Fazendo um Up Grade

FAZENDO UM UP GRADE

A cada dia que passa, nosso vocabulário nacional é aumentado com várias expressões estrangeiras, a maioria delas originárias dos Estados Unidos. Com a explosão tecnológica, que os especialistas chamam de “nova economia”, mais e mais palavras em inglês vão se incorporando aos nossos glossários, de forma que, sem nos darmos conta, vamos adentrando no processo globalizante que visa tornar o inglês a língua universal. O pior é que os gringos têm palavras que por si só, trazem, de forma imanente, uma visão geral que, em português, teríamos que utilizar – no mínimo – uma frase.

Assim foi com marketing, spread, banking, up to date e outras. De uns tempos para cá, surgiu a expressão up grade, oriunda da cibernética e da mecatrônica, algo que, literalmente, quer dizer “um grau acima”. Usa-se muito o up grade na informática, quando se formata um computador, acrescentando-lhe mais poder de fogo, como memória, espaço em HD, velocidade, ou outro equipamento periférico. Desta forma, up grade passou a ser sinônimo de acréscimo, em geral de qualidade, de aumento quantitativo, de algo a mais.

Depreciativamente, os micreiros chamam de frankenstein a um computador que passou por um processo desses. Mas os proprietários não estão nem aí; se a coisa funciona, vale tudo.

Na sociedade, para usar esse neologismo, também tem muita gente fazendo seus up grade. Nas minhas recentes férias vi muitos homens maduros, velhos mesmo, carecas e barrigudos, exibindo ao lado mulheres jovens, algumas até bonitas, muitas delas carregando crianças no colo, revelando a ocorrência de up grades, onde a velha esposa foi substituída por uma companheira de “última geração”. A diferença de idade entre o homem e a nova mulher é geralmente de vinte anos para mais. Às vezes a gente chega a pensar tratar-se de uma filha...

O surgimento de uma criança é o ponto crucial dessa novel relação. Ambos tem algo a dizer e a exibir, por isto o bebê fala a linguagem dos sinais, no qual as palavras são desnecessárias. Primeiro, ela quer mostrar à “extinta” a realização do “milagre”, o reavivamento da chama que a velha esposa já julgava apagada. Depois ele, para mostrar a “ex” que ele ainda dá no couro, e que ela é que não sabia ligar a tomada. Embora a maledicência às vezes despeitada da antiga possa afirmar que o filho não é dele, o ego masculino se sente massageado quando ele pode desfilar por aí empurrando o carrinho com um filho novo. Isso cala a boca de muitos descrentes.

A verdade é que a natureza masculina tem essa peculiaridade. Em muitos casos ela parecia adormecida, e de uma hora para outra, por conta da inusitada novidade se mostra ativa qual um vulcão mediterrâneo, à simples incorporação de um up grade à sua vida.

Filósofo e Escritor