O dinheiro

O DINHEIRO

Dinheiro é bom quando se tem, e péssimo quando falta em nosso bolso. Lamentavelmente, as pessoas são julgadas e quantificadas pelo dinheiro que têm, e não pelo caráter ou pela sabedoria que demonstram. Hoje em dia aumenta o número daqueles que endeusam o vil metal, a ponto de onerar a vida dos outros com usuras, explorações, fazendo recair sobre si próprios uma baixa qualidade de vida, tudo com o fito de ter mais, sem pensar no lazer, na diversão e na solidariedade. Estão sempre pensando nos lucros e se esquecem de ser felizes.

Nesse desatino, não sabem ver nada do mundo que não tenha agregado um valor financeiro, um lucro, mesmo que isto fira a moral, a ética, a cidadania ou a ecologia. Para eles, o que não dá lucro não tem valor. Em qualquer circunstância, logo perguntam: “Quanto isto vai render?” Ou “qual a finalidade econômica deste projeto?”.

São Jerônimo († 419), um dos mestres do ensino social da Igreja, disse em um de seus inflamados discursos que “o dinheiro é o esterco do diabo”. Olhando bem, analisando prós e contras dessa assertiva, por todas as tragédias que o dinheiro tem patrocinado séculos afora, não dá para dizer que o santo está errado.

Cultivamos o supérfluo e esquecemos o essencial. O que é importante em nossa vida? Pensem nisso. Uns querem um emprego melhor; outros, só um emprego. Uns desejam uma refeição mais farta; outros, apenas uma refeição. Uns querem uma vida mais amena; outros, apenas viver. Uns desejam ter olhos claros; outros, enxergar. Uns querem ter voz bonita; outros, falar. Uns querem silêncio; outros, ouvir. Uns querem sapatos novos; outros, ter pés. Uns desejam um carro; outros, apenas andar. Uns querem o supérfluo; muitos, só o necessário.

Há tempos escutei um homem falando da baixa qualidade de vida que se fez presente nos últimos anos de seu pai. Para dar toques mais reais à indigência observada ele completou: “meu pai morreu pobre; não tinha nada; só dinheiro”.

Dinheiro, já que o santo o comparou daquela forma, para mim é realmente como esterco: só serve para alguma coisa se for espalhado. Fora disto é usura, egoísmo e alienação. O dinheiro é bom para ser gasto em lazer, em ajuda solidária e na construção de qualidade de via. Minha mulher diz que “caixão de defunto não tem gaveta”, e é verdade. Tem gente que economiza de forma ridícula a vida toda e morre sem ter desfrutado sua riqueza.

O dinheiro, honestamente acumulado, deve ser gasto em coisas lícitas. Sem ser esbanjado de forma irresponsável, ele deve servir para nos tornar felizes, alegres e fraternos, jamais para ser motivo de preocupação ou de perda do sono.