VELHICE. OU DA "REDENÇÃO" DA TERCEIRA IDADE.

Desde meus primeiros dias, ouço dizerem que devemos respeitar os mais velhos. Quanto a isso, não tenho dúvidas. Mas, por outro lado, também ouço -ainda que indiretamente- que a idade, por si, tem o condão de fazer com que pessoas, que no passado foram perversas, cruéis, tornem-se boas, exemplos de candura, numa sociedade doente por natureza, como num passe de mágica. E aí reside o tema-chave deste artigo.

Reconheço que idosos, via de regra, merecem (seja pela via moral, humana, ou qualquer que se avalie) chegar à idade que chegaram, por méritos próprios. Entretanto, querer apagar o passado de idosos que foram/são nefastos, cruéis, aterrorizadores, não é das mais justas formas de avaliação, até onde consigo perceber, se levarmos em conta o Princípio da Igualdade: não tratar de forma desigual, pessoas iguais. “A César o que é de César”, já disseram. Concordo. Porquê não punir com a mesma severidade, um idoso que cometeu um crime, assim como qualquer outra pessoa mais jovem? Por quê conceder-lhe o benefício da compaixão, quando ele não o considerou, com suas vítimas?

Um “velhinho” pode perfeitamente ser capaz das mais atrozes ações frente à uma vítima indefesa, ou sobre quem tenha controle. Idade não é absolvição para ninguém, ou pelo menos, não deveria ser. Engana-se quem acredita que volumosos -ou rasos- cabelos brancos, voz mansa, passos vacilantes e dentaduras formam um cidadão de bem. Absolutamente, não.

Muitos dos aparentes “velhinhos inocentes e bondosos” de hoje, foram/ são assassinos cruéis, bandidos sem escrúpulos, parentes sem a mínima consideração pelos seus, no passado. E devemos absolvê-los moralmente pela simples SORTE de terem vivido mais que outros de sua estirpe? Discordo. Entendo que nossas ações ditam nosso modo de vida. Se você é um canalha, sempre será. Se é uma pessoa trabalhadora, que cumpre seus deveres perante a sociedade e aos de seu convívio, sempre será, em essência. A avaliação do caráter, através do quantum de vida, além de falha, é ingênua. Sejamos mais práticos e menos emotivos, ao avaliar o caráter do outro, ainda que seu cândido sorriso teime tentar iludir-nos.

Gustavo Marinho
Enviado por Gustavo Marinho em 30/12/2011
Reeditado em 01/05/2014
Código do texto: T3414486
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