Família: caminho de libertação

Compulsando tudo o que se leu nesse anos todos sobre o agrupamento humano, vemos que "família" é uma expressão que subentende encontro, afeto, acolhida e convivência:

“Aquele pessoal se dá admiravelmente... são como uma família”!

No entanto, se nota por aí , pelas trilhas de história, a existência de famílias com diversos modos e feitios de atuação. A família de Noé, por exemplo, após o dilúvio não quis se ater às ordens de Deus, teimando em fechar-se numa “torre de Babel”. O Senhor desceu e confundiu-lhes a língua, para que desistissem daquela idéia reducionista.

Lá, tal como hoje, também havia famílias fechas em si mesmo, de pessoas que só visavam seus interesses e objetivos. A família fechada, como o povo de Babel, tem seus membros falando línguas diferentes, tornando impossível a comunicação, a interação e a solução dos conflitos. O fechamento de um grupo familiar depõe contra o amor, a fé e qualquer tentativa de adesão ao projeto de Deus.

Pela fé os membros da família aderem à graça que Deus generosamente lhes oferece. Fé, entretanto, às vezes, fica num simples e incipiente gesto de acreditar. Por isso é recomendável, em lugar de “fé em Jesus” pura e simples, ir-se além: “viver a fé em Jesus”. É uma questão de coerência. Os ateus e adversários não nos acusam por sermos cristãos, mas, pelo contrário, de não o seguirmos, de o trairmos adotando, muitas vezes, aquelas posturas dos fariseus, que o Mestre tanto criticou (cf. Mt 23, 1-16).

Como se pode observar existem famílias e famílias. A família de Adão e Eva, cujo fruto foi a desobediência, onde Caim Matou Abel é diferente da de José e Maria, cujo fruto é o amor, onde Jesus salvou a humanidade. A primeira família é sinônimo de fracasso; a outra é sinal de libertação.

Para que o mundo funcione como uma sociedade de amor, são necessários aqueles mesmos valores vividos pela família de Nazaré. A oração, o trabalho, a atividade educadora da família, a disponibilidade ao serviço, podem mudar sistemas injustos por participação e acolhida.

No mundo moderno é difícil viver os critérios de Deus: homens são assassinados, pais de família despedidos em nome de mais lucro, mães morrem de parto, crianças morrem de fome... Será que Herodes venceu? Será que o dragão conseguiu impor seu projeto?

Quantas vezes, em nossas cidades, notamos que o egoísmo e o consumo são a tônica que rege a vida de certos grupos que se autoproclamam família, onde marido e mulher, pais e filhos vivem mais num clima de “torre de Babel” do que do lar de Nazaré. Para alguns, os bens materiais tentam contrabalançar o carinho que se esqueceram de dar. Para outros, a convivência supre as necessidades e dificuldades do mundo atual.