A RAZÃO E OS PSEUDO-ERUDITOS DE PLANTÃO

Desde muito cedo me despertou o interesse pelo estudo da Filosofia e da Teologia. A primeira influência, sem dúvida alguma, me veio por ter sido batizado com o nome de um filósofo grego, a segunda porque descendo de uma das famílias alemãs que apoiaram a Reforma Protestante de Lutero no início do século XVI, e foi precursora do luteranismo em nosso país.

Recentemente em meus estudos madrugada adentro, estava matutando sobre a “oração da serenidade” de autoria do teólogo Niebuhr*, e percebi o quanto ela é plena em premissas filosóficas e virtudes essenciais para adquirir o equilíbrio e a harmonia necessárias para enfrentar nosso turbulento cotidiano (serenidade, aceitação, coragem e sabedoria).

“Concedei-me, Senhor, a serenidade necessária para aceitar as coisas que não posso modificar, coragem para modificar aquelas que posso e sabedoria para distinguir umas das outras”.

A maioria das pessoas, que talvez nunca se atentaram para essa simples oração, passam a maior parte de suas vidas em um conflito banal contra as coisas que não têm o poder de modificar, resignadas de forma pacífica àquelas que poderiam mudar e pior, sem nunca tentar descobrir quais àquelas que de fato teriam capacidade de transformar.

Teologia a parte, essa também é uma postura filosófica que denota um sentimento crônico de culpa e de dúvidas sobre si próprio. Ao contrário do que muitos pensam, a filosofia tem implicações e conseqüências práticas.

Às vezes me deparo com pseudo-eruditos que conhecendo a filosofia tardiamente – porque foram obrigados a estudar alguns clássicos para defender suas teses na seara acadêmica – se esquecem da prática e ficam vagando somente no mundo das idéias, eivados de um orgulho bestial, como se fossem as únicas criaturas pensantes em nosso meio.

Como pode alguém formar um conceito de ‘erro’, uma vez que é ignorante quanto ao que seja de fato correto? Mesmo o mais racional dos filósofos, no final de sua vida terrena vai chegar à conclusão de que nem tudo que é bom para si poderia ser bom para outrem, a realidade é primaz e não é um mero objeto de sua escolha e decisão. O universo existe independentemente da sua visão do que seja certo ou errado.

Somente através da consciência se consegue perceber a realidade, conhecer o que existe. Esse conhecimento da realidade é fruto de um exercício constante do “olhar para fora de si”. Através da retórica aprimoramos a capacidade de usar a linguagem para evocar as emoções e sentimentos, por meio dela suscitamos a ação.

Não se pode confundir a retórica com a lógica. A função da lógica é o convencimento pela racionalidade, enquanto que a da retórica é a de instigar nossas ações, que no fundo são as nossas emoções. Por isso tenho que admitir a afirmativa de alguns pensadores, de que uma retórica sem lógica é vazia, da mesma forma que uma lógica sem retórica será ineficaz para nos levar a agir. Ambas, retórica e lógica têm que andar ladeadas e de forma equilibrada.

A vida como ser racional é marcada pela razão, é através dela que definimos o código de valores que irá determinar nossa conduta. O falso erudito cria um código com base em seu auto-interesse racional (egoísmo), todo cuidado é pouco com essa espécie ‘intelectual’.

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*Karl Paul Reinhold Niebuhr. Teólogo e Pastor protestante estadudinense (*1892 +1971), filho do pastor evangélico alemão Gustav Niebuhr, da Igreja da União Prussiana, de raízes Luterana. Seu pensamento influenciou outros protestantes de peso como Martin Luther King.