorre contato direto, intencional ou não, ferindo a vítima de alguma forma. A violência psicológica é mais comum de acontecer, mas pode deixar traumas irreparáveis em suas vítimas, acontece quando somos rejeitados, excluídos, humilhados e ameaçados.

A negligência está associada aos cuidados necessários à proteção, saúde e alimentação de crianças e jovens que estiverem sobre a responsabilidade de um adulto. A violência sexual ocorre quando uma criança ou adolescente é forçado a ter relações sexuais, abusando deles e forçando-os a práticas ilícitas contra a sua vontade.

O homem é o resultado do meio cultural em que foi socializado. Ele é um herdeiro de um longo processo acumulativo, que reflete o conhecimento e a experiência adquiridas pelas numerosas gerações que o antecederam. (LARAIA,2006.p.45)

Ao observamos a agressividade existente nas salas de aula e entre os estudantes, devemos pensar no contexto social e cultural que estamos inseridos. Então, o que é considerado violência aqui no Brasil, pode não ser em outro país, pois temos valores culturais e sociais distintos que determinam a normalidade. A escola deve cumprir uma função socializadora mediando o sujeito e meio social ao qual está inserido.

O espaço escolar deve ensinar, além de matérias acadêmicas, conceitos referentes à amizade, respeito, solidariedade a fim de que os alunos absorvam e assimilem esses ensinamentos em suas vidas diariamente, através de estratégias de intervenção que busquem combater toda e qualquer forma de violência na escola e na sociedade. Porém, é dever primordial da família ensinar seus filhos a conviverem em grupo e em sociedade, iniciando sua vida social, o respeito ao outro e as diferenças individuais. Independente do modelo educativo escolhido pela família, o comportamento e postura dos pais servem de base aos filhos que muitas vezes reproduzem essas atitudes em seu cotidiano.

O BULLYING E A COBERTURA DA IMPRENSA

alguns casos brasileiros famosos e a resposta da Justiça

Caso 1 - Em maio de 2010, a Justiça obrigou os pais de uma estudante do Colégio Santa Dorotéia, no bairro Sion de Belo Horizonte, a pagar uma indenização de R$ 8 mil a uma garota de 15 anos por conta de assédio escolar. A estudante foi classificada como G.E. (sigla para integrantes de grupo de excluídos) por ser supostamente feia e as insinuações se tornaram frequentes com o passar do tempo, e entre elas, dedicaram-lhe apelidos como: tábua, prostituta, sem peito e sem bunda.

Os pais da menina alegaram que procuraram a escola, mas não conseguiram resolver a questão. O juiz relatou que as atitudes do adolescente acusado pareciam não ter "limite" e que ele "prosseguiu em suas atitudes inconvenientes de “intimidação”, o que deixou a vítima, segundo a psicóloga que depôs no caso, "triste, estressada e emocionalmente debilitada". O colégio de classe

média alta não foi responsabilizado.

Caso 2 - Na USP, o jornal estudantil O Parasita ofereceu um convite a uma festa brega aos estudantes do curso que, em troca, jogassem fezes em um gay. Um dos alunos a quem o jornal faz referência chegou a divulgar, em outra ocasião, estudantes da Farmácia chegaram a atirar uma lata de cerveja cheia em um casal de homossexuais, que também era do curso, durante o tradicional happy hour de quinta-feira na Escola de Comunicações e Artes da USP. A vítima porém não tomou

nenhuma providência judicial contra os colegas, embora tenha ficado revoltado com a publicação do Pasquim.

Caso 3 - Durante o ano de 2010, Bárbara Evans, filha de Monique Evans e estudante da Universidade Anhembi Morumbi (onde cursava o primeiro ano de Nutrição), em São Paulo, entrou na Justiça com um processo de assédio escolar realizado por seus colegas. No dia 12/06/2010, na ocasião, um sábado à noite, o muro externo do estacionamento do campus Centro da referida Universidade foi pichado com ofensas a ela e a sua mãe.

