Acabou de acontecer!

Já ia dar meia noite, faltavam cinco minutos. O telefone tocou e levei um susto. Na realidade, vários: primeiro pela hora, depois por que estava distraída lendo e por último porque o som da vida quando o Mundo adormece, é ensurdecedor. Resolvi não atender, mas ele não parava de tocar, então...atendi.

Do outro lado da linha uma voz jovem gritava alguma coisa, mas eu não conseguia entender. Pedi calma e avisei que tinha problemas de audição e se ele - me pareceu ser um rapaz – não falasse pausadamente eu não ia conseguir ouvi-lo. Para minha surpresa a voz passou a choramingar um dolorido “mãe... mãe... eu fui assaltado... eles estão aqui com uma arma apontada para mim...”.

Nessa hora entendi tudo e o seguinte diálogo foi estabelecido entre nós:

- “mãe... mãe... eu fui assaltado, você entendeu?”.

- Sim, entendi.

- “mãe... mãe... eles vão me matar, você está entendendo?”.

- Sim, estou entendendo. E daí?

- “mãe... eu posso morrer, mãe...”.

- E eu com isso?!

- “sua f.d.p. ...*#*#... “

- f.d.p. é você que liga pra minha casa uma hora dessa. Garoto bobo, eu não tenho filho e nem filha, sou solteira.

- “#*#*##*#*” pimmmmmmmmmmm... Desligou.

Imediatamente liguei para a casa da minha filha e ela e o marido já se preparavam para dormir. Fui ao quarto do meu filho e ele estava trabalhando. Quando contei, rimos muito. Não quis contar para minha filha, pois ela está grávida e não quis preocupá-la.

Voltei ao meu quarto e verifiquei a bina... Além de mau esse pobre garoto, também é burro... lá estava o celular dele, inteirinho. Apaguei...

Esta é a terceira vez que recebo esse tipo de telefonema, a última vez já faz mais de dois anos. Quando acontece este tipo de coisa comigo, vejo como Deus é bom para mim – todas às vezes meus filhos estavam perto de mim ou alcançáveis.

Maria Emília Xavier