NEW JOURNALISM: A NECESSÁRIA ABERTURA DE MENTES

O que, quem, quando, onde, como e por que. Seis perguntas que, necessariamente, ditam as regras do bom jornalismo. É desta forma que as matérias devem ser iniciadas, a fim de que o leitor sinta-se instigado a ler tudo desde o seu início. Como foi feito, literalmente, neste texto, iniciado com todas as perguntas do batidíssimo lead. Com relação a ser o jeito “certo” de começar um texto, bem, esta regra é a primeira aprendida pelos alunos de jornalismo. Tudo o que eles já sabem sobre começar a escrever um texto cai por terra ao ingressarem na faculdade. É tudo muito direto, tudo muito dinâmico. Não se pode permitir que o leitor desista, afinal de contas. Isso é ensinado como o bom jornalismo: é necessário prender a atenção do público desde a primeira palavra escrita ou dita, a primeira vírgula, o primeiro parágrafo, a primeira página. Sem que tal missão seja cumprida, de nada adiantou perseguir a notícia. E para isso, o lead é a principal ferramenta. Uma vez mais, não custa lembrar: pelo menos, assim é dito nos cursos de jornalismo.

Por que as coisas precisam ser assim? Tão rápidas, diretas, fáceis. Tão simples. Qual a justificativa apresentada para o jornalista apenas transmitir a informação como se ele se utilizasse de um manual de instruções? É interessante conjecturar a respeito desta metáfora. Muitos jornais têm os famosos manuais de redação e estilo. É o jeito encontrado pelos veículos de padronizar o trabalho dos jornalistas, de situar suas atividades dentro da empresa. De certa forma, é também uma maneira de desumanizar o jornalismo. Não há um nariz-de-cera sequer, nenhuma abertura diferenciada, nenhuma pitada de romance, nada lírico. Somente a matéria pura e seca. O lead e o gancho. A pirâmide invertida. Uma tecla desgastada desde os bancos universitários. A fórmula antiga que deixa o jornalismo com cara de ciência exata. Nossa área é a das humanas, estão lembrados?

A isso se propõe a mágica e imprevisível vertente introduzida por Truman Capote e seu livro “A Sangue Frio”. Um romance sobre um assassinato em série. Em sua obra, o jornalista Capote usa e abusa de técnicas literárias para fazer suas reportagens. Não há lead. Não há gancho. Não existe a receitinha de bolo escrita no papel de pão. Mas há jornalismo. E há a literatura. Quem foi que disse que ambos não podem ser combinados?

Bravo, Capote. Seus belos versos mudaram o conceito jornalístico que seria passado pelos bancos universitários como sendo o único e legítimo. São versos que, ainda que carregados pelo lirismo característicos dos romances, não deixam de ser jornalísticos. Não nos esqueçamos de que o conteúdo de “A Sangue Frio” não é fictício. Tudo foi pesquisado e apurado. O compromisso com a verdade foi mantido. Há, supostamente, honestidade no relato. Isso é jornalismo. Não interessa se Capote não começou sua obra com o repetitivo lead. Ele não é obrigatório. Da mesma forma que a regra da pirâmide invertida seria incabível em seu livro. Como assim, começar “A Sangue Frio” com o clímax da história? Provavelmente, leitor nenhum conduziria o livro até o final das vidas e mortes dos seis personagens.

Capote foi o exemplo utilizado, mas há outros, como Tom Wolfe e Gay Talese, que publicavam na revista Esquire matérias que mais se assemelhavam a contos. Apesar de criticados, ambos não desistiram de dar continuidade à caminhada do promissor New Journalism. Tanto que Talese sintetizou o que era o movimento no prefácio de seu livro, “Aos Olhos da Multidão”: “O New Journalism, embora possa ser lido como ficção, não é ficção. É, ou deveria ser, tão verídico como a mais exata das reportagens, embora buscando uma verdade mais ampla que a possível, através da mera compilação de fatos comprováveis”.

A onda iniciada na primeira metade do século XX não pode parar. Que num futuro próximo as universidades adotem o New Journalism como uma nova disciplina. Não somente por uma questão histórica tão importante para o jornalismo atual, mas também por bom senso. Já existe fartura do ensino da área como emoldurada, enclausurada e enquadrada dentro da regra do lead, gancho e pirâmide. É preciso ampliar os horizontes. Jornalismo é uma profissão abrangente por demais para ficar restrita a dogmas. Afinal, a objetividade absoluta é um aspecto já desmistificado por vários teóricos que se propuseram a pensar a Comunicação. Portanto, que a liberdade do New Journalism ganhe corpo e verdade se faça!

Andre Mengo
Enviado por Andre Mengo em 06/12/2011
Código do texto: T3375537
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