HIDRELÉTRICA DE BELO MONTE - CRISE NO CORAÇÃO DA FLORESTA

Alheios à polêmica entre o governo e grupos contrários à construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, trabalhadores são submetidos a treinamentos de capacitação para atuar nas obras

De um lado o governo federal, preocupado em suprir a demanda de energia e o risco de apagões futuros; de outro, ambientalistas e representantes de povos indígenas, indignados com os impactos socioambientais que a obra possa causar no coração da floresta amazônica. Pode até parecer roteiro de um filme do tipo Avatar, mas esse é o cenário atual da região conhecida como Volta Grande do Rio Xingu, no Pará, onde está sendo construída a Usina Hidrelétrica de Belo Monte. Com investimento aproximado de R$ 19 bilhões, o valor só é superado pelo orçamento do trem-bala, calculado em R$ 34 bilhões pelo PAC – Programa de Aceleração do Crescimento. Segundo o governo, a maior vantagem do empreendimento será o barateamento do preço da energia, aliada à grande capacidade de produção. “Não posso dizer que Belo Monte não será construída. A questão é que pode ser construída gerando um trabalho de saneamento ambiental para a região e com realocação adequada da população de ribeirinhos”, afirmou Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência da República durante um congresso sobre mudanças climáticas e justiça social realizado em março na cidade de Luziânia (GO).

Na opinião do analista ambiental Giovanni Salera Júnior, é preciso que haja organização e pressão sobre os governantes, órgãos públicos e empresários, para que assim os direitos dos cidadãos e a proteção à natureza sejam respeitados. “Acredito que a obra só será realmente proveitosa se levar tudo isso em conta”, complementa. Pesquisador do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP – Universidade de São Paulo, Francisco Hernandez prevê que a instalação da usina irá reduzir de maneira significativa a vazão do rio e afetar a fauna e a flora. “Isso causará uma redução drástica da oferta de água dessa região imensa, onde estão povos ribeirinhos, pescadores, duas terras indígenas e dois municípios”, enumera.

A Norte Energia, empresa responsável pelas obras, tem constantemente reforçado que todas as ações socioambientais definidas pela FUNAI – Fundação Nacional do Índio estão sendo cumpridas, entre elas a garantia de que nenhuma comunidade indígena será removida de onde se encontra atualmente. Por meio de nota oficial, a empresa garantiu ainda que os estudos do projeto “indicaram todas as medidas necessárias para mitigar seus impactos, as quais serão integralmente executadas e acrescidas de outras que vierem a se tornar necessárias”. Já que “não há bônus sem ônus”, como diz o provérbio latino, há de se considerar também alguns fatores positivos como a mão-de-obra a ser empregada; a melhoria na infraestrutura em cidades que, ao contrário dos grandes centros urbanos e industriais, ainda sobrem com a falta de oportunidades de trabalho; e o crescimento econômico da região.

Capacitação e emprego – Pelas estimativas da Norte Energia, mais de 20 mil empregos diretos e indiretos serão gerados nos próximos anos. Na segunda quinzena de março foram iniciados os programas de treinamento e capacitação profissional, com o objetivo de qualificar os trabalhadores que já dispunham de alguma experiência na área de atuação, inclusive na construção civil, como também treinar aqueles que não possuem qualquer conhecimento teórico e prático. “Temos como premissa valorizar a contratação de mão-de-obra local. Para isso, estamos investindo fortemente em capacitação profissional e priorizando o atendimento a homens e mulheres que vivem em Altamira e comunidades vizinhas. Também estão previstos investimentos na criação de cursos para a alfabetização de adultos nos sítios da obra”, promete o diretor de projetos Ricardo Muzzi.

Os cursos gratuitos de 160 horas/aula são ministrados pelo SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial de Altamira (PA). Para o diretor regional da escola, Gerson Peres, além da qualificação profissional, a parceria dará à comunidade acesso a um novo e importante mercado de trabalho. “O SENAI irá executar a qualificação da mão-de-obra dos profissionais que irão atuar na construção, execução e manutenção da usina, de acordo com as demandas informadas pelo CCBM – Consórcio Construtor de Belo Monte e novos convênios firmados no decorrer do processo”, disse.

Ao término das obras, previsto para 2019, a Usina Hidrelétrica de Belo Monte será a terceira maior do mundo em capacidade instalada, ficando atrás somente da chinesa Três Gargantas e da Itaipu, localizada na fronteira entre o Brasil e o Paraguai.

Belo Monte terá também a participação da Vale

Com promessas de investimentos de R$ 2,3 bilhões, a Vale é mais uma das empresas envolvidas na construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. O comunicado à imprensa foi feito no final de abril, quando a mineradora confirmou a aquisição de 9% do consórcio da Norte Energia, que antes pertenciam à Gaia Energia e Participações. “A aquisição da participação elevará o percentual de energia gerada pela Vale e reduzirá também o custo”, explicou o diretor financeiro Guilherme Cavalcanti em teleconferência com jornalistas. Experiência no setor é o que não falta à empreiteira, que tem participação em nove hidrelétricas no Brasil, além de possuir três usinas na Indonésia e cinco pequenas centrais elétricas no Canadá.

Fonte: Revista da FENTEC - Edição 35

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José Donizetti Morbidelli
Enviado por José Donizetti Morbidelli em 22/08/2011
Reeditado em 22/08/2011
Código do texto: T3175520
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