Terno e gravata

TERNO E GRAVATA

Eu trabalhei muitos anos de terno e gravata. Vinha em casa almoçar, e não tirava o paletó nem a gravata. Meu pai igualmente era um usuário permanente do terno e da gravata. Quando vinha almoçar ele apenas tirava o casaco, vestindo um robe curto de veludo marrom, para recostar-se numa bergére e tirar alguns minutos de sesta.

Meu pai era formal. Dificilmente ele vestia uma roupa esporte. Nunca o vi usando tênis, que naquele tempo se chamava “sapato de tênis”. Bermuda eu nunca o vi usando. Hoje, depois de aposentado só ando de tênis, calça de abrigo ou bermuda, com camiseta com ou sem mangas. a roupa esporte. Não uso mais gravata. Já proibi lá em casa de me enterrarem de gravata.

A cidade de Pelotas é conhecida nacionalmente pela “capital da gravata”. Tenho um conhecido, que mora lá, que limpa a piscina de terno de gravata. Eu trabalhei lá por dois anos e recordo que numa noite, havia uma festividade num dos principais clubes de cidade, era dezembro e fazia um calor infernal. Não tive dúvidas: fui com um daqueles terninhos (era moda) chamado “safári”. Quando cheguei ao clube era só eu sem gravata. Azar! Aos poucos o pessoal foi aderindo, tirando os casados e as gravatas e arregaçando as mangas...

Isto tudo é preâmbulo para o que vou falar. Nos últimos quinze dias assisti três filmes, em DVD: Tarde demais para esquecer, o Retrato de Jennie e Pandora. O primeiro ambientado em 1958, num transatlântico de luxo e em Nova York, o segundo em 1930, também na Big Apple e o terceiro na costa mediterrânea da Espanha em 1930. Nos três filmes, os galãs (Cary Grant, Joseph Cotten e James Mason) vestem terno e gravata, quando não smoking o tempo todo. Causa estranheza que esses personagens, mesmo em situações informais, em casa, visitas, beira de piscina e na praia e idas ao comércio, em momento alguém usam traje menos formal. Curioso, não?

Isto serve para se avaliar o quanto progredimos em vestuário masculino. Fiz um cruzeiro marítimo na Grécia, onde em noite de recepção era sugerido o black-tie. Poucos usaram. Em Paris, um programa triplo (jantar na Torre Eifell, passeio de barco pelo rio Sena e uma noitada no Moulin Rouge) informava a obrigatoriedade do traje de gala.

Como tenho um certo feeling para esses eventos, à tarde liguei para agência de turismo, que me informou a liberação do traje. Se me baseasse no folder da companhia, estaria eu e dois americanos de smoking, o resto de camisa esporte. Para não ser surpreendido, nessas viagens sempre levo um smoking, mas raramente usei.

No meu tempo, mesmo nas ínvias grotas, não de admitia um gerente de banco sem gravata. Hoje, até nas grandes cidades, a camisa esporte assumiu a moda dos executivos.