Cada um paga a sua

CADA UM PAGA A SUA

É uma praxe mais ou menos instalada entre adolescentes e jovens, em suas festas rave, o costume de reunir amigos num boteco ou numa pizzaria e comemo-rar alguma coisa, com a pragmática divisa “cada uma paga a sua despesa”. Con-siderando que a garotada, em termos de renda e mesadas anda sempre pelas ca-ronas, essa prática atinge o objetivo da confraternização sem que a despesa saia pesada para ninguém. Ora, esse pragmatismo entre as gerações mais novas é a-ceitável.

No entanto, é constrangedor notar que aquela prática, defensa entre a ju-ventude, está se tornando um hábito entre os adultos, em suas mais variadas formas de comemoração. Eu se tiver condições financeiras para fazer uma festa, encho um salão de parentes e amigos. Se não tiver, não faço nada. Reúno a famí-lia mais próxima e celebro o exemplo en petit comité.

Fui a um casamento, há tempos, em que o luxo da indumentária da noiva e seus familiares contrastava com a cara-de-pau de entregar uma “comanda” de despesa a cada um que chegava ao sofisticado restaurante. Chega a ser acintoso alguém fazer uma festa sem condições de fazê-lo, confiando na cooperação dos convidados. Eu teria vergonha de cometer uma indelicadeza dessas. Ficaria mais bonito o chavão: “Os noivos receberão os cumprimentos da igreja”.

O pior é que esse mau hábito vem se estendendo por vários tipos de soleni-dades, como aniversário de idosos, festas de formatura, comemoração de quinze anos, etc. Acho plausível o acordo “a bebida será paga por fora”, pois tem gente que diante da “boca livre” exagera, mas repartir a despesa de festa com os outros – e muitas vezes sem aviso – é um despautério. Fui a um casamento desse feitio e um convidado, o coitadinho do tio da noiva não tinha dinheiro para arcar com o prejuízo; ele não fora avisado do critério. Resultado: alguém teve que ajudá-lo na hora da “dolorosa”.

Recordo, tempos atrás, uma senhora viúva estava para completar noventa anos. As duas filhas queriam prestar-lhe uma homenagem, reunindo a numerosa família, já que se tratava de uma pessoa muito querida. A festa foi realizada em uma ala reservada de um restaurante da Capital, reunindo umas cem pessoas, com direito a canapés de entrada, jantar, chope, refrigerantes e espumante na ho-ra da torna e do parabéns. A despesa foi integral e generosamente custeada pelas duas filhas. É claro que ambas as filhas da homenageada tinham condições de patrocinar o evento. Acho que assim deve ser.

Não sou pão-duro nem retrógrado, mas se sei antecipadamente que uma festa vai ocorrer no feitio do “cada um paga a sua”, dou uma desculpa e não com-pareço.