Caso 4 - Emblemático e recente o Massacre de Realengo, no qual 12 crianças morreram alvejadas por tiros, foi atribuído, por ex-estudantes da escola e ex-colegas do atirador, a uma vingança por bullying. O atirador, que se suicidou durante a tragédia, também citou o bullying como a motivação para o crime nos vídeos recuperados pela polícia durante as investigações posteriores no disco rígido do computador do assassino.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No Brasil e na maior parte das escolas do mundo as vítimas do Bullying escolar normalmente são crianças tímidas e quietas, são passivas diante das agressões. E sentem dificuldade para se expressar à respeito do problema, o que torna difícil a identificação dos agressores. Por isso inúmeras vítimas podem estar sofrendo dentro das escolas e não conseguem expor o que realmente acontece ou mesmo quando falam podem não ser levadas a sério. É importante o acompanhamento dos professores, funcionários, amigos, demais estudantes e principalmente dos pais e familiares dessas crianças. Eles mais do que ninguém convivém e estão próximos de seus filhos para identificar abusos e agressões cometidos nos bastidores do

espaço escolar.

É deles também o papel fundamental e prioritário de educá-los para a vida em sociedade com exemplos de cooperação, tolerância e solidariedade. Se faz necessário entender e ressaltar a discriminação, pois engloba todas as outras manifestações desse fenômeno o qual se estabelece através de características étnicas, sociais e religiosas que tentam justificar gestos, falas e atitudes baseadas em preconceitos e estereótipos, associados a apelidos que rotulam às vítimas e exaltam aspectos marcantes de um indivíduo ou grupo de forma pejorativa.

Compreende-se que as manifestações de Bullying ocorrem por causa de conceitos estabelecidos socialmente em que uns são considerados “superiores” a outros, e legitimam a dominação através de comportamentos que excluem as crianças vistas como “diferentes”. Felizmente hoje existem inúmeras escolas que abordam o tema Bullying em suas instituições com o intuito de provocar o debate, traçar metas, conscientizar pais, alunos e funcionários. Nesse sentido percebemos a importância de se conhecer o fenômeno para intervir, auxiliar e entender o cotidiano escolar.

A imprensa nacional, nos dois últimos anos tem colaborado para esclarecer a população e trazer luz há um assunto que manteve-se por muito tempo ocultado sobre o silêncio doloroso e amedrontado de muitas vitimas que conseguiram crescer normais e sociáveis, entretanto isso não é regra geral. É importante destacar que notícias recentes evidenciam que o problema existe e é abrangente em todos os estados do País. Nossas crianças necessitam de acompanhamento e observação permanente por parte dos educadores, para evitar que a prática perversa do Bullying ocorra e agrave-se em algo mais sério, quando na pior das hipóteses tornar-se algo psicossomático e indesejável para a vida social e até mesmo fatalista para o aluno.

BIBLIOGRAFIA

ASSOCIAÇÃO Brasileira Multiprofissional de Proteção à infância e à adolescência. ABRAPIA. Disponível em: www.abrapia.org.br.

BEAUDOIN, Marie- Nathalie. Maureen, Taylor; tradução Sandra Regina Netz. Bullying e desrespeito: como acabar com essa cultura na escola. Porto Alegre: Artmed Editora, 2006

FANTE, Cléo. Fenômeno bullying: Como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. Campinas, SP. Verus Editora, 2005.

LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 20. ed. – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006.

SANTOS, Ester Mascarenhas. O Bullying em uma escola filantrópica: as

crianças contam suas histórias, Rio de Janeiro: UFF, 2007.

WEBER, Max. vol 2. Economia e Sociedade, tradução de Regis Barbosa e Karen Elsabe Barbosa: Editora UnB, Imprensa Oficial do Estado de SP, São Paulo, 2004

José Luís de Freitas
Enviado por José Luís de Freitas em 29/07/2011
Reeditado em 29/07/2011
Código do texto: T3126355
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