Haitianos:
sobrevivência não escolhe emprego
No Haiti (Foto: Internet)
Considero que estou vivenciando um momento histórico-social-humanitário na minha cidade. Um fenômeno de imigração que mudou a paisagem humana (se é que existe esse termo) na minha vizinhança: cerca de cinco mil haitianos estão em Manaus. E cada vez chegam mais.
Eles são sobreviventes de um país destruído por um terremoto de dimensões das catástrofes Holywoodianas. Chegam e são acolhidos por uma igreja católica, responsável por "gerenciar" a vida deles por aqui. Parabéns às pessoas da Paróquia de São Geraldo, que estão pondo em prática o que Jesus falou: "fui estrangeiro e me acolheste".
Fico imaginando as imaginações deles. Perderam família, casas, trabalho, escola, tudo. Saíram de uma vida, não sei se boa, mas dramaticamente traumatizada. Fico imaginando, mas contraditoriamente não quero nem pensar o que é viver o que eles viveram por ocasião do terremoto e a expectativa do que a vida vai lhes trazer.
Em Manaus (Foto: Internet)
Lentamente estão conseguindo emprego aqui, já os vemos como frentistas em postos de gasolina, ajudantes de pedreiros, atendentes. Bom é saber que Manaus tem se tornado abrigo, mas algumas coisas me deixam assombrado, quando vejo notícias de desumanidade.
(Foto: Internet)
"Crianças presenciam o estupro de suas mães por coiotes", li em uma manchete na Internet. É de fazer a gente desacreditar no ser humano. Dá vontade de soterrar esses suejitos sob os escombros do Haiti. Só Jesus na minha vida.
E esse não é o único tipo de humilhação sofrida por quem já veio de uma destruição. Dia desses li um comentário sobre os trabalhos que estão sendo conseguidos para os refugiados: "esses haitianos só vieram aqui tomar nossos empregos".
Fiquei indignado, e ao mesmo tempo questionei: se esse cidadão que falou isso mora aqui, não passou por um terremoto, não passou as dificuldades desse povo, e não conseguiu emprego como eles, alguma está errada, e não é com os haitianos.
- É que os haitianos não escolhem empregos - disse a Cleise, minha esposa.
No Haiti (Foto: Internet)
Em Manaus (Foto: Diario do Amazonas - D24AM)
Enquanto muita gente aqui se queixa de não arranjar um emprego, mas "não aceita qualquer um", aquele povo, que sabe o que é "sofrimento coletivo", está vindo, conseguindo suas carteiras de trabalho e construindo uma nova vida. De qualquer forma, por ser uma cidade que está acolhendo os haitianos, parabéns, Manaus. Esperemos que todos tenhamos uma vida mais digna.
Fotos: Internet.