VAI LIBERAR!! - A Polêmica Diamba (reedit.)

Como tudo o que diz respeito à sociedade é polêmico, com a maconha e sua descriminalização, não poderia ser diferente. Várias vertentes sociais se posicionaram da mais variadas formas, menos o governo que ainda não achou a fórmula correta para lucrar com isso. Pensa-se em adotar padrões europeus de regulamentação de uso, como porte limitado, algo em torno de dois "fininhos", pensa-se em coibir seu uso em locais públicos, pensa-se em campanhas elucidadoras quanto ao teor alucinógeno, aos males a saúde física e mental, dizem que seu uso deixa "burro e brocha". Quem vai dar os esclarecimentos quanto a esse pormenor eu não sei. A classe médica pode falar sobre o perigo da impotência, já sobre as "viagens" talvez em fim tenham encontrado um modo de fazer o "Fernandinho" trabalhar, com conhecimento de causa, já que em setores fora dos muros das penitenciárias, ninguém nunca usou ou nunca viu.

Uma coisa é certa o governo consegue ganhar muito com os cigarros, apesar da voraz concorrência paraguaia, também lucra absurdos com o álcool que consegue ser mais barato no bar, onde vicia e mata, do que nas bombas de combustível. O álcool inclusive merece "menção honrosa", por ser uma droga de fácil acesso, de alto poder degenerativo, irremediavelmente letal, não só para os que consomem em longo prazo, como para o efeito instantâneo que causa, tanto em quem ingere e dirige, como para quem saí às ruas para uma inocente caminhada. As estatísticas são alarmantes, e devo dizer que enquanto se discute a regulamentação do "finório", pessoas embriagam-se, matam transeuntes, espancam companheiras, asfixiam bebês, ateiam fogo a suas casas, afogam a razão e subvertem o juízo.

Não é minha intenção fazer apologia ao uso de qualquer tipo de droga e sua disseminação indiscriminada, porém, não me lembro de reportagens recorrentes que façam uma ligação relevante entre crimes e maconha, nem que descrevam perfil sedicioso em usuários, muito pelo contrário se há alguma relação entre os dois o "mérito" é todo da força policial que se alimenta das conveniências, mantendo manipulando e extorquindo.

"Boca de fumo", uma expressão que soa até nostálgica, elas não existem mais, os traficantes diversificaram os "negócios", perceberam que o "pretinho" não dá lucro, não induz a desregro, nem a surtos psicóticos que possam desencadear violência. Em alguns países, como a Índia e o Nepal, sua prática é livre como rito de religiosidade, alguns "Sadus" recebem inclusive ajuda de custo para manter o seu uso, nos países nórdicos o comercio é controlado pelo próprio governo, na Holanda, por exemplo, pode se comprar em locais especializados, sendo uso restrito a lugares definidos e livres na maioria dos ambientes e nem por isso a população entrou em uma era de colapso, sodomia, pilhagem ou iniqüidade. Os indicies absolutos de violência são baixos e muitas vezes relacionados ao uso de álcool e entorpecentes químicos.

Ayahuasca é um chá natural, concentrado e extremamente alucinógeno, que faz parte dos rituais do Santo Daime, provoca reações orgânicas muito fortes, passando por vômitos, dores de cabeça até aumento de pressão arterial, já foram registrados casos de óbitos que poderiam ter sido causados por sua ingestão e nem por isso se discute sua criminalidade.

Alguns argumentos mais conservadores dão conta de que o povo não esteja preparado para isso, o que não é nenhuma novidade, nosso povo nunca está preparado para o advento de novas tendências pela própria letargia administrativa de seus ilustres caudilhos, para citar alguns exemplos vejamos a lei de dosagem alcoólica, lei de cotas, lei de maior idade eleitoral, lei contra homofobia, lei Maria da Penha, lei da ficha limpa, as bolsas disso e daquilo, etc... quantas destas leis funcionam efetivamente? Nenhuma! Vivemos em um país onde o menor é legalmente inimputável, mas participa do processo que legisla e governa.

Quando vagueio pelas ruas da Doca, numa sexta à noite, não encontro lugar para estacionar, nem mesas disponíveis nos bares, ou seja, toda a população sabe que pode beber e dirigir sem que seja aporrinhada, assim não há povo que leve a sério nenhuma legislação. Enfim, quando o assunto é a "diamba" o que se enxerga é um estereótipo formatado há tempos onde o nome assusta, preferimos ter filhos alcoólatras que "maconheiros", o rótulo é muito importante, tanto que se define como "maconheiro" o filho do vizinho, o meu no máximo é "usuário", é a velha história "meu filho tem uma orientação sexual diferente, mas o do vizinho é um viadinho".

Temos que erradicar essa conduta hipócrita do faz de contas, onde eles fingem que legislam e nós fingimos que cumprimos as leis. O sistema foi criado antropofágico, engorda com a indolência de uns e a ousadia de outros, não se tem interesse em orientar, custa caro e não dá votos, é melhor criar subterfúgios para que as leis sejam descumpridas, instituindo sem muitos atropelos o devorador fundo de campanha para um novo pleito e a vertiginosa ascensão econômica, que o caracteriza.

Descriminalizar o uso, não significa liberar o tráfico, muito pelo contrário se aumentaria o controle sobre o produto, mapeando seu destino final. Em pouco tempo, com uma regulamentação responsável, a naturalidade do procedimento não causará mais todo esse frisson e as listas de compras terão um item a mais.

Du Valle

Anderson Du Valle
Enviado por Anderson Du Valle em 31/05/2012
Reeditado em 31/05/2012
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