Retratos e canções

RETRATOS E CANÇÕES

Pois agora em outubro estiveram em Porto Alegre dois artistas, que se apresentaram em dias diversos, para públicos mais diversos ainda. O primeiro deles, o guitarrista, cantor e compositor Eric Clapton, um ídolo da minha geração, (britânico nascido em 1945) chamado eufemicamente de deus, tal o grau de veneração que lhe é dispensado pelos admiradores do mundo inteiro. Tenho um clip dele que é antológico, com Billy Preston, Ringo Starr e Paul McCartney, onde esse grupo da pesada canta “My sweet Lord” e “Something”. Seus fãs, pela facilidade com que dedilha a guitarra, costumam chamá-lo de slowhand.

No mesmo período se exibiu na Capital um jovem canadense de dezessete anos (nasceu em Ontário, 1994), Justin Bieber, que fez tremer as bases das garotas. Confesso que não conhecia o garoto. Ele não frequenta as FM e canais de música que costumo ouvir e assistir. A televisão mostrou seu público, umas menininhas na faixa de doze anos, acampadas em barracas dois dias antes para obter um ingresso para o show. Entrevistadas pela tevê, elas, na hora, começaram a cantar canções do ídolo. Garanto que a maioria delas não sabe direito o Hino Nacional, não sabe a lição de inglês tão na ponta da língua nem tem tanto esmero com livros e apostilas escolares quanto com pôsteres e CDs do artista.

Pessoas conhecidas, dignas de credibilidade, me contaram que, nos dias do espetáculo, as garotas ficaram com a cabeça girando só em torno do evento. Segundo relatos, algumas delas não foram à aula (mesmo sendo dia de prova), descuidaram-se até da higiene pessoal e do trato familiar, embevecidas com a expectativa da apresentação do ídolo teen. Os professores e diretores de escola ficaram de cabelo em pé. Retratos de uma geração...

Uns vinte dias antes, havia se apresentado em Novo Hamburgo, o tenor basco Josep Carreras, na inauguração do magnífico teatro da Feevale, minha universidade do coração. Foi um espetáculo que, pela qualidade do intérprete dispensa maiores comentários. Desses três eventos algumas questões se me suscitam: primeiro, o preço dos ingressos.

Quem quis assistir as três apresentações teve que desembolsar perto de dois mil reais. Sem falar no recital do Charles Aznavour, em abril, na FIERGS, cuja poltrona de platéia custava setecentos reais. Depois, o que chamou atenção, mesmo a despeito de crises e ingressos caros, foi a presença do público gaúcho em espetáculos de qualidade, como Clapton, Carreras e Aznavour.