Falta amor

Falta Amor

Hoje já deixou de comer, pobre menino de

rua, mas hoje não deixou de dormir, sob o

banco de um parque, (ele) não tem pais nem

tutores, nem ninguém que o queira.

As formigas, moscas e ratos, são suas únicas companhias, é que...

falta amor muito amor falta amor

falta amor.

Ainda pequeno de quase oito anos, vai pendurado

no bonde ninguém se importa, ninguém se

preocupa com a queda ou é que falta idade pra ele , ou lhe

sobra solidão (mas o caso é que ele dorme)

apertado na grande cidade

Oh no o o, é que...

falta amor muito amor falta amor falta

amor.

Como deixar (as crianças) esquecidas

Como deixá-las sem abrigo

é impossível ignorá-las.

E às vezes, falta amor, falta amor, falta

amor.

O menino tem um guardião magro, fiel e

carinhoso, um cachorro vira-lata, escudeiro chamado

"urso" (eles) não podem morrer, não deixam

de sofrer, mas juntos (eles) criam (coisas), e vendem (elas)

para sobreviver.

Oooh é que...

falta amor muito amor falta

amor falta amor

Como deixar (as crianças) esquecidas

Como deixá-las sem abrigo

é impossível ignorá-las.

E às vezes, falta amor, falta amor, falta

amor.

Falta amor, falta amor, falta amor

Falta amor, falta amor, falta amor

Falta amor, falta amor, falta

E a vezes falta amor, falta amor, falta amor

eh, eh, eh, ah, ah, ah.

(Tradução de Falta Amor - Maná)

Não é a minha praia escrever algo depois de ouvir uma canção, mas esta mexe com minhas estruturas pela minha história com o Serviço Social – não este técnico, imbecil, treinado para não ajudar – e sim o que de fato se preocupa com as pessoas, que corre atrás de tudo o que se torna impossível para ajudar quem precisa mais.

Sou muito agradecida por meus próprios problemas pois sempre pude ver as pessoas realmente carentes com olhos mais humanos e sempre que pude – às vezes, sem poder – estendi a mão, mas não fazia. Ensinei sim muitas pessoas pescarem seus próprios peixes, mas aprendi que antes de enviá-las com seus anzóis, temos obrigação de alimentá-las para que consigam chegar ao rio.

Em meu trabalho, foram longos os anos e grandes as lutas, mas vi muita gente que se quer sabia pegar numa caneta sair de uma Unidade Escolar por mim dirigida, pronta para enfrentar uma Universidade. Não me importa as muitas vezes que meu trabalho deu em água, acumulo em minha memória apenas as vitórias – os fracassos guardo como experiências.

Vi muitas crianças raquíticas, e seus pais famintos adentrarem minha sala de trabalho, esquecidos pela Constituição que lhes garante alimento,casa e segurança apenas em belas letras e, tempos depois os vir voltar à minha mesa, solicitando desligamento dos programas, por estarem prontos física e mentalmente para enfrentar a vida com suas próprias forças e, ao lado destes pais galhardos os filhos corados e fortes, que agora tinham forças para enfrentar uma escola comum.

O Governo e a mídia tenta nos convencer de que as pessoas carentes não existem e sim que estamos cercados por parasitas que se fingem de necessitados para não trabalhar. Esta é sem sombra de dúvida uma das maiores mentiras que nossos governantes nos prega.

A responsabilidade para com os cidadãos é do Estado, mas ele abre mão disto, em todos os seus níveis e, joga para debaixo do tapete estas pessoas extremamente carentes que, muitas vezes nem ao menos saem de suas casas a procura de pão. Já sabem que serão rechaçados como párias da sociedade, seres imprestáveis, pois é esta a nossa Cultura do empurrar com a barriga que aderimos sem ver incentivados que fomos pelos nossos governantes. Eles sim corruptos parasitas que roubam da Saúde, da Educação e da Segurança, porque eles podem pagar estes serviços de forma privada com o dinheiro surrupiado dos trabalhadores nos 1/3 que estão acostumado a levar nos grandes projetos, além da roubalheira dos impostos – que pelo nome mesmo já diz, nos desce a goela abaixo por obrigação – mas que nada nos trazem de benefícios.

Muitas crianças de rua não tem pais ou responsáveis e ali estão jogados sem amor e apoio e, alguns nem mesmo os traficantes querem apadrinhar. Estão jogadas à própria sorte, correndo riscos maiores que a indignidade das drogas, vitimados pela pedofilia de seres que não estão nas ruas, mas que ali vão procurando uma criança sem direitos e sem defensores e os maltrata no pouco que lhes sobra, muitas vezes sem ao menos darem-lhe um pedaço de pão.

Meu coração geme frente a estas dores, frente a pessoas vítimas de profissionais que deveriam defendê-las, mas que alegam que isto é apenas a seleção natural, no final sobrevivem os fortes, dizem eles, mas na verdade, que se perpetua são os endinheirados.

Sempre me vi como as que precisam e nunca como os que oprimem, mas na maioria das vezes, as pessoas não querem ser iguais os que nada possuem, então se juntam aos opressores, mesmo dizendo que o problema não é seu. Ora, é bom que saibamos que existem apenas dois lados apenas, os dos excluídos e dos opressores, se me nego a dar minha parcela de ajuda por quaisquer que sejam os “motivos justo”, estou me unindo aos que maltratam.

Sei que não adianta irmos contra estes governos que se perpetuam, mudando de cara e não de caráter, mas podemos aproveitar o que sabemos para ajudar quem precisa. O pouco que você pode fazer pode mudar a vida de uma pessoa e quando interferimos para o bem em uma vida, mudamos as que a cercam.

Como o Maná afirma nesta canção, falta amor. Falta amor no coração de quem assiste a isto tudo sem sentir dor, sem estender a mão, sem exigir que algo seja feito. Infelizmente as pessoas só sabem amar seus semelhantes quando eles possuem algo para lhes oferecer, quando este próximo precisa de algo que eles possuem, ai a coisa muda de figura e responsabilizar a vítima por sua situação é algo natural. Bem, na verdade não. Na verdade culpar as vítimas é cultural. Está enraizado em nossa cultura hipócrita esta ideia de que as vítimas procuraram esta situação.

Só o amor pode mudar esta situação, na África, na Ásia e sabe mais aonde, mas, principalmente em nosso quintal, crianças em nosso país morrem todos os dias e ninguém fala nada, nem mesmo é notícia.

Você aí me diz com clareza quantas crianças de rua foram notícia por óbito nestes últimos meses? Mas elas morreram. E seus corpos foram jogados nos lixões públicos, mas muitos nem se importam, afinal aqueles imundos seres emporcalhavam a cidade.

Falta amor e talvez esta falta comece mesmo em mim.

Elisabeth Lorena Alves
Enviado por Elisabeth Lorena Alves em 31/03/2012
Código do texto: T3587255
